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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Tavira - as Salinas





Quem cumpriu parte do serviço militar em Tavira, sabe bem o que são as salinas.

Ao tempo nada tinham a ver com a linda foto que hoje apresentamos no nosso Blog.

Eram as salinas um dos meios que a "tropa" dispunha para "treinar" e "mentalizar" todos o que se preparavam para cumprir o serviço militar, na sua grande maioria a caminho da guerra de África.

A aplicação militar, em cuja parte do treino cabiam como obrigatórios, em todos os quartéis, exercicios que pela sua envergadura, estilo e dificuldade, serviam para moldar o corpo, mas acima de tudo o espírito ás grandes dificuldades que se iam deparar ao militares quando no terreno do próprio confronto na guerra.

As "salinas" de então, na sua grande maioria abandonadas, cheias de restos do esgoto da cidade, inundas de toda a casta de porcarias, estavam aí mesmo a jeito para a aplicação militar - flecções, cambalhotas em frente e à rectaguarda, luta corpo a corpo, etc. Em cada semana, pelo menos durante uma manhã, as salinas, com o seu cheiro nauseabundo e a sua lama preta que só com a pressão de uma agulheta poderia ser lavada dos nossos corpos, aí estavam à nossa espera. O corpo e a farda, para a higiene, esperariam ainda à chegada ao quartel do CISMI bastante tempo até que houvesse água suficiente para a sua limpesa e higiene. Por este tempo em 1968, agua em Tavira era como que encontrar agulha em palheiro. Quando de fim de semana, porque estas "visitas" às salinas, normalmente funcionavam ao sábado pela manhã, traziamos para casa aquele cheiro pérfido entranhado por todo o corpo.

Quando não era nas salinas, a aplicação militar fazia-se no campo da Atalaia, ali, paredes meias com o Quartel.

Vista do Quartel

Atalaia era o campo onde era feita a feira semanal. Pode adivinhar-se, pois na altura ainda havia feiras com gado, a porcaria que ficava espalhada por todo aquele terreiro de pó e de escrementos de animais.

Porta de Armas

Era assim que se treinavam os militares em Tavira.

Este que vos escreve, passou ao lado de Tavira. Por mais de 20 anos. Sem lá por os pés ou parar, pois foram tantas as saudades que aqueles meses que por lá passei me deixaram.

Posterior companheiro de trabalho e grande amigo meu, falecido e a cujo funeral não fui por coincidir com a nossa confraternização na Póvoa do Varzim, cumpriu a promessa que então quando por lá passou jurou: só ia a Tavira quando no campo da Atalaia houvesse flores. Nunca lá voltou.

Tavira, sempre foi uma bonita cidade. Uma cidade, segundo diziam na altura, seria a que no nosso país teria mais igrejas e capelas. Tem um rio com três nomes, tem as Quatro Águas, onde tambem muitas vezes, no lodo do rio faziamos a mesma aplicação militar, e tem uma ilha, hoje maravilhosa ao que sei.

Naquele tempo, para a grande maioria dos militares que por lá estiveram, apenas a queriam ver pelas costas.

4 comentários:

Anónimo disse...

Felicito-o por ter trazido aqui os seus tempos do CISMI. Quem por lá andou sabe bem do que fala. Também por lá andei - incorporação de Janeiro de 68 - 4.ª Companhia. As salinas eram o terror. Íamos, naturalmente, sem a G3 - ainda que um alferes, que queria ser mais papista do que o papa, tenha feito a aventura de lá levar o pelotão com as armas. Levou uma grande sarabanda do comandante da Companhia, para gáudio dos instruendos!
Depois andei também por Angola e participei no 1.º Agrupamento Siroco.

Anónimo disse...

Também por lá andei, de 09 de Janeiro a meados de Outubro de 1969.
Na 4ª Compª. e 2ª Companhia- Armas pesadas. Após a especialidade desempenhando o papel de Sargº. de tiro na 2ª Compª.
Sei bem o que foi aquele inferno. Tal como o último comentador também passei mais de 30 anos sem voltar àquela cidade.
Não fui para Angola, para onde estava mobilizado, porque a TP me atacou e fui parar ao hospital em meados de Novembro. Como era hábito a minha doença não foi considerada adquirida em serviço.
No dia que fomos às salinas não levamos as G3 mas quando voltámos com elas ao ombro o lôdo das n/fardas também se pegou nelas.
Nesse dia quando fomos ao duche tivemos a surpresa de ter a água cortada, correndo tipo fio de azeite o que nos deu um tratamento psicológico do melhor.
Saudades daqueles tempos nenhuns.

Zau Évua-Tomboco-Lufico-Quiximba-Quiende disse...

Sobre Tavira, estive popr lá entre Julho e Dezembro de 1968 - era assim mesmo. Para esquecer a aplicação militar ana Atalaia e nas salinas. Bras Gonçalves

Anónimo disse...

Sou o autor do primeiro comentário. Peço desculpa por não ter assinado: Carlos Cordeiro.
Fui então camarada de recruta na 4.ª Companhia do segundo comentador. Nunca se sabe se não estivemos no mesmo pelotão.
Um abraço,
Carlos Cordeiro