Visualizações

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Retalhos

Ainda em tempos do IAO nas matas do Pinhal do Rei, Fonte da Telha, recordar mais uma pequena situação que ocorreu.
Nada de especial mas tem a ver com as vacinas que todos nós éramos obrigar a carregar dentro no nosso "esqueleto" antes de tomar a passagem no meio de transporte que nos iria levar às portas da guerra - o Campo Militar do Grafanil em Luanda.
E assim foi, num corropio todos fomos injectados com as ditas, ali mesmo naquela varanda sobranceira das arribas da Fonte da Telha, com uma linda vista para as praias que desde a Cova do Vapor pinta de areia branca a orla marítima até ao Cabo Espichel, passando pela abertura ao Atlântico da Lagoa de Albufeira.
Aí foi, no Posto de Vigia da antiga Guarda Fiscal, que ainda hoje lá existe, que nos furaram a pela e a carne introduzindo no organismo algo que nos poderia proteger de algumas doenças que pelas paragens de Angola nos podiam atacar como se nossos inimigos fossem.
Da mesma forma, a belíssima e saborosa alimentação era fornecida por uma empresa de "catering" pertença do Ministério do Exército que assentou arraiais num "palacete", também ele sobre as arribas e com uma natural vista para o Atlântico, onde estava instalada uma bateria de Artilharia de Costa.
Era assim que nos preparavam para aquela que seria uma viagem de "férias" de dois anos, com certeza de ida e na incerteza do regresso

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Fonte da Telha - IAO -Retalhos

Passada  a noite de S João a caminho da mata dos Medos  que fica sobranceira e  sobre as arribas da Praia da Fonte da Telha, local que me era familiar, pois em tempos de menino e moço, por várias vezes por ali passava a caminho da Lagoa de Albufeira, então propriedade privada.
As idas para aquela zona davam-se igualmente,  no tempo da caça fazendo companhia a meu pai, na caça às galinholas, ave de arribação, hoje quase desaparecida.
Para a Fonte da Telha, acompanhei muitas vezes o Luis Laraia, peixeiro de burro e canastros, naquele tempo.
Ia comprar o peixe directamente aos pescadores quando regressavam da faina por volta da meia noite, uma, duas da manhã. Carapau, sardinha, massacote, cavala e  cação.
O regresso, como a ida era feito a pé, pois o burro, estava carregado e  o regresso era longo. Não me recordo do nome do burrico, mas este  sabia bem o caminho de casa, quando a venda do peixe acabava e o Luis Laraia ficava nesta ou naquela tasca a apanhar a sua valente bebedeira.  Soltava-se da arreata e lá ia sozinho para casa à espera de algo para lhe alimentar o corpo.
Aquela mata dos Medos, era minha conhecida, desde há muito, pois foram inúmeras vezes que a caminho da Lagoa de Albufeira, por lá passei, tendo como transporte uma camioneta de carga, adaptada a transporte colectivo de passageiros com uns bancos de madeira. Fazia parte da logística do camião, umas enormes varas de eucalipto que se colocavam debaixo das rodas traseiras, quando esta se atascava no imenso areal que era a "picada" que servia de caminho.  Naquela tempo, por ali apenas passavam os camiões que traziam feixes de lenha de pinheiro que era vendida para os fornos a lenha de cozer o pão. Assim era.
Isto serviu apenas para comentar uma recordação que hoje avivou a minha memória, quando numa peixaria me lembrei de comprar uns carapaus pequenos, brancos, frescos e acabados de pescar naquela noite. Vinham ainda acompanhados de algas e de pilado.  Teriam sido pescados aqui bem perto da capital, talvez até na Fonte da Telha, pois por lá, ainda hoje se pesca.
Pois esses carapaus, vieram trazer a recordação de uma das noites quentes  que passamos no IAO, descendo as arribas, fomos, meia dúzia,  à Fonte da Telha à procura de algo para comer e beber.
Numa das tascas de então, com um pequeno fogareiro, fomos comendo uns carapaus assados no momento, regados com vinho ou cerveja.
Foi essa recordação que também avivou a memória desse momento. Os carapaus, grelhados, foram comidos ao jantar.
Da Fonte da Telha e daquela noite, fica a recordação do regresso ao acampamento, pela borda de água em amena cavaqueira e boa disposição.
Naquela noite o fantasma da ida para a Guerra teria ficado esquecido.

domingo, 24 de junho de 2012

A Guerra tambem era assim

 

Este, ficou logo à saída do Porto Brandão assim que começou a marcha a caminho da Fonte da Telha para os celebres dias de IAO


O Diogo foi quem nos contou a historia

Retalhos

Não foram muitas, mas já temos algumas reacções à nossa ideia de publicar a historia do BCAC2877.
Pelo meio, certamente que iremos receber alguns comentários, sendo também nossa intenção fazer a sua publicação.
Já o fizemos por diversas vezes, o pedido de nos remeterem os escritos com algumas recordações da nossa passagem por Angola.  Voltamos a fazer agora o mesmo pedido - mandem-nos o que quiserem, estaremos aqui para as publicar.

sábado, 23 de junho de 2012

S. João - retalhos

Era véspera de S. João.
Então, ainda mandava a tradição que se juntassem os mais jovens pelas aldeias e lugares deste país e se juntasse lenha para queimar nessa noite. Magotes de raparigas e rapazes juntavam-se para convencionarem com papel colorido, cola e cordel, os enfeites para adornar os locais onde se comemoravam os Santos Populares.  As fogueiras nas ruas eram então obrigatórias e a tradição de saltar sobre as enormes chamas para, bem na tradição pagã de afastar os maus espíritos, não faltavam.
Era véspera de S. João. No Porto Brandão e em Setúbal, a tropa ali aquartelada, já com o destino marcado com a sua viagem de ida marcada para a Região Militar de Angola, preparava-se para o seu primeiro contacto com a “mata”, desta vez, por enquanto, ainda na Metrópole.
Ao começo da noite, tropa em marcha. Em passo cadenciado, como convém, o Comando do Batalhão, a CCS e as Companhias CCAC2541 e CCAC 2543 iniciaram o seu caminho para “guerra”.
 Esta guerra desenrola-se no Pinhal do Medos, no Pinhal do Rei, ali por cima da então e actual Praia da Fonte da Telha.  Foi dada a esta preparação para a guerra o pomposo nome de “Instrução de Adaptação Operacional”, um pomposo nome que se ficava, na sua simplicidade pela sigla - IAO. A
partir de então iriamos verificar que a tropa gostava de simplificar muitos nomes e conceitos, transformando-os em siglas.
Para véspera de S. João e naquele tempo a tradição mantinha-se e pelos diversos lugares por onde fomos passando as fogueiras estavam acesas e a tradição cumpria-se com música e o arraial.
O percurso entre o Porto Brandão e a Mata do Pinhal do Rei ainda é longo e o pessoal sentiu o peso da farda e do equipamento, sentiu ainda mais o enorme peso da agonia, do medo, da incerteza no futuro, da falta de conhecimento da “guerra” e das suas consequências. Esses sabores amargos passaram todos e por todos os que fizerem essa primeira caminhada ao encontro da guerra.  Esta porém, ainda era a brincar.
Com a CCAC2542 que se encontrava em Setúbal terá acontecido o mesmo.
Já era dia de S. João quando chegámos pela primeira vez e á primeira guerra.
Estávamos em 1969.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Historia da Unidade - I

                                                  INTRODUÇÂO

Para além do gozo do entretenimento que dá a feitura do blog, temos no fundo dos nossos pensamentos a transmissão de valores e sentimentos que nos ficaram como recordação da Guerra de África.    Ainda era mos muito jovens quando da invasão do Estado da Índia pelas tropas da União Indiana e a entrega daqueles territórios aquele país, sem condições.
     A humilhação que os militares portugueses sofreram fruto da política colonial Portuguesa de então e que se manteve ate ao 25 de Abril de 1974.
    Não faltou muito tempo para que os acontecimentos ocorridos em Luanda, nos viessem a chamar a atenção para o que o futuro poderia reservar a Portugal face à sua política ultramarina preconizada e mantida em África ao contrário do que já vinha acontecendo com todas as outras potências europeias colonizadoras.
    As mentes duras deste país não quiseram acreditar que os ventos da história estavam a mudar e que, como sempre acontece aos "impérios", este tem sempre o seu fim.
    Passava um Carnaval no lugar onde nasci, quando uma patrulha da GNR veio "arregimentar" um amigo meu, bem mais velho, que embora estando a cumprir serviço militar, estava de licença. Não teve mais tempo que voltar a casa e pegar nos seus pertences militares e rumar a um aeroporto que desconheço qual e embarcar para Angola. Foi um dos primeiros amigos que passaram pela Guerra de África. Regressou, felizmente, são e salvo e sem mazelas físicas passados tempos.
    Aí, embora ainda não pensando o que me poderia acontecer, ficou gravado no meu intimo, o que algum tempo mais tarde me poderia acontecer.
    Pela minha família, entretanto já tinha passado a hipótese de um irmão mais velho, oito anos, ter rumado à Índia.
    Tal não aconteceu, mas por pouco.
    O local onde vivia era propício a manifestações operárias e políticas. Na própria escola que frequentava, já se indiciavam movimentos estudantis contra o Ministério da Educação. A politização dos alunos, era apesar de tudo muito pouca. Notava-se apenas que a grande maioria era contra, acima de tudo contra a MP, a Mocidade Portuguesa, a "bufaria" como então lhe chamávamos.
    Na verdade, a Guerra de África, lá continuou e no pensamento de quem tinha ainda alguns anos para ser incorporado nas forças armadas, sedimentava-se a hipótese de fugir à Guerra.
    Uns emigravam. Por essa altura o fluxo das idas para França e Alemanha era enorme – era o "bidonville" em França. Muitos o fizeram, mas a grande maioria por cá ficou e a ida para África foi o seu destino na flor da vida, o "futuro".
    Nós já tínhamos o conhecimento do que se tinha passado no Congo Belga e o regresso de alguns amigos da nossa família que para lá tinham emigrado, ainda nos despertaram mais a atenção dos perigos que em todos os territórios de África estava a acontecer, em especial a luta que os africanos estavam a travar com os europeus.
    Outros ficavam na esperança de ficarem livres, inventando todas as possíveis artimanhas e cunhas para se safarem.
    Na maioria dos casos, após a inspecção militar que se dava aos 20 anos, trazia-se na papeleta a indicação – aprovado para todo o serviço militar. A sorte estava lançada.
    O futuro era na grande maioria dos casos, o alistamento no Exército.
    

Historia da Unidade

Vamos tentar compilar os elementos que temos disponíveis para dar  " à estampa" a história do BCAC2877 desde a sua formação até à sua chegada a Lisboa.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Festas da Senhora da Hora - Fontes das Sete Bicas


Deixamos aqui ficar uma breve resenha das Festas em complemento da nossa anterior mensagem, pois quando a escrevemos ficamos com a dúvida sobre a data habitual da sua realização. Ficou agora esclarecida a data, pois sempre tivemos a certeza de que não seroa tão próxima dos santos populares - nessa data já tinhamos "ancorado" no Porto Brandão.
Recordamos uma cantiga muito antiga que diz algo parecido com isto:

"Se queres casar
Anda meu amor
à fonte comigo...


 Aqui se menciona a tradição dos milagres da Fonte das Sete Bicas
"A Festa da Senhora da Hora celebra a Ascensão de Nossa Senhora numa 5ª feira, quarenta dias após a Páscoa. No domingo anterior há a Comunhão Solene e, no seguinte, uma procissão de velas. Na 5ª feira, dia maior, há missas na Igreja Nova e na Capela da Senhora da Hora, autêntica relíquia patrimonial sediada no simbólico Parque das Sete Bicas e palco das cerimónias de maior solenidade e fé. Diante da imagem da Santa milhares de pessoas assistem fervorosamente à missa e pagam as suas promessas. Contudo, a festa prossegue. Entre barracas de louça e de farturas, carrosséis e pistas de automóveis, exposições, ranchos folclóricos e tunas vive-se a alegria da festa. Mas, ninguém resiste à tentação de formular um desejo e beber água da Fonte das Sete Bicas."

Senhora da Hora

Em baixo, foto da porta de armas do antigo Regimento de Infantaria 6 - no Porto na Estrada da Circunvalação, próximo da Senhora da Hora, hoje Regimento de Transmissões.
Está a fazer anos que recebi a habitual guia de marcha para a entrega na CP para o bilhete de comboio que me haveria de trazer até ao Porto Brandão.
Sobre a nossa passagem no Porto Brandão, vou ter oportunidade de voltar a falar oportunamente.
Agora quero apenas lembrar o que se passava mais ou menos por esta data dos Santos Populares por aquelas bandas da Senhora da Hora.
Por lá haveria e talvez continue a haver umas festas anuais, muito populares e que levavam aquelas paragens muita gente.  Muito militares, não só do RI 6 mas de outras unidades militares do Porto.
Por aqueles tempos terá havido algum receio de haver confusão e balbúrdia onde os militares pudessem dar a sua contribuição.
Assim, o RI6 mandava para a festa uma patrulha de polícia com um Cabo Miliciano e 2 praças para em caso de necessidade, manter a ordem público dos militares.
E assim era.
Todos os dias durante as festas, a seguir a um lauto jantar, lá iam os 3 militares, feitos polícias para a festa.
Apresentavam-se ao Oficial de Dia e recebiam as instruções da praxe.
Recordo que por uma ou duas vezes me calhou em rifa fazer tal serviço.
Antes da ida ao Oficial de Dia, recebiam-se as instruções do Cabo Miliciano que por tinha andado antes de nós e assim se procedia.
Lá saiam os três militares pela porta da traseira do quartel que ficava relativamente perto do local onde  o arraial estava montado Era por essa mesma porta que se voltava a entrar quando acabava a ronda, por volta da meia noite ou uma da madrugada.
o Oficial de Dia que me calhou foi bem explicito - confusões nenhumas, calma e descontracção.
Outra coisa ou pouco se podia fazer, pois todos levávamos apenas pistola e sem munições. Apenas servia de ornamento e não se justificava que assim não fosse
E assim fiz.
Com as instruções dos anteriores camaradas, fiquei a saber onde se encontrava a barraca de feira que servia a preço especial umas  boas iguarias, regadas com cerveja ou vinho verde tinto que eu ainda hoje aprecio.
Uma volta pela feira para ver o ambiente e apreciar as garotas e lá apancávamos os três "polícias militares" na barraca de comes e bebes e por aí ficávamos até à hora do regresso ao quartel.  As instruções eram de que se nada houvesse a registar, não acordarmos o Oficial de Dia.  Assim sempre se procedeu.  Não me recordo de alguma vez ter havido qualquer problema com os militares.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Na Guerra tambem há disto

As histórias passadas na Guerra, são sempre muitas.  Umas de rir, outras de chorar.
A sorte acompanhou o BCAC2877 durante o tempo que por lá andou a pisar as picadas e a desbravar aquele imenso mar de capim que nascia a olhos vistos.
Esta que agora vou tentar passar a escrito tem a ver com praticamente a data da nossa chegada a esse imenso deserto de humanidade a    que se chamou Zau Évua e que penso que só foi criado para colocar num "Tarrafal Angolano" todos os que lá foram parar.
Não tinham passado muitos dias da nossa chegada à capital do BCAC2877 quando eis que, isto era no princio da noite, ainda aquele lusco fusco não deixava que o breu das noites africanas ocultassem a claridade e a imensa estepe que circundava o aquartelamento se transformasse numa imensa escuridão. se ouvem umas rajadas de G3.
Gerou-se o alvoroço natural de quem chega à "guerra" e se depara com um presumível ataque dos "turras". Reboliço, movimento de pessoal dentro do arame farpado e de vez em quando lá se ouvia mais uns tiros.
A minha primeira preocupação foi procurar o meu "chefe" que era na altura o Ten Cor Matias, talvez ainda Major na altura.
Eis que o encontro na messe de oficiais, com a sua habitual calma, a que eu próprio me fui habituando, jogando sozinho um qualquer jogo de cartas.  Fez-me sinal, para esperar, para ter calma.  Assim fiz.
O tiroteio passou, tudo voltou à normalidade, segui-se o jantar e a vida continuou.
Os comentários surgiram sobre o que teria acontecido - nada mais nada menos que umas pacaças ou burros do matos que foram pastar para a pista de aterragem e terão sido os reflexos dos seus olhos que chamaram a atenção do sentinela que estava de vigia na torre da porta de armas, brilhando ao longe.
Tudo teria acabado senão tivesse acontecido um daqueles episódios caricatos, próprios destas ocasiões.
Então o que foi?
O Silva, furriel Cripto, pegou na espingarda, nas cartucheiras e capacete ( o nosso conhecido penico) e lá  foi à procura de que precisasse de ajuda para a defesa do quartel.
Até aí tudo bem.
Só que se esqueceu de calçar a botas e lá continuou de sandálias de enfiar no dedo.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Regimento de Infantaria 6 - Porto

Para alem de outras lembranças trazidas à memória pelo dia de Santo António que hoje se comemora, recordamos aqui a nossa passagem pelo RI 6 - Porto.
O exercito sempre teve a faculdade de nos começar a mentalizar para a ida à guerra, mesmo muito antes do nosso ingresso nos serviço militar.  Depois da inspecção, sempre se ficava uns tempos à espera da incorporação. Depois finalmente tal acontecia.
Para que vivia na periferia de Lisboa, foi normal ter sido colocado em Tavira a  trezentos e tantos quilómetros de casa. Por seis meses, pois foi a recruta e a especialidade.
Nada melhor que continuar nas Caldas da Rainha, mais cento e tantos quilómetros de distância.
Como se isso não bastasse, em Março de 1969 passamos a fazer parte da equipa do RI 6 que preparava mais uma fornada de militares para a Guerra de África, por aí ficamos até ao inicio de Junho, onde finalmente chegamos ao Porto Brandão, ali na margem sul do Tejo, num antigo quartel que serviu de poiso a uma bateria de artilharia anti-aérea que servia de protecção a Lisboa.
Voltando ao RI 6, que tem como base esta nossa mensagem, pois foi aí que tivemos contacto com muitos dos companheiros   com quem fizemos a viagem para África.
No RI 6 era dada a instrução aos soldados, muitos deles que chegaram a pertencer ao PELREC, alguns cabos milicianos que seguiram connosco no BCAC2877 e até um aspirante miliciano sapador que desertou antes do embarque.
Foi um companheiro que perdemos a partir dai o seu rasto.
Numa noitada pelas ruas do Porto em que ele nos acompanhou, todos bebidos de alguma forma, algures num jardim do Porto, a caminho do quartel e em horas tardias, sacou dum pedaço de papel que tinha sido uma das toalhas que cobriram uma das mesas duma tasca por onde passámos, e sentado sobre o encosto dum banco de jardim recitou um enorme e bem urdido poema.
Foi o último contacto com aquele camarada.
Foi chamado para Lamego, como era hábito na altura, para uma especialização em minas e armadilhas e de lá não voltou mais à tropa. Desertou

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Passos Coelho esqueceu-se dos antigos combatentes

Os combatentes, enquanto tal, vivos ou mortos, tem que merecer o respeito e a consideração do Estado ou da Nação que honraram  com o seu labor, com as cores do seu uniforme e com a força da sua arma.  Vencidos ou derrotados, merecem o mesmo respeito. Aliados ou inimigos igualmente tem que merecer o respeito de cada uma das partes que se defrontaram.  Mesmo no terreno do inimigo e passados tantos anos depois da guerra ter acabado, uns e outros merecem igual consideração. Não se percebe o esquecimento de Passos Coelho e de Paulo Portas que  sendo muito mais "nacionalista" que o Primeiro Ministro, nem sequer se manifestou em actos e muito menos em palavras.  https://www.facebook.com/zauevua.angola

Passos Coelho em Moçambique

Esqueceu-se dos combatentes  portugueses que morreram e estão sepultados em Moçambique
Email recebido e que a ser verdade, este menino não mereceu outra coisa que ser denunciado pela actitude.
"
Passos Coelho em Moçambique
UMA VERGONHA…
Vejam a carta (e-mail) de Luís Bento, ex-combatente, depois da foto.
Uma vergonha o que estes fulanos do Governo fizeram e fazem...
Mais uma vez os nossos ex-combatentes foram humilhados e IGNORADOS !!!
Recado para o Sr. Coelho de Massamá e restante séquito governamental.
Fui um dos Portugueses que votou em si para Primeiro-Ministro de Portugal.
Estou desiludido com V.Exa.
Não se pense porque me tirou na reforma ou porque está dificultando brutalmente a vida dos Portugueses.
Nada disso!
Isso são "situações" que terá de resolver, para tanto candidatou-se, voluntariamente, a essa tarefa.
Sabia para o que ia!
Cumpra!
Acabo de ler algures que V.Exa. depositou, em Maputo, um ramo (coroa) de flores em homenagem aos guerrilheiros da independência de Moçambique, especialmente a Josina Machel.
É verdade?
Muito bem!!
Como sabe em Maputo há dois cemitérios com militares Portugueses mortos em combate, que dignificaram as suas vidas morrendo em defesa da Pátria Portuguesa.
Pensou, durante um brevíssimo segundo, neles?
Referiu essa efeméride?
Esqueceu-se?
Ou teve respeitos humanos?
Colocou uma simbólica rosa em memória desses seus compatriotas?
Preocupou-se em saber a indignidade que revelam as suas campas? (CEMITÉRIO COMPLETAMENTE ABANDONADO)
Claro, que não!
Estou envergonhado perante a memória desses meus ex-camaradas militares, com a sua atitude (ou falta dela), Senhor Primeiro-Ministro!
Estou certo que Portugal lamenta !
Não esqueceremos V.Exa(?) na hora da próxima votação.
Luís Bento
ESTES MENINOS QUE NEM À TROPA FORAM NÃO SABEM O QUE SIGNIFICA A PALAVRA PATRIOTISMO."

quinta-feira, 7 de junho de 2012

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Natal e Páscoa na Guerra

Para quem não tinha fonte de inspiração filosófica uma qualquer religião, mesmo longe dos seus entes mais queridos e  da sua santa terrinha como se costuma dizer, a passagem pela guerra e por África, nada acrescentou ou diminuiu aos seus sentimentos.
Nos últimos dias tenho voltado a ler algumas passagens do livro "Zau Évua terra de ninguém sitio de vivências" escrito pelo nosso antigo companheiro da CCAC105  que esteve em Zau Évua um ano depois da nossa saída onde relata a passagem destas datas, adornadas com os conhecimentos da matéria e muito bem bem explicadas
Aí em diversas passagens daquele livro faz referências às datas festivas - Natal e Páscoa.
Recordo que por essas festas, quando o capelão se encontrava em Zau Évua certamente que os ofícios religiosos que a cada uma daquelas datas correspondia, eram oficiados.
Lembro bem as ceias de Natal onde se juntava toda a tropa e o manjar era o nosso conhecido  bacalhau cozido, que vinha da Metrópole em embalagens de zinco envolvidas em caixotes de madeira, condimentado com cal para não se estragar.
Pela Páscoa, não tenho memória, talvez porque já passaram tantos anos e a memória já começa a esgotar-se, que tenha havido alguma comemoração especial, para além da missa.
Talvez um rancho um pouco melhorado no Domingo, com carne de burro do mato ou pacaça.  Mas, nada disso era novidade, porque essa ementa à base da carne de caça era afinal a do nosso dia a dia.
A Guerra também embrutece a alma e o alimento do espírito, nessas datas e nesse tempo, ficaram muito para trás.