A última emboscada no Ultramar
Vários especialistas defendem que os antigos combatentes no Ultramar devem ser rastreados à hepatite C, pois podem estar contaminados com este vírus que é assintomático e muitas vezes só se revela quando "é tarde demais".
Em declarações à agência Lusa, a presidente da associação "SOS Hepatites", Emília Rodrigues, disse à agência Lusa que o apelo ao teste à hepatite C é uma das principais mensagens que a organização pretende difundir desde ontem, Dia Mundial das Hepatites.Aos ex-combatentes do Ultramar, esse rastreio é "imprescindível", afirmou, acrescentando que estes homens foram vacinados [antes de ir para a guerra] com a mesma seringa, que é uma das formas de contágio do vírus."Bastava um soldado estar infectado com a hepatite C para contaminar todos os outros que foram vacinados através da mesma seringa", explicou.O hepatologista e secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Rui Tato Marinho, também defende o rastreio e acrescenta outros comportamentos que podem ter contribuído para a infecção destes soldados."Muitos soldados receberam transfusões de sangue em virtude dos ferimentos de que foram vítimas e podem ter sido contaminados com o vírus da hepatite C", disse à Lusa.Só a partir de 1992 é que passou a ser obrigatório o teste à hepatite C no sangue utilizado para transfusões, pelo que as pessoas que receberam produtos derivados de sangue devem fazer o rastreio, lembrou o especialista, numa opinião corroborada pela presidente da "SOS Hepatites".Rui Tato Marinho acrescentou que as tatuagens eram muito populares na altura, como memória dos tempos de soldados, e podem igualmente ter contribuído para a infecção.O hepatologista vai mais longe ao recordar outros comportamentos que podem ter promovido a infecção, como a partilha de lâminas de barbear ou tratamentos dentários.A hepatite C é uma inflamação do fígado provocada por um vírus, que pode levar a casos de falência hepática, cirrose e cancro. O vírus transmite-se por via sanguínea e, embora raramente, por via sexual.Em Portugal, estima-se que existam 150 mil pessoas infectadas com este vírus, embora apenas 10 mil saibam que contraíram a doença.Actualmente, a toxicodependência é o principal comportamento de risco para a transmissão da hepatite C, devido à partilha de material (seringas, agulhas e recipientes).Contudo, as tatuagens e os pircings realizados sem condições de segurança também podem ser fonte de contaminação, assim como as relações sexuais desprotegidas.Rui Tato Marinho defende o rastreio generalizado, tal como a presidente da SOS Hepatites, para quem deve ser o utente a solicitar ao seu médico de família a realização do teste à hepatite C.Além da Hepatite C, existe a hepatite A - provocada por um vírus que é absorvido no aparelho digestivo e multiplica-se no fígado, causando neste órgão uma inflamação - e a hepatite B, que é a mais perigosa das hepatites e uma das principais doenças do mundo.Ao contrário da hepatite C, para a Hepatite A e B existem vacinas.No Dia Mundial das Hepatites, a associação "SOS Hepatites" vai iniciar uma semana de sensibilização para a doença, com algumas reivindicações no programa.Durante uma semana, vão estar na baixa de Lisboa vários elementos da associação a distribuir informação sobre a doença e preservativos.A iniciativa visa ainda recolher assinaturas para levar o Governo a reforçar a vacinação da hepatite B - e não apenas nas crianças, como acontece actualmente graças ao Programa Nacional de Vacinação (PNV).A "SOS Hepatites" congratula-se com a troca de seringas nas prisões e defende mesmo o alargamento da iniciativa a outros sectores.O apelo ao teste é a principal mensagem a difundir no Dia Mundial das Hepatites, em Portugal e no resto do mundo.O cantor irlandês Bob Geldof, conhecido igualmente pela mobilização contra a fome através da música, é o rosto do Dia Mundial das Hepatites e mostra-se, por isso, "orgulhoso".Para o músico que pôs o mundo a cantar a uma só voz contra a fome em África, a existência de milhões de pessoas que nem sequer sabem que estão infectados é "inaceitável"."Faz o teste", apela o cantor irlandês e principal alma do espectáculo de solidariedade mundial "Live Aid", na sua mensagem a propósito da efeméride.Segundo a Associação Europeia para o Estudo do Fígado, as hepatites B e C matam anualmente um milhão de pessoas em todo o mundo.A hepatite C afecta mais de 180 milhões de pessoas em todo o mundo, enquanto a hepatite B afecta aproximadamente 350 milhões de pessoas a nível mundial.
1 comentário:
Por lapso não indicamos a origem deste texto - Jornal A União.
As nossas desculpas
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