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terça-feira, 24 de abril de 2018

Confraternização de 2018


Convém ter em conta o seguinte:

Local próximo de auto-estrada
Preços da ementa com ou sem bolo aniversário
Número de lugares entre 100 e 120
Saber antecipadamente quantos os presentes
Tipo de reserva a fazer e com que antecedência
etc, etc.


E Depois do Adeus - Paulo de Carvalho


 Entre muitas outras canções foi o autor de E Depois do Adeus, tema interpretado por Paulo de Carvalho



Sete vidas são as que vivi até agora. E 70 os anos que espero completar em Setembro próximo. Antes de percorrer convosco os sete caminhos desta saga de andarilho, deixem-me proclamar que estou agradecido à vida. A verdade é que a vida me correu bem, tive sorte, encontrei a mulher certa, tenho três filhos que só sabem dar alegria aos pais, tive até a felicidade de viver o 25 de Abril de 1974. Quase tudo o que me aconteceu não foram coisas que perseguisse, ou que correspondessem a projectos de vida.
À excepção da minha mulher e da opção pela Medicina, tudo o resto veio ter comigo, paulatinamente enriqueceu e comandando a minha vida. Nunca me passou pela cabeça ser deputado, ou director de programas da RTP, ou escrever cerca de 300 canções, ou estar dois anos numa guerra. Por tudo isto agradeço à vida o que me deu. Não tenho livro de reclamações a não ser para lutar pelos direitos dos pobres, dos humildes e para que haja mais justiça e solidariedade em Portugal.
Comecemos então pelo princípio. Em 16 de Setembro de 1938 fui nascer a Lisboa, na Maternidade Alfredo da Costa, mas rapidamente regressei a Portalegre onde o meu pai era engenheiro da Junta Autónoma das Estradas. Primeiro filho, primeiro neto e primeiro sobrinho de tias e tios solteiros, a minha chegada ao mundo fez de mim um pequeno príncipe. Cedo, muito cedo, me apaixonei pela vida no campo. A apanha da azeitona e dos figos. As vindimas, as ceifas e as debulhas em Campo Maior, na eira do meu avô, onde comia gaspacho fresquinho com os ganhões, nos dias tórridos de Agosto.
Aos 6 anos mudámo-nos para Santarém, onde fui matriculado na 1ª classe da escola do Salvador.
Aos 7 fiz o meu primeiro discurso político! D. Adélia, a minha professora, tinha-me escolhido para falar na inauguração da nova escola de S. Bento, onde botariam discurso as figuras gradas da política local. Convinha que um menino animasse a cerimónia. Li uma folhinha escrita pela professora (que a minha mãe guardou).
Saí-me bem, mas não fazia ideia do que tinha dito. Muitos anos depois a minha mãe mostrou-me a tal folhinha. Seria difícil tecer maiores elogios a Salazar! Depois foi o Liceu. No exame do 2º ano dispensei das provas orais. O único, entre mais de 1 200 alunos de todo o distrito.
O meu pai ofereceume uma linda bicicleta e eu lá ia pedalando à volta do Liceu, enquanto os outros faziam as orais.
Mais ou menos por essa altura, com uns 12 anos, fui a um baile no Clube de Santarém e conheci uma loirinha de olhos azuis, muito bonita e muito tímida. Mal sabíamos então o que aquele encontro iria significar nas nossas vidas. Aos 14 anos comecei a tocar guitarra, aprendendo por discos de 78 rotações de Artur Paredes.
Santarém tinha uma sólida e saudável tradição académica, naturalmente de matriz coimbrã. E foi por isso que escolhi Coimbra para estudar Medicina, uma das melhores opções da minha vida. Para além de Medicina aprendi coisas que moldaram a minha forma de ver as coisas, a democracia, e conheci amigos de uma geração até hoje não repetida.
Em 31 de Dezembro de 1960 o dia do assalto ao quartel de Beja o meu pai morreu inesperadamente.
Tive de suspender os estudos durante três anos para tratar dos negócios da casa. Foram tempos difíceis para os quais não estava preparado.
Em 1966 concluí o curso e três meses depois casei-me com a tal loirinha de olhos azuis, que entretanto se tinha transformado numa das mulheres mais bonitas que conheci.
Ficámos a residir em Coimbra onde nasceu a nossa primeira filha. Apaixonei-me pela Psiquiatria e fiz a tese de licenciatura sobre esquizofrenia.
Em 1969 fui mobilizado para a Guerra Colonial, em Angola, como alferes-médico.
Dois anos nas matas, muitas canções escritas e um alto louvor militar por actos médicos.
No regresso, em 1971, optei por ficar a residir em Lisboa. Trabalhava à tarde como director de produção da editora Arnaldo Trindade (Zeca, Adriano, Paulo de Carvalho, Mário Viegas, etc.) e de manhã no Hospital Miguel Bombarda.
O 25 de Abril foi um dia em que o tempo parou para que a felicidade durasse mais tempo. Soube entretanto que E depois do adeus tinha servido de senha musical para que Salgueiro Maia e os outros capitães de Abril saíssem dos quartéis.
Foram assim minhas as primeiras palavras dessa histórica noite. Filiei-me no PS de Santarém, sem qualquer propósito de ser candidato à Assembleia Constituinte e, muito menos, deputado eleito.
Mas foi o que aconteceu.
Deixei em suspenso o Hospital e a Psiquiatria, convencido de que, uma vez aprovada a Constituição, para lá voltaria. Seria uma coisa de meses... Mas, afinal, foram muitos anos parlamentares, interrompidos por duas passagens pela área do tratamento das toxicodependências, uma delas de dez anos, e outras duas pela RTP, primeiro como director de programas e depois como membro da Administração. Em 2002 aposentei-me da função pública e adquiri um novo e excelente estatuto: nem horários, nem patrões.
O único cargo que actualmente exerço é o de presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.
Televisão - Ser director de programas e administrador da RTP foram experiências exaltantes.
O poder e a responsabilidade de decidir que programas Portugal iria ver (ainda não existiam TV's privadas) era um grande peso diário sobre os meus ombros. Em 1977 não tinha qualquer experiência de televisão, mas tinha uma ideia de qual deveria ser o papel de uma televisão de serviço público. Desse período fi caram programas históricos como Gabriela a primeira telenovela apresentada em Portugal A visita da Cornélia e A Feira, programas culturais como Se bem me lembro, de Vitorino Nemésio, Música e Silêncio, de António Vitorino de Almeida, Melomania, de João de Freitas Branco. Ou, para os mais novos, Peço a Palavra, de Mário Viegas, Heidi ou Os Marretas.
Em 1978 fui obrigado a pedir a demissão quando percebi que estava em curso uma manobra para colocar na cúpula da RTP pessoas da confiança política e pessoal de Ramalho Eanes, então Presidente da República. Regressei em 1983.
E desses quase dois anos, ficaram séries como O Tal Canal, do Herman José, Palavras Ditas, do Mário Viegas, a telenovela Chuva na Areia, Viva a Cultura, do António Mega Ferreira, Jogos sem Fronteiras, o Concurso 1, 2, 3, do Carlos Cruz, Mátria, da Natália Correia, etc. Penso, no entanto, que o melhor que deixei na RTP foi a recuperação do seu arquivo, salvo de uma inundação (1978) e transferido, em três dias, para as instalações onde ainda hoje está.
Política - Tudo começou nos tempos de liceu. A insuportável Mocidade Portuguesa, os contínuos informadores da PIDE. Mas também, em contraponto, a quase clandestinidade conspirativa do Cine-Clube. Logo que cheguei a Coimbra tive o meu baptismo de fogo com uma carga da GNR, por causa de um protesto estudandil contra o decreto 40.900, que retirava autonomia à Universidade.
A PIDE inaugurou a minha ficha em 1961, ano em que muitas coisas decisivas aconteceram em Portugal. Em Coimbra a minha luta contra o regime foi sobretudo feita através da música, com José Afonso, Adriano, no Jazz, ou no teatro académico (CITAC) com música para peças que acabavam sempre proibidas.
Em 1974, o 25 de Abril inverteu finalmente a ordem anormal das coisas. A campanha eleitoral para a Constituinte foi a mais exaltante experiência política da minha vida. Cheguei a iniciar, com a Maria Barroso, um comício em Constância, às 3 da manhã! Estive 15 anos no Parlamento, presidi a várias comissões, apresentei algumas leis de minha iniciativa. Cumpri também dois mandatos no Conselho da Europa. Hoje olho para a Assembleia da República com algum desencanto: melhoraram as gravatas, mas rareiam as ideias.
Música - O meu bisavô José Niza foi um excelente compositor erudito e director de orquestra. O meu avô João Niza tocava flauta. E a minha mãe, piano. A música era uma espécie de oxigénio que se respirava lá em casa. Durante o Liceu comecei a aprender guitarra. Depois, em Coimbra, foi o fado, acompanhando Luiz Goes, Machado Soares, Zeca Afonso. Com o Zeca e o Adriano foram as baladas líricas e depois a canção de intervenção.
E ainda o Jazz. Como não sabia escrever música, só comecei a compôr quando apareceram os gravadores de cassetes. A maior parte das minhas cerca de 300 canções filas no final dos anos 60 e na década de 70, para vozes como Adriano, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Carlos Mendes, etc. Mais recentemente, para Mísia e Kátia Guerreiro.
Ganhei quatro Festivais RTP da Canção, um recorde que divido com Ary dos Santos. Um deles, com E depois do adeus, a primeira senha musical do 25 de Abril
PS. O José Carlos de Vasconcelos foi claro e taxativo - máximo 9.000 caracteres! Como já os gastei, não há mais papel para escrever sobre a Guerra Colonial, a Psiquiatria e outras vidas que vivi. Dommage



Faleceu,  aos 75 anos, o músico, em Lisboa, o músico, letrista, médico e ex-deputado socialista José Niza. Entre muitas outras canções foi o autor de E Depois do Adeus, tema interpretado por Paulo de Carvalho. Republicamos acima a 'autobiografia' que escreveu para o JL

segunda-feira, 23 de abril de 2018

BCAC2832 em Tomboco e Zau Évua

Divisa: "Excelente e Valoroso"

Partida: Embarque em 04 de Janeiro de 1968 (NTT "Vera Cruz"); desembarque em 13 de Janeiro de 1968
Regresso: Embarque em 03Mar70 (NTT "Uíge")
Síntese da Actividade Operacional
O BCaç foi inicialmente destinado ao subsector de Tomboco, no Sector F, da ZIN, onde rendeu o BCaç 1903, tendo assumido a responsabilidade da ZA em 28Jan68.

O dispositivo adoptado foi o seguinte: Comando, CCS e CCaç 2308 em Tomboco, a CCaç 2306 em Lufico, a CCaç 2307 em Zau-Évua.

Como reforços, o BCaç dispôs da CArt 1658 em Quiaia e da CArt 1700 em Quiende, esta substituída em Jun69 pela CCaç 2530.

A partir de 25Jun68, em virtude duma remodelação de dispositivo, o Comando e CCS deslocaram-se para Zau-Évua, uma vez que Tomboco deixou de pertencer à ZA; por idêntico motivo, a CArt 1658 deixou de reforçar o BCaç e a CCaç 2308 rodou para Quiximba. Em 01Jul68, passou esta ZA a designar-se por subsector de Zau-Évua.

O In utilizava a ZA como passagem para a zona fulcral dos Dembos. Todavia, manifestou-se com alguns grupos numerosos e bem armados, montando fortes emboscadas às NT, no terreno ou a colunas auto, como no dia 09Ago68, em Buene, onde causou às NT sensíveis baixas. Em 05Set68, montou nova emboscada na estrada Lufico-Tomboco, na região de Fumanzi, com cerca de 200 elementos In, fortemente armados e municiados, que provocaram às NT muito graves baixas; em qualquer das acções mencionadas, a reacção causou ao In baixas igualmente graves. Refere-se ainda a eficaz e rápida reacção a outro ataque In em 28Abr69, que frustou o propósito propagandístico traduzido na presença de jornalistas e cineastas, que acabaram por constatar uma precipitada fuga, com baixas.
Para lá de intensos e permanentes patrulhamentos, emboscadas e escoltas, o BCaç construiu os aquartelamentos de Quiximba e Zau-Évua, abriu inúmeras picadas construiu pontões e instalou novos povoados, com populações apresentadas em Quiende e Quiximba.
De 21Jul a 08Ago69, o BCaç foi rendido pelo BCaç 2877, deslocando-se para o sector de Malanje, onde rendeu o BCaç 1919, tendo assumido a responsabilidade da ZA em 08Ago69. Na cidade de Malanje aquartelaram o Comando e CCS; asCCaç 2306, 2307 e 2308 ocuparam respectivamente Nova Gaia, Forte República e Marimba; como reforços, o BCaç recebeu a CCaç 2335 em Malanje, a CCaç 1102/RI 20 (GN) em Quela e a CArt 2337 em Luquembo, além de alguns grupos de GE.
A ameaça de infiltrações levava a constante acção de vigilância e patrulhamentos de contacto com as populações. Todavia nesta ZA, onde o In não se manifestava, foi obtido êxito contra uma coluna que atravessava o sector desde a Lunda para os Dembos; com efeito, essa coluna foi totalmente eliminada na operação "Carnaval", tendo sido capturadas 19 armas automáticas, das quais 2 ML, 1 LGFog, dezenas de granadas e minas de todos os tipos e milhares de cartuchos para armas ligeiras, para além de volumoso e variado material sanitário e de intendência.

Em 26Fev70 o BCaç foi rendido pelo BCaç 2859.
atalhão de Caçadores 2832

Identificação: BCaç 2832

Unidade Mobilizadora: RI 2 - Abrantes

Comandante: Tenente-Coronel de Infantaria Pedro Barcelos

2.º Comandante: Major de Infantaria Élio Pires Afreixo

Oficial de Informações e Operações Adjunto: Major de Infantaria Luís dos Santos Rafael

Comandantes de Companhia:

Companhia de Comando e Serviços (CCS):

Capitão do Serviço Geral do Exército José Mateus Cardoso

Companhia de Caçadores 2306 (CCac2306):

Capitão de Infantaria José Augusto Serra Pinto

Capitão de Infantaria António Augusto Pinto da Cunha Leal

Capitão de Infantaria José Augusto Serra Pínto

Companhia de Caçadores 2307 (CCac2307):

Capitão de Infantaria António Augusto Pinto da Cunha Leal

Capitão de Infantaria Manuel Estevão Martinho da Silva Rolão

Capitão de Infantaria António Augusto Pinto da Cunha Leal

Companhia de Caçadores 2308 (CCac2308):

Capitão Mil.º de Artilharia Fernando Manuel de Lemos Campeão Silveira

sexta-feira, 20 de abril de 2018

José Niza andou por aqui

 

COMO NASCEU UM DISCO

 

Esta é a capa do LP "Fala do Homem Nascido", etiquete "Orfeu", edição de Arnaldo Trindade & Cª., Lda, Porto. Novembro 1972.

Um belíssimo disco da música portuguesa, um disco de referência.

 

Poemas de António Gedeão

Músicas de José Niza

Interpretações de Tonicha, Samuel, Carlos Mendes, Duarte Mendes.

Arranjos e Direcção de Orquestra de José Calvário

Gravação de orquestra nos estúdios Celada (Madrid) por Pepe Fernandez, Enrique Rielo e Vinader.

Gravação de vozes nos estúdios Polyson (Lisboa)

Produção de José Niza

Arranjo gráfico de Beatriz Morais Alçada

Fotografias de Álvaro João

 

José Niza conta:

 

"Zau Évua (Norte de Angola).

Abril-Maio de 1970.

 

O correio da guerra trouxe um livro. "Poesias Completas", de António Gedeão. "Para musicar. Um abraço. Cambezes". Quase automático. Gedeão é um dos poetas mais musicais (musicáveis) da língua portuguesa. E a sua poesia, minha velha amiga. Esses poemas, a angústia, o estar aqui, a viola, as noites, os estilhaços de um povo, o torniquete equatorial, a medicina artesanal, o resto, tudo tornaram fácil. Tão fácil, como sentir o arame farpado rasgando a pele dos sentidos. Tudo tomou, também, um repentino sentido. Não eram poemas isolados, mas uma história, o que estava ali escrito. E a história, e a poesia, eram demasiado belas para que a música as estragasse. Havia o Homem. Havia uma história. Havia um palco: a Vida. Eu daria apenas um pouco de música e um pouco de ordem. Mas, o importante, era o Homem. Mesmo à dimensão de uma rodela negra, num rodopio de 33 voltas por minuto.

 

Do início ("numa qualquer manhã, um qualquer ser, / vindo de qualquer pai, / acorda e vai, / como se cumprisse um dever") até "vestidos de surrobeco / e acocorados no chão", vai um salto de 20 séculos. Um drama em tempo de LP. Um disco pensado alto. Este o esquema, o funil, o encurralar da ovelha. Sob uma macieira de plástico, o homem nascido-em-qualquer-parte diz donde vem e o que quer:

 

"Venho da terra assombrada

 do ventre da minha mãe;

não pretendo roubar nada

nem fazer mal a ninguém".

Mas avisa:

 

"Não há poder que me vença

 mesmo morto hei-de passar".

 

Assim começa a fala do homem nascido. O pior é que o mundo não é o que devia ser. Há o desencanto do desencontro. O diálogo não passa de monólogo. As palavras são, apenas, sons. Para isto, mais vale "morrer atolado / na mais negra solidão". (A esta indiferença, a esta fácil aceitação da fatalidade, chamava Roger Vaillant, em "La Loi", "se portugalizer"). No entanto, nem tudo está, ainda, perdido. Acredita-se, mesmo por detrás da angústia, das contradições e de um quotidiano feito de misérias e esperanças, que "todo o tempo é de poesia". Há uma dinâmica permanente entre "bombas que deflagram / corolas que se desdobram / corpos que em sangue soçobram / vidas que a amar se consagram". O Homem acaba por ganhar o desafio, palmo a palmo, dia a dia, calo a calo: "Tenho sofrido poesia... / dói esta corda vibrante / a corda que o barco prende... / se vem onda que a levante / vem logo outra que a distende / não tem descanso jamais". Uma vitória adiada. Um volte-face do disco, um percurso do geral para o particular. Entramos em Portugal.

 

Todo um (saudável) culto do passado, construído sobre um saudosismo que ainda dói – "Poema da Malta das Naus" – é, a um tempo, homenagem, crítica e incitamento ao Homem Português de ontem e de hoje. O marinheiro quinhentista "moldou as chaves do mundo", mas toda essa epopeia teve (e tem) o seu preço, o preço trágico de uma "lágrima de preta". Este o drama dos descendentes da malta das naus: a ciência diz-lhes que a lágrima não tem "nem sinais de negro / nem vestígios de ódio". Mas... e daí? De que vale a ciência da análise, se o Homem Nascido não está preparado para a aceitar? Bastará a ciência ao Homem para que ele se humanize? Filipe II (que aqui se cognomina de Manuel I) tinha tudo, tudo! "Mas o que ele não tinha / era um fecho éclair". É isto que dói ao Homem Nascido: o não ter coisas tão aparentemente simples e possíveis como um fecho éclair. Jamais a felicidade completa. Sobretudo por ser conseguida à custa da felicidade dos outros. "Lágrima de Preta" é o primeiro poema que, no disco, se dirige à mulher.

 

A Mulher Portuguesa, mulher em vias de desenvolvimento, é hoje, talvez, o exemplo recente de uma nova forma de alienação. Ao fazer-se uma (demagógica) promoção da mulher, inaugura-se um moderno processo de a escravizar: a escravidão pelo trabalho desumanizado. E escravidão não só à dimensão da sociedade, mas na intimidade da sua própria vida (trabalho, casa, filhos, marido, trabalho... um ciclo vicioso infernal que uma vez iniciado não pode parar). "Calçada de Carriche" é um hino à escravidão da mulher-mártir, frágil máquina suburbana que o quotidiano da cidade suga. Mulher, máquina, máquina, que o vertiginoso e breve amor dos domingos evade para as auto-estradas, na doce ilusão de o novo mundo dos sentidos não ter segundas-feiras...
A evasão dá-se. "Leonor, Leonoreta, fuge, fuge, vai na asa de lambreta", com o único rumo de fugir a si própria, numa ilusória felicidade, fugaz como a paisagem que a lambreta rasga.

 


O cerco aperta-se. O Homem torna-se cada vez mais circunscrito. De um trilião de homens passa-se para o grupo e, finalmente, para o indivíduo, para o homem concreto, com nome, residência e tudo. "Álvaro Góis / Rui Mamede / filhos de António Brandão / naturais de Cantanhede...". Eles vivem, existem, são. Em Braga ou em Olhão, no Alentejo ou na guerra, eles lá estão! "Vivos", "vestidos de surrobeco" e "acocorados no chão", eles estão em toda a parte. No chão, mas ainda vivos... Eis a "Fala do Homem Nascido"!

ELE nasceu numa qualquer manhã e não há poder que o vença. Mesmo morto há-de passar!

 

Lisboa, Novembro de 1972.

 

Dois anos e meio passados, o disco fez-se.

 

No caminho ficaram muitas ideias, entre as quais o entusiasmo de amigos como o Rui Ressureição e o Manolo Diaz, que, comigo em África, quiseram esperar por mim. Como muitas vezes acontece, novas oluções surgiram, entre as quais a que o talento e a inteligência  de José Calvário trouxeram a todo este trabalho.

Que António Gedeão me desculpe algumas amputações que fiz aos seus poemas, determinados por razões musicais

 

Que, dos erros que houver, me ataquem a mim.

 

P.S. – Para o Eduardo Cambezes;

           Para ouvir. Um abraço. Niza."

Filhos dos ex-combatentes também têm memórias da guerra

Os filhos dos ex-combatentes também têm memórias da guerra

Muitas famílias portuguesas têm baús de guerra. Lá dentro há álbuns de fotografias, cartas, estatuetas africanas e medalhas. Foi através destes objectos que os filhos dos ex-combatentes ouviram falar sobre a guerra colonial, pelo menos a parte das histórias que os pais lhes quiseram contar. Alguns, como Susana, quando cresceram ganharam curiosidade e perguntaram: "Pai, mataste alguém?" Outros, como Alexandra, tiveram medo da resposta e calaram-se. Por Catarina Gomes (texto) e Miguel Manso (fotografias)
Muitos pequenos-almoços eram assim, não havia canecas para beber leite nem pratos para pôr pão, à hora do jantar já se sabia que voltava a haver novos pratos e copos porque os pais tinham passado a tarde no Braz & Braz a comprá-los, como se bastasse voltar a ter louça para retomar a normalidade e esquecer que, na véspera, o pai tinha partido a casa toda, que tinha acordado a meio da noite "com gritos horríveis, suado, com um olhar que não consigo descrever" a brandir uma catana que tinha trazido da Guiné e a dizer à mulher e aos filhos pequenos "saiam de casa senão mato-vos a todos".
Eles vestiam-se à pressa e fugiam para onde fosse, para a rua, para casa de uma vizinha que já conhecia a rotina. "Amanhã isto passa-lhe."
"Passei a infância a fugir de casa. Não vivi infância de criança", diz Alexandra Penteado, de 37 anos. Ela tem memórias destas desde os três anos até ter uns 20. "O meu pós-guerra foi muito tempo."
Alexandra Penteado é filha de um ex-combatente da guerra colonial na Guiné com stress pós-traumático. Faz parte de uma geração a que uma investigação pioneira em Portugal chama "Filhos da guerra". "Esta é a minha história, há milhares. Somos adultos marcados por coisas que não vivemos."
Uma equipa de dez investigadores do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra foi falar não com os que combateram entre 1961 e 1974 em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, mas com os seus filhos, uma geração hoje com idades entre a casa dos 40 e a dos 20 anos. Foi perguntar-lhes pelas suas memórias de guerra.
Parece estranho que quem não viveu a guerra possa dela ter memórias, mas é isso que acontece. "Não a experienciaram, mas cresceram mergulhados em narrativas e objectos sobre a guerra vivida pela geração dos pais", explica a coordenadora do projecto, Margarida Calafate Ribeiro. Chama-lhes "pós-memórias", um conceito já usado noutros estudos para abordar realidades como a dos filhos dos sobreviventes do Holocausto, filhos de desaparecidos e presos políticos na ditadura da América Latina, pessoas marcadas por uma realidade que não vivenciaram.
Margarida Calafate Ribeiro explica que tudo começou com as mães. Quando fez um trabalho sobre mulheres que acompanharam os militares para a guerra percebeu que "a guerra é uma coisa de família, não é só de ex-combatentes". Percebeu que, no regresso a Portugal, enquanto os "pais viviam no silêncio, eram as mães que explicavam aos filhos por que é que o pai foi para a guerra, por que é que o pai rebentou com uma porta que não conseguia abrir, por que é que o pai fuma desenfreadamente, por que é que o pai durante anos se metia debaixo da cama quando ouvia um barulho. São coisas que aconteceram em casas portuguesas. Estamos a falar de homens que tiveram vidas normais, não estamos só a falar de casos de stress pós-traumático".

Fotografias e cartas

Durante a guerra colonial, houve cerca de um milhão de homens mobilizados para África. Quantos filhos cresceram a ouvir histórias dos pais? Explicações das mães? "Se forem dois filhos por casal podemos estar a falar de um terço da população portuguesa, é uma massa muito grande de gente", responde. Estima-se que 120 a 140 mil homens sofram de stress pós-traumático, estamos portanto a falar de cerca de 120 a 140 mil homens e respectivos filhos. A equipa do Centro de Estudos Sociais, que envolveu também psiquiatras, avaliou psicologicamente estes filhos da guerra e encontrou "valores mais elevados nas dimensões de negligência física e emocional nos que tinham pais com trauma".
Ao longo da investigação descobriram que, no meio de tantos percursos singulares, havia nas casas onde estes "filhos da guerra" cresceram objectos "arrumados no baú da guerra" e muitos eram comuns: do álbum de fotografias à correspondência para Portugal e aos objectos de artesanato local.
O álbum das fotos do tempo da guerra foi quase sempre a primeira porta de entrada dos filhos na realidade de guerra destes pais que, na maior parte dos casos, aconteceu antes de eles terem nascido. Para Paulo Peixoto, de 42 anos, filho de um ex-combatente em Angola, o álbum fotográfico assumiu na sua infância estatuto de brinquedo.
Hoje, já adulto, consegue reconhecer no álbum "uma selecção de momentos bons. Havia muitas fotografias de praia, do pai e dos amigos a jogar à bola, dele deitado no camião [era condutor], dele sentado em pilhas de cerveja. A única visão do inimigo é dele fardado ao lado de uma placa que diz zona de "turras", dele fardado no capim, como se estivesse a combater, para parecer real. Eram fotos encenadas", recorda Paulo Peixoto, professor universitário de Sociologia.
No meio do álbum estavam as cartas trocadas entre o pai e a mãe. Ele leu-as todas por volta dos 10 anos - o pai a contar o seu dia-a-dia. "Num dia a situação estava mais calma, noutro menos", havia menções a pessoas do pelotão - "ou será batalhão? Nunca sei" - que morriam, do receio das emboscadas e das minas, do desejo de voltar são e salvo a Portugal e poder casar com a minha mãe, que era madrinha de guerra dele." Eram excertos de "perigos potenciais" contados em jeito "de aventura". Eram cartas feitas para sossegar quem as recebia, não eram propriamente desabafos, conta.
Paulo Peixoto cresceu também envolto em objectos vindos desse local longínquo chamado África. Em criança "andava por casa uma catana de desbravar mato, quando a mãe se distraía brincava com ela, como o Sandokan". Chegaram a ser africanas "as cadeiras onde nos sentávamos, os tapetes que animavam as paredes com animais coloridos, as mantas e esculturas. Tínhamos a casa cheia disso". O tempo foi passando e a parafernália africana foi sendo arrumada. Na casa dos pais só restam hoje duas almofadas.
"Nunca vivi com a dimensão da morte, nunca nos foi passado isso. [O meu pai] nunca nos contou histórias de drama e de guerra." Parece que foram "umas férias", foi essa a impressão com que Susana Gaspar, actriz de 23 anos, ficou dos relatos do pai, que combateu em Angola. Tanto que, para ela, em criança, nem sequer era o álbum da guerra, "era o álbum da tropa", como se aquelas imagens fossem apenas de momentos de treino. Para ela, ir aos almoços dos ex-combatentes foi durante muito tempo como ir a convívios "de colegas de trabalho do meu pai". Só quando foi ficando mais velha foi reparando que nas fotos havia elementos estranhos que lhe diziam que aquilo não podia ser a tropa em Portugal. Havia macacos, o pai "a dançar com as pretinhas", o pai a fumar e a beber e palavras desenhadas com balas.
O pai de Susana Gaspar "é reservado" e ela foi sendo apenas ouvinte desses relatos do que pareciam ter sido tempos bem passados na juventude. "Desconfiava que não tinham sido bem férias", até que decidiu explorar o tema com mais dois filhos de ex-combatentes no projecto teatral Ignara Guerra, que desenvolveu entre 2007 e 2009. O interesse em abordar o tema da guerra colonial de forma artística fê-la, pela primeira vez, ir ter com o pai e fazer-lhe perguntas, algumas que lhe custaram. Alguma vez tinha matado alguém? Ele respondeu que não. Teve medo? Ele respondeu que "teve mais medo dos jacarés do que do inimigo" e lá saiu a história do dia em que "ia num barco a fazer vigia nos rios e um colega foi atingido no braço, caiu ao rio e não morreu do tiro mas dos jacarés - ele assistiu. Foi com este episódio, arrancado a ferros, é que eu vi que não tinham sido férias".
"A maioria das recordações e narrativas de infância [dos filhos da guerra] são positivas", sublinha Margarida Calafate Ribeiro, algumas porque o foram, outras porque "foram transformadas em narrativas agradáveis" para poderem ser contadas aos filhos pequenos. A investigadora lembra a história de um ex-combatente que transformou o episódio de uma emboscada na Guiné num rio com crocodilos numa história de aventuras que contava ao filho antes de ele adormecer. "Havia uma pulseira de tornozelo que andava lá por casa e que o pai dizia que tinha sido encontrada na boca de um crocodilo", quando "a verdade é que devia ser de alguém que ficou sem perna".
Talvez seja verdade que, quando se é pequeno e corre tudo bem, 90 por cento do que aconteceu esquece-se, como diz Alexandra Penteado. É verdade que "o tempo elimina más recordações", nota Margarida Calafate Ribeiro, mas nestas histórias houve um trabalho de triagem. "O que passa mais para os filhos são as historinhas."
As histórias más, as verdadeiramente más, ficam por contar. Há memórias de guerra que não se partilham com os filhos, afirma a investigadora, há memórias que não se partilham com ninguém sem ser com os companheiros de guerra. Porque não dá para contar como foi a quem não viveu, disse-lhe um dia um ex-combatente. "Sabe o que é uma emboscada? É gente a fugir, cheiro a mijo, do medo da morte." Há coisas que só se contam aos companheiros.
Assim se explica a proliferação de convívios de ex-combatentes, nota a investigadora. "Os almoços têm função terapêutica." Há pais que levaram os filhos e, aqui, quando muito, "há histórias que os filhos foram apanhando".

Uma condecoração

Alexandra Penteado foi com a família a muitos destes convívios e havia sempre uma altura em que alguém subia ao palanque e contava uma história. Por norma eram engraçadas, como a do capitão "que rezava à santa e aos anjinhos" e era gozado pelos outros. Mas houve uma vez que rompeu com "o código de silêncio" entre ex-combatentes. Era a história de "uma guineense que trazia uma granada num cesto e ia entrar num café com militares. Um deles apercebeu-se e matou-a com um punhal". Alexandra Penteado tinha 14 anos quando ouvi essa história e recorda a incomodidade do momento, de caras que mostravam que o narrador "tinha ido longe de mais".
Ao contrário de Susana Gaspar, Alexandra nunca quis perguntar ao pai "mataste alguém?". "Há certas coisas que preferimos não ouvir. São nossos pais." Alexandra sabe que ele voltou "perturbado com algo que viu, que fez, que teve que fazer". A única vez que o viu chorar foi com uma imagem na televisão, "de um bebé guineense deitado junto a uma cabana". "Ele chorou, chorou." Ela nunca quis saber porquê. "A pós-memória envolve imaginação, reconstrução", explica Margarida Calafate Ribeiro.
O pai morreu de cancro do pulmão em 2002 e Alexandra herdou fotografias e uma condecoração, uma cruz de guerra que, explicou-lhe um amigo do pai, era só para "heróis". Quando uma vez falou disso ao pai ele só respondeu "pois, pois". Depois da sua morte foi encontrar a distinção por actos heróicos abandonada num saco plástico dentro de uma terrina decorativa. Era uma condecoração que ele queria esquecer, lembra Alexandra.
Bem sabe que é daqueles desejos que não servem para grande coisa, mas Alexandra gostava de ter conhecido o pai antes de ela própria ter nascido, em 1973, quando se dizia que era "alegre e brincalhão". Foi bom ver tanta gente no funeral, uma multidão. Foi a confirmação de que o pai era bom, devia ser bom, se ele fosse mesmo mau era sempre mau e não tinha amigos, não é? É assim que Alexandra dá sentido à vida que viveu com o pai que conheceu. "A pessoa que eu conheci tinha tatuagens dos fuzileiros, tinha um pavio curtíssimo, quando explodia era incontrolável e agressivo."
A equipa do Centro de Estudos Sociais não se quis ficar pelos filhos dos ex-combatentes e colocou também sob a identidade de filhos da guerra descendentes de homens dessa geração que não combateram na guerra colonial, o que incluiu filhos de homens que desertaram por opção política. "A maioria dessa geração divide-se entre os que foram à guerra e os que não foram. Era uma linha de corte que há 20 anos era decisiva, agora é mais esbatida", nota Margarida Calafate Ribeiro.

Como num filme
Se a vida de Pedro Branco, de 45 anos, fosse um filme os primeiros nove anos seriam falados em francês. O pai, o cantor José Mário Branco, teria uns 20 anos quando ficou apurado para o serviço militar. Fugiu para França e escapou à guerra colonial. A mãe, na altura com 17 anos, foi atrás dele. Pedro nasceu já em Paris, uma cidade onde voltou com 30 anos e à qual sentiu "uma ligação que não consigo explicar".
A sua vida começou em Paris por causa de uma guerra de que nunca ouviu falar, de que não tem imagens. "Para mim a guerra não existia." Por causa da ditadura que esteve na origem do conflito, Portugal foi para o Pedro criança um país onde só viviam os avós e que visitava sozinho porque os pais não podiam ir. Tem memórias dele próprio pequenino acompanhado por hospedeiras que lhe davam presentes. Quando tinha nove anos, dois meses depois do 25 de Abril, lembra-se de a família fazer a primeira viagem, num Citroën dois cavalos, e, depois de uma curva, lhe dizerem "ali é Portugal". "Era a primeira vez que vínhamos todos juntos."
Pedro tem quatro filhos, é professor do primeiro ciclo e reconhece que "sabe-se mais sobre o 25 de Abril do que sobre a guerra". Sabe que fugir, desertar, para muitos dos que lá combateram não é bem visto, mas afirma que "desertar pode ser um acto heróico" e é assim que entende a decisão do pai. Pedro Branco fala "nos que tiveram a coragem de não ir". Não sabe o que faria se ele próprio tivesse que escolher.
Durante a pesquisa do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e o Ministério da Defesa, foram entrevistados 232 filhos da guerra, entre filhos de ex-combatentes que voltaram sem mazelas psicológicas, filhos de pais com stress pós-traumático e filhos de pais que não combateram. "Demos sentido às memórias e apresentámo-los a uma identidade que desconheciam, a de filhos da guerra", conta Margarida Calafate Ribeiro.
Mas no início da recolha destas "pós-memórias" aconteceu o inesperado: quando iam para falar com os filhos, os pais sentiam aquela atenção como estranha, como quem diz - e às vezes diziam mesmo - "Então eu estive na guerra e vocês vêm falar com ele? Ele não sabe nada". Uma pequena equipa de investigadores viu-se assim em mãos com o trabalho a fazer com os filhos a multiplicar pelos pais (entrevistaram 103) e pelas mães (95). Há toda uma geração de ex-combatentes que ainda sente que não foi ouvida, nota a investigadora. "A guerra colonial ainda está mais no domínio privado do que no público."

In "   https://www.publico.pt/2011/03/21/jornal/os-filhos-dos--excombatentes-tambem-tem-memorias-da-guerra-21590299  "

quinta-feira, 19 de abril de 2018

EX-COMBATENTES RECEBEM PENSÃO

400 MIL EX-COMBATENTES RECEBEM EM SETEMBRO

A partir do próximo mês de Setembro, cerca de 400 mil antigos combatentes vão continuar a receber um complemento de pensão até ao fim da sua vida e transmissível aos cônjuges.
400 000 ex-combatentes com direito a esta pensão, são muitos os que sacrificaram a sua vida e a sua saúde.
Falemos também dos que perderam a vida que foram milhares
A pensão corresponde ao valor mensal de 3,5 por cento da pensão social (actualmente em 151,84 euros) por cada ano de combate e será paga anualmente, sempre em Setembro. Uma medida que vai custar ao Estado mais de 20 milhões de euros por ano. A informação foi avançada ontem pelo primeiro-ministro durante uma visita à Liga dos Combatentes. Durão Barroso explicou ontem, depois de elogiar “o esforço do ministro da Defesa”, quais são os benefícios que a já famosa Lei 9/2002, ontem regulamentada, dá aos ex-combatentes: “Todos os reformados portugueses, incluindo os da função pública e os trabalhadores rurais, que foram antigos combatentes mobilizados para os teatros de guerra no Ultramar, vão ter direito a um Complemento Especial de Pensão, a pagar em Setembro de cada ano, com carácter vitalício”. Na prática, isto significa que um ex-combatente, já pensionista, com um ano de combate no Ultramar, terá direito a 5,3 euros por mês, o que, a multiplicar por 14 meses , dá 74,2 euros. Se esse combatente esteve dois anos no Ultramar (situação mais comum) então recebe 148,4 euros por ano. Neste último caso, se o combatente tiver pago as contribuições referentes ao período militar terá um acréscimo vitalício, elevando a prestação para cerca de 152 euros. No Ministério da Defesa deram entrada cerca de 536 mil requerimentos e o Governo calcula que sejam contemplados cerca de 400 mil ex-combatentes. Relativamente aos antigos militares que ainda não estão reformados, Durão Barroso explicou que estes “poderão contar o tempo no Ultramar para o número de descontos necessários para ter acesso a uma pensão, ou para o número de anos de desconto necessários para antecipar a reforma”. Para não criar discriminações, e de acordo com Durão Barroso, fica também contemplado que os antigos combatentes que tiverem pago o encargo correspondente à bonificação de contagem e tempo, serão resarcidos através de uma compensação também ela vitalícia. Além de beneficiar nos mesmo termos os deficientes das Forças Armadas, Barroso referiu que está na Assembleia da República um diploma que alarga estes benefícios aos emigrantes e grupos profissionais com previdência especial, como é o caso dos solicitadores, advogados, ou jornalistas. Estes, segundo estimativas do Governo, deverão rondar cerca de 150 mil beneficiários. Durão Barroso fez notar que “para muitos reformados este valor significa, para além dos aumentos que se estão a verificar, mais um mês de pensão, como é o caso dos rurais”. Acrescentou ainda que “para muitos pensionistas, os que têm a pensão mínima e estão nestas condições, significa um aumento adicional de seis por cento, a partir deste ano e nos anos que se seguem”. TOME NOTA Os ex-combatentes reformados vão receber um complemento de reforma todos os meses de Setembro. O valor mensal é de 3,5% da pensão social por cada ano de serviço militar no Ultramar. O complemento é vitalício e extensível aos cônjuges e aumenta todos os anos em função da pensão social. Para os ex-combatentes no activo, o tempo de serviço militar conta para a reforma. Os contemplados com este complemento serão informados por carta
In: http://www.cmjornal.pt/politica/detalhe/400-mil-ex-combatentes-recebem-em-setembro

Ministério da Defesa muda de poiso

Ministério da Defesa muda para o Regimento de Lanceiros

Para que serve nos dias de hoje este “monstro”?
Artur Santos Silva vai presidir ao júri do concurso de ideias para a nova sede do Ministério da Defesa em Lisboa, entre os palácios de Belém e da Ajuda.
As instalações do Regimento de Lanceiros na Calçada da Ajuda, em Lisboa, vão ser a futura sede do Ministério da Defesa, anunciou esta terça-feira o titular da pasta, Azeredo Lopes.
Numa cerimónia em que participaram o ministro da Cultura e os chefes militares, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa elogiou a escolha como a "solução realista e possível" para renovar "um espaço sem vida" localizado na importante zona turística da cidade e entre os palácios de Belém e da Ajuda.
Fernando Medina, exprimindo o seu reconhecimento pela disponibilidade das Forças Armadas em colaborar com a autarquia no sentido de encontrar as melhores soluções para o desenvolvimento da cidade, adiantou que a nova sede do Ministério da Defesa vai reforçar o caráter multifuncional do bairro da Ajuda, que sendo zona turística consegue manter espaços residenciais, de serviços e de trabalho.
Azeredo Lopes destacou a importância da escolha do edifício construído há cerca de dois séculos para sede do futuro Campus da Defesa, desde logo por permitir mantê-lo na esfera pública, promove uma melhor gestão dos recursos financeiros e porque "favorece as sinergias" entre a área militar e a Cultura.
O ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, realçou a recuperação arquitetónica de um edifício situado num eixo da cidade marcado pela sua dimensão cultural e onde, a prazo, vai nascer também o Museu dos Tesouros Reais.
As dificuldades de adaptar o edifício onde está o Ministério da Defesa, no Restelo, bem como os elevados custos que comporta (na fatura energética, por exemplo) estão na base de uma decisão que permite concentrar igualmente outras estruturas espalhadas pela cidade, informou o gabinete.
O júri do concurso de ideias que está a ser ultimado pela tutela vai ser presidido por Artur Santos Silva e vai incluir representantes das faculdades de Arquitetura de Lisboa, Porto, Coimbra e Évora, dos ministérios da Defesa e da Cultura, da autarquia e da Ordem dos Arquitetos.
Com 70 mil metros quadrados, o espaço onde se insere o Regimento de Lanceiros 2 vai ter um núcleo museológico sobre a história dessa secular unidade militar que atualmente está instalada no edifício do antigo Regimento de Comandos (Amadora).

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Deficientes da Guerra Colonial

Exército acelera ações pendentes há anos de deficientes da guerra colonial

Centenas de processos de antigos combatentes a requerer o estatuto de Deficientes das Forças Armadas continuam pendentes de decisão, por falta de pessoal nos quartéis e porque a obtenção de elementos de prova é demorada
O Exército vai concentrar os juristas que tem colocados nas diferentes unidades para acelerar a conclusão dos 145 processos, de obtenção do estatuto de Deficiente das Forças Armadas (DFA), que continuam pendentes no gabinete do chefe do Estado-Maior do ramo (CEME).
A criação dessa task force foi transmitida pelo próprio CEME à Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), durante a visita de trabalho que o general Rovisco Duarte realizou ontem à sede da instituição representativa de um universo de portugueses com uma idade média de 70,6 anos.
"Não temos tempo para estar à espera" da conclusão desses processos, afirmou o presidente da ADFA, José Arruda, momentos depois de o vice-presidente Lopes Dias ter evocado os militares do Corpo Expedicionário Português enviado para a Flandres: "Estamos confiantes que não nos vai acontecer o que aconteceu com aos combatentes da I Guerra Mundial."
Com Lopes Dias a dizer que a esperança média de vida dos DFA varia atualmente entre os 71 e os 72 anos, José Arruda fez ainda questão de lembrar ao CEME que o abandono e a miséria a que foram votados os soldados do CEP depois de regressarem a Portugal "foi o que vimos nos hospitais militares quando viemos de África".
Com uma responsável da associação referir que o prazo de 16 meses definido no manual de procedimentos do Exército - para tramitação das "centenas de processos" pendentes - "não tem sido cumprido", Rovisco Duarte reconheceu a validade do principal argumento referido pela ADFA (falta de pessoal nos quartéis) para justificar alguns dos grandes atrasos existentes e que têm sido noticiados.
Contudo, até por ter estado envolvido na decisão tomada há poucos anos de descentralizar o tratamento dos processos (para diminuir tempos de espera) pelas diferentes unidades do Exército, alertou para as significativas perdas de tempo que decorrem da análise de processos que são requeridos por quem não vai conseguir o seu deferimento. "Há uma triagem que tem de ser feita no hospital [das Forças Armadas] para evitar perder tempo com casos que não têm condições" para ser qualificados como DFA.
Note-se que é considerado DFA quem tenha sofrido, no cumprimento do serviço militar e na defesa dos interesses da Pátria, diminuição da sua capacidade para obter meios de subsistência. O grau mínimo de incapacidade é de 30%, que confere direito a uma pensão de invalidez e a um abono suplementar de invalidez (quando a percentagem mínima for de 90%).
Uso de cartão de DFA, tratamento e hospitalização gratuitos em instalações do SNS, alojamento e alimentação por conta do Estado nas deslocações realizadas para adaptação de próteses e tratamentos hospitalares, transporte quando justificado, redução de 75% nos bilhetes de comboio e 50% nos voos de cabotagem internos da TAP, são alguns dos direitos concedidos aos deficientes das Forças Armadas (que também variam em função do grau de invalidez reconhecido pela junta médica).
Rovisco Duarte disse ainda aos dirigentes da ADFA que os comandantes das diferentes unidades do Exército "estão sensibilizados" para a necessidade de dar respostas céleres a esse universo de ex-militares. De qualquer forma, acrescentou, vai enviar um despacho a todos os quartéis a fim de garantir que essa prioridade não seja secundarizada.
Outra das medidas que o Exército vai tomar passa por "redistribuir os processos" entre as várias unidades, procurando que as menos sobrecarregadas contribuam para o esforço de agilizar a análise dos processos. Foi ainda com esse objetivo que o general Rovisco Duarte aceitou o pedido feito de viva voz pela ADFA. no sentido de o Exército poder "sinalizar os casos mais urgentes" de quem ainda aguarda por uma resposta "porque precisa de atendimento rápido".
RESPOSTA
Plano criado em 2015 apoia mais de 600
A ADFA exprimiu ontem a sua satisfação por, "pela primeira vez e passados mais de 40 anos" após o fim da guerra colonial (1961/74), os vários serviços militares "estarem juntos à volta da mesa" para procurar resolver assuntos relativos aos Deficientes das Forças Armadas (DFA). A afirmação foi feita pelo vice-presidente Lopes Dias, enaltecendo o esforço que Estado-Maior, Marinha, Exército e Força Aérea estão a fazer, com a Defesa, no quadro do Plano de Ação para Apoio aos Deficientes Militares criado pelo anterior governo em 2015 e que, nesta altura, permite acompanhar mais de 600 DFA em Lisboa, Porto, Coimbra, Madeira ou Açores. Note-se que desde 2017 há, no Hospital das Forças Armadas, um centro de saúde mental vocacionado para o stress de guerra.

terça-feira, 17 de abril de 2018

ALCANENA - Comemora o 25 de Abril homenageando ex-combatentes

De 21 a 25 de Abril, o Município de Alcanena vai apresentar uma programação especial dedicada as comemorações do 44º aniversário do 25 de Abril.
 Este programa vai ter início no dia 21 de Abril com o Concerto “Músicas de Zeca Afonso”, às 21:30h, no Cineteatro São Pedro, pelo Real Companhia com Ana Lains. Este espectáculo é de entrada livre.
 Já as comemorações do 25 de Abril vão começar às 10:00 nos Paços do Concelho (Praça 8 de Maio), com o Içar Solene da Bandeira, Guarda de Honra pelos Bombeiros Municipais de Alcanena, Solta de Pombos e distribuição de cravos.
 Às 10:30, haverá uma Sessão Solene Pública Comemorativa do 44º Aniversário do 25 de Abril no Salão Nobre da Câmara Municipal de Alcanena. Esta sessão vai contar com as intervenções da Presidente da Câmara Municipal de Alcanena, Fernanda Asseiceira, do Presidente da Assembleia Municipal de Alcanena, Silvestre Pereira, assim como dos representantes dos grupos políticos com assento na Assembleia Municipal. A sessão solene contará, ainda, com Poesia e Música de Abril.
 À tarde, das 14:00 às 18:00, na Praça 8 de Maio, haverá animação para os mais novos, com várias atividades de animação, nomeadamente: arborismo, manobras com cordas, insufláveis, tiro com arco e zarabatana, bicicletas e quadriciclos, futebol de rua, ateliês de pintura e construção e jogos tradicionais.
Às 17:00, haverá uma Homenagem aos combatentes da Guerra do Ultramar, 1961 a 1975, no Jardim dos Combatentes, em Bugalhos.