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terça-feira, 19 de julho de 2022

Foto da praxe para o Bilhete de Identidade Militar

Foto para o Bilhete  de Identidade Militar


Estas fotos tinham uma curiosidade:
 Eram tiradas num fotográfo em Campolide que tinha todo o fardamento para o efeito.
Os indicativos dos postos era presos, de tirar e por conforme cada um
Emprestava ou alugava a "farda" e lá saía a farda nos conformes para o Bilhete de Identidade Militar
 

BCAC2832 - rendido pelo BCAC2877 - as mortes pelo IN na zona do Tomboco e Lufico



"Pouco se fala hoje em dia nestas coisas mas é bom que para preservação do nosso orgulho como Portugueses, elas não se esqueçam"

                                                      Barata da Silva, Vice-Comodoro


HONRA E GLÓRIA

Fontes:

5.º Volume, Tomo I, da RHMCA / CECA / EME

7.º Volume, Tomo I, da RHMCA / CECA / EME

Jornal do Exército, ed. 120, de Dez1969



João Pedro Batista Carrilho

Soldado de Infantaria

Companhia de Caçadores 2306
Batalhão de Caçadores 2832
«EXCELENTE E VALOROSO»
Angola:
13Jan1968 a 03Mar1970
Medalha de Prata de Valor Militar, com palma



Prémio Governador-Geral de Angola






                                             João Pedro Batista Carrilho, Soldado de Infantaria, n.º 06909967.

Mobilizado pelo Regimento de Infantaria 2 (RI2 - Abrantes) para servir Portugal na Província Ultramarina de Angola integrado na Companhia de Caçadores 2306 (nota) do Batalhão de Caçadores 2832 «EXCELENTE E VALOROSO», no período de 13 de Janeiro de 1968 a 3 de Março de 1970.

Medalha de Prata de Valor Militar, com palma


Soldado de Infantaria, n.º 06909967
                                                  JOÃO PEDRO BATISTA CARRILHO


CCac 2306/BCac 2832 - RI 2
ANGOLA

Grau: Prata, com palma


Transcrição da Portaria publicada na OE n.º 17 - 3.ª série, de 1969:
Por Portaria de 29 de Abril de 1969:


Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, condecorar com a Medalha de Prata de Valor Miliar, com palma, nos ter-mos do artigo 7.º, com referência ao § 1.º do artigo 51.º, do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, o Soldado n.º 06909967, João Pedro Batista Carrilho, da Companhia de Caçadores n.º 2306/Batalhão de Caçadores n.º 2832 — Regimento de Infantaria n.º 2, pela sua brilhante conduta durante uma forte emboscada inimiga à coluna de reabastecimento onde seguia.


Tendo o inimigo, em número muito superior, causado inicialmente pesadas baixas às nossas tropas entre as quais o comandante do grupo de combate [Furriel Mil.º de Infantaria Rui Joel Vilhena de Mascarenhas], o soldado Carrilho apercebendo-se da situação, apesar de ferido no tórax por um estilhaço de granada, iniciou imediatamente ajustado tiro de morteiro sobre os vários locais onde estava o inimigo, indiferente ao seu ferimento que sangrava e sem se perturbar com o fogo nutrido que varria toda a zona onde se encontrava. Após ter esgotado as granadas de morteiro, deslocou-se à frente da coluna e vendo que uma metralhadora se encontrava encravada, subiu para a viatura Berliet onde estava acoplada, desmontando-lhe a culatra, tendo ainda feito alguns tiros com ela, até que de novo se encravou. Verificando que o inimigo não abrandava o ímpeto do ataque, pretendendo mesmo passar ao assalto, foi procurar o lança-granadas foguete de que passou a ser apontador.

Sempre debaixo de fogo, demonstrando extraordinária abnegação, capacidade de sofrimento, iniciativa, desprezo pelo perigo, foi em seguida buscar a bolsa de maqueiro, visto o enfermeiro ser uma das nossas baixas, e ele próprio começou a tratar e colocar talas e pensos nos seus camaradas feridos e que urgia socorrer, apenas consentindo o seu tratamento e evacuação após a chegada de reforços.


A serena energia debaixo de fogo, extraordinária valentia, coragem, decisão e sangue-frio deste Soldado, foi absolutamente decisiva numa situação muito crítica para as nossas tropas, permitindo até inverter a situação, repelindo e causando muitas baixas ao inimigo e captura de material, embora o seu grupo de combate logo de início ficasse reduzido a menos de metade dos seus combatentes.


Pela generosidade demonstrada, rara abnegação, coragem e valentia bem patentes em combate e no mais alto grau, merece o Soldado Carrilho ser apontado como nobre exemplo de virtude militares do Soldado Português e de dedicação à Pátria.


Ministério do Exército, 29 de Abril de 1969.
O Ministro do Exército, J. M. de Bethencourt Rodrigues.



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Nota





Batalhão de Caçadores N.º 2832


Identificação:
BCac2832


Unidade Mobilizadora:
Regimento de Infantaria 2 (RI2 — Abrantes)


Comandante:
Tenente-Coronel de Infantaria Pedro Barcelos


2.º Comandante:
Major de Infantaria Élio Pires Afreixo


Oficial de Informações e Operações/ Adjunto:
Major de Infantaria Luís dos Santos Rafael


Comandantes de Companhia:


Companhia de Comando e Serviços (CCS):
Capitão do Serviço Geral do Exército José Mateus Cardoso


Companhia de Caçadores 2306 (CCac2306):
Capitão de Infantaria José Augusto Serra Pinto
Capitão de Infantaria António Augusto Pinto da Cunha Leal
Capitão de Infantaria José Augusto Serra Pinto


Companhia de Caçadores 2307 (CCac2307):
Capitão de Infantaria António Augusto Pinto da Cunha Leal
Capitão de Infantaria Manuel Estevão Maninho da Silva Rolão
Capitão de Infantaria António Augusto Pinto da Cunha Leal


Companhia de Caçadores 2308 (CCac2308):
Capitão Mil.º de Artilharia Fernando Manuel de Lemos Campeão Silveira


Divisa:
"Excelente e Valoroso"


Partida:
Embarque no dia 4 de Janeiro de 1968, no NTT «Vera Cruz»; desembarque em Luanda no dia 13 de Janeiro de 1968.



Regresso:

Embarque no dia 3 de Março de 1970, no NTT «Uíge»; desembarque em Lisboa no dia 14 de Março de 1970


Síntese da Actividade Operacional
O Batalhão de Caçadores foi inicialmente destinado ao subsector de Tomboco, no Sector F, da ZIN (zona de intervenção norte), onde rendeu o Batalhão de Caçadores 1903 (BCac1903), tendo assumido a responsabilidade da Zona de Acção em 28 de Janeiro de 1968.


O dispositivo adoptado foi o seguinte:


Comando, Companhia de Comando e Serviços (CCS) e Companhia de Caçadores 2308 (CCac2308 em Tomboco, a


Companhia de Caçadores 2306 (CCac2306) em Lufico, a


Companhia de Caçadores 2307 (CCac2307) em Zau-Évua.


Como reforços, o Batalhão de Caçadores dispôs da Companhia de Artilharia 1658 (CArt1658) em Quiaia e da Companhia de Artilharia 1700 (CArt1700) em Quiende, esta substituída em Junho de 1969 pela Companhia de Caçadores 2530 (CCac2530).


A partir de 25 de Junho de 1968, em virtude duma remodelação de dispositivo, o Comando e CCS deslocaram-se para Zau-Évua, uma vez que Tomboco deixou de pertencer à zona de acção; por idêntico motivo, a Companhia de Artilharia 1658 (CArt1658) deixou de reforçar o Batalhão de Caçadores e a Companhia de Caçadores 2308 (CCac2308) rodou para Quiximba.


Em 1 de Julho de 1968, passou esta zona de acção a designar-se por subsector de Zau-Évua.


O inimigo utilizava a zona de acção como passagem para a zona fulcral dos Dembos. Todavia, manifestou-se com alguns grupos numerosos e bem armados, montando fortes emboscadas às Nossas Tropas, no terreno ou a colunas auto, como no dia 9 de Agosto de 1968 (nota1), em Buene, onde causou às Nossas Tropas sensíveis baixas.


Em 5 de Setembro de 1968 (nota2), montou nova emboscada na estrada Lufico-Tomboco, na região de Fumanzi, com cerca de 200 elementos inimigos, fortemente armados e municiados, que provocaram às Nossas Tropas muito graves baixas; em qualquer das acções mencionadas, a reacção causou ao inimigo baixas igualmente graves. Refere-se ainda a eficaz e rápida reacção a outro ataque inimigo em 28 de Abril de 1969, que frustou o propósito propagandístico traduzido na presença de jornalistas e cineastas, que acabaram por constatar uma precipitada fuga, com baixas.


Para lá de intensos e permanentes patrulhamentos, emboscadas e escoltas, o Batalhão de Caçadores construiu os aquartelamentos de Quiximba e Zau-Évua, abriu inúmeras picadas construiu pontões e instalou novos povoados, com populações apresentadas em Quiende e Quiximba.
De 21 de Julho a 8 de Agosto de 1969, o Batalhão de Caçadores foi rendido pelo Batalhão de Caçadores 2877 (BCac2877), deslocando-se para o sector de Malanje, onde rendeu o Batalhão de Caçadores 1919 (BCac1919), tendo assumido a responsabilidade da zona de acção em 8 de Agosto de 1969.
Na cidade de Malanje aquartelaram o Comando e Companhia de Comando e Serviços (CCS); as Companhias de Caçadores 2306, 2307 e 2308 ocuparam respectivamente Nova Gaia, Forte República e Marimba; como reforços, o Batalhão de Caçadores recebeu a Compania de Caçadores 2335 (CCac2335) em Malanje, a Companhia de Caçadores 1102 do Regimento de Infantaria 20 (CCac1102/RI20- Guarnição Normal) em Quela e a Companhia de Artilharia 2337 (CArt2337) em Luquembo, além de alguns grupos de GE (Grupos Especiais).
A ameaça de infiltrações levava a constante acção de vigilância e patrulhamentos de contacto com as populações. Todavia nesta zona de acção, onde o inimigo não se manifestava, foi obtido êxito contra uma coluna que atravessava o sector desde a Lunda para os Dembos; com efeito, essa coluna foi totalmente eliminada na operação "Carnaval", tendo sido capturadas 19 armas automáticas, das quais 2 metralhadoras ligeiras, 1 lança-granadas foguete, dezenas de granadas e minas de todos os tipos e milhares de cartuchos para armas ligeiras, para além de volumoso e variado material sanitário e de intendência.


Em 26 de Fevereiro de 1970 o Batalhão de Caçadores foi rendido pelo Batalhão de Caçadores 2859 (BCac2859).

Nota1:
9 de Agosto de 1968 - Tombou em combate na estrada Tomboco - Ambrizete:
Rui Joel Vilhena de Mascarenhas
Rui Joel Vilhena de Mascarenhas, Furriel Mil.º de Infantaria, n.º 03678465, da CCac2306/BCac2832, natural da freguesia da Sé Nova, concelho de Coimbra, filho de Joel Esteves de Mascarenhas e de Albertina Antónia Vilhena de Mascarenhas, solteiro.
Está inumado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Agraciado com a Medalha de Prata de Valor Militar, com palma, a título póstumo.

Nota2:

5 de Setembro de 1968 - Tombaram em combate no Lufico, perto do rio Fumazi:

Agostinho Soares Ferreira Dias

Agostinho Soares Ferreira Dias, 1.º Cabo Auxiliar de Enfermeiro, n.º 09333867, da CCac2306/BCac2832, natural da localidade de Outeiro, da freguesia de Arrifana, concelho de Santa Maria da Feira, filho de Manuel Ferreira Dias e de Lucinda Soares Mota, solteiro.
Está inumado no cemitério da freguesia de Arrifana, concelho de Santa Maria da Feira.

António Augusto Proença de Almeida Trindade
António Augusto Proença de Almeida Trindade, Alferes Mil.º Atirador, n.º 08194365, da CCac2306/BCac2832, natural da freguesia e concelho do Entroncamento, filho de António de Almeida Trindade e de Maria da Anunciação de Sousa Proença de Almeida Trindade, Solteiro.
Está inumado no cemitério do Lumiar, concelho de Lisboa


António Luís de Jesus Alves
António Luís de Jesus Alves, Soldado Condutor Auto Rodas, n.º 09906867, da CCac2306/BCac2832, natural da freguesia e concelho de Cascais, filho de Luís Valério Alves e de Maria de Jesus Alves, solteiro.

Está inumado no cemitério da Guia, em Cascais


Carlos Alberto Flores Dias
Carlos Alberto Flores Dias, 1.º Cabo Atirador, n.º 00935867, da CCac2306/BCac2832, natural da freguesia de Águas Belas, concelho de Ferreira do Zêzere, filho de Carlos Flores Dias e de Elvira da Conceição, solteiro.

Está inumado no cemitério da freguesia de Águas Belas, concelho de Ferreira do Zêzere.

Henrique Tavares Fé
Henrique Tavares Fé, Soldado Atirador, n.º 06422567, da CCac2306/BCac2832, natural da freguesia de Alegrete, concelho de Portalegre, filho de Isidoro Jesus Fé e de Maria Rosa Tavares, solteiro.

Está inumado no cemitério municipal de Campo Maior


Joaquim do Rosário Carrilho
Joaquim do Rosário Carrilho, Soldado Atirador, n.º 05424667, da CCac2306/BCac2832, natural da freguesia da Nossa Senhora da Graça, concelho de Nisa, filho de Adelaide da Cruz Carrilho, casado com Maria Carlota Mourato Salgueiro.

Está inumado no cemitério de Nisa.


Manuel António da Conceição
Manuel António da Conceição, Soldado Atirador, n.º 0565767, da CCac2306/BCac2832, natural da freguesia de São João, concelho de Abrantes, filho de António José e de Maria da Conceição, solteiro.

Está inumado no cemitério da freguesia de Alferrarede.

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20 e 21 de Julho de 1969 - Lua, ali tão perto

 Homem na Lua e efemérides







quinta-feira, 14 de julho de 2022

Luanda - BO - Bairro Operário não haverá militar que não se recorde do BO

 Luanda - BO - Bairro Operário

Não havia militar que não o conhecesse


Bairro Operário

Serão poucos os luandenses que nunca tenham ido ao Bê Ó. Mas talvez seja altura de o visitar novamente.
Por Pedro Cardoso

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Luanda - BO

As ruas do bairro eram de terra batida. Os casebres de madeira e telhados de zinco tinham pequenas janelas onde prostitutas brancas chamavam os clientes. Na rua H, um jovem médico, Manguxi, dava aulas a jovens pobres. Num quintal, a dikanza marcava os ritmos de Angola, Ngola Ritmos em resistência. Este é o Bairro Operário.

Um dia no Bairro Operário, o que foi o Bê Ó de verdade, move-se pelas ruas da memória de quem o viveu “nos tempos”. “Sonhar é fácil”, poetiza Jacques dos Santos ao site Rede Angola. “Poderia lembrar-me duma farra no salão da Idalina Costa”, inesquecível animadora de festas de arromba de Luanda, mestre de xinguilamento e figura cimeira dos carnavais da cidade. Ou então, um serão “no pátio do Xodó”, dos Ngola Ritmos. E ainda um “trumunu no Campo do Machado”.

A essência do Bairro Operário em poucas palavras.

Recuemos lá atrás, ainda antes dos “finais dos anos 60”, altura em que Jacques passou “momentos inolvidáveis no Bê Ó”. Tempos em que, nas ruas paralelas e perpendiculares, este senhor grande da cultura angolana “estava em contacto quase diário com a essência da angolanidade, com a nossa forma especial de estar na vida nos mais diversos aspectos”.

Estamos nos anos 30.

A fronteira de asfalto e da terra vermelha dos musseques expande-se na Luanda colonial. Nas barrancas do Miramar, surgem cubatas sobre a areia, construídas pelos que estavam para lá do muro colonial – pretos, indígenas, nativos, ou como se queira chamar aos excluídos de então. Muitos deles eram trabalhadores da estação do Bungo e começaram, pouco a pouco, a criar as bases do que hoje conhecemos como Bairro Operário. Rapidamente a Câmara Municipal de Luanda interveio e começou a pôr ordem a este quadrado desenhado nas bandas do São Paulo. Traçou ruas a régua e esquadro mas não as asfaltou. Nem deu água ou luz aos moradores. Musseque meio urbanizado, meio por urbanizar.
Desde cedo o Bê Ó ganhou alma própria. Tornou-se lugar de boémia, de farras monumentais, de personagens que só os que são dali conheceram. Bairro de senhoras brancas que, em janelinhas, convidavam os militares portugueses a entrar a troco de umas moedas e que bazaram quando bazaram todos. Bê Ó periférico, antigo centro de prazeres e pecados. Mas, principalmente, bairro-mãe de algo muito maior: consciência, identidade e resistência.
Quando a luta pela libertação se tornou inevitável, já há muito que a angolanidade se construía a ritmo frenético no interior destes casebres pobres de madeira. Caminhando pela Rua H, nesta visita imaginária, Jacques dos Santos testemunha-nos: “O Bê Ó encerra em si o princípio da emancipação do nosso povo e do início da luta de libertação nacional, o que determina a sua importância não apenas para os luandenses mas para toda a nação angolana. A sua contribuição está implícita no trabalho desses ilustres angolanos que fizeram sempre questão de enaltecer a rica vivência e todas as experiências forjadas nesse bairro.”

Paramos em frente à casa que pertenceu aos pais de Manguxi. No actual Centro Cultural Agostinho Neto, viveu o primeiro Presidente de Angola. Depois de formar-se em medicina, em Portugal, ali voltou para instruir jovens dos musseques. Perto do Bê Ó, abriu um consultório médico.

Enquanto Agostinho Neto, em segredo, forjava-se como líder político, numa velha casa a umas ruas de distância, também no Bairro Operário, Liceu Vieira Dias criava, com outros músicos, o mítico grupo Ngola Ritmos, marco fundamental da luta anti-colonialista. Aqui nasceram clássicos da música angolana de intervenção como “Monami”. Esta canção, contou Amadeu Amorim, dos Ngola Ritmos, ao Jornal de Angola, alertava os jovens negros para não saírem à noite de casa. Eram tempos difíceis, em que brigadas de portugueses varriam de madrugada os musseques da cidade, entre os quais o Bê Ó, matando jovens negros.

2014.

“Nada foi aproveitado”, suspira ao Rede Angola, Jacques dos Santos, também autor do livro ABC do Bê Ó.

Serão poucos os luandenses que nunca tenham ido ao Bê Ó. Mas talvez seja altura de o visitar novamente. O lodo suja e as águas negras correm a céu aberto, é certo. Mas muitas vezes, os lugares são, sobretudo, vibração. E mais cedo ou mais tarde, este bairro simbólico e fascinante de Luanda, tal qual o conhecemos, poderá desaparecer, uma vez terminados os projectos de requalificação.
– O que sente quando escuta estas notícias, Jacques?
– Um murro forte no estômago, náuseas e um profundo desprezo pelos mentores da requalificação, em flagrante desrespeito pelo passado de gerações. Não quero dizer com isso que sou apologista da manutenção dos casebres de madeira e zinco, nada disso. A solução seriam bibliotecas, centros recreativos e culturais, de formação, parques, enfim… Espero que entendam o que quero dizer… Deveriam encontrar formas para a evocação permanente do Bairro Operário, imortalizando nomes de pessoas, de ruas, de casas, de lojas. Essa seria a homenagem merecida!
Bê Ó. Histórias, segredos, lutas, noites de facas longas, quintais de farras e de ideais ao rimo da dikanza. Tardes de Manguxi. Raiz nostálgica de todos nós a ponto de ser arrancada do velho chão de areia.
Como ir:
Para chegar ao Bairro Operário, vá em direcção ao São Paulo, pela Avenida Cónego Manuel das Neves. O BO encontra-se à sua esquerda. Pode também chegar pelo Miramar, subindo a rua Ndunduma, e entrando nos vários acessos à sua direita, ou seguindo em frente pela Alameda Manuel Van-Dúnem, no cruzamento com a Av. Cónego Manuel das Neves.

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Lisboa - Luanda as imagens e algumas curiosidades


Sá e Silva, Madruga, Salvado e Braz Gonçalves
Pouco importa a ordem cronológica das fotos.
Todas são da viagem no Vera Cruz entre o Cais da Rocha em Lisboa  e o porto de Luanda.
São os 53 anos entre aqueles dias e os de hoje, A bordo foram cimentadas muitas amizades que perduram até aos nossos dias. Muitas deixaram as saudades imensas dos que entretanto já faleceram e por cá deixaram a família, as esposas, filhos e netos.
A bordo, os nossos pensamentos reportavam os medos do futuro que a guerra escondia naquelas terras tão distantes das nossas e 
esse escondia-se na intimidade de cada um. Na verdade a preparação para a guerra e o treino que nos haviam dado davam algum suporte  psicológico que cedo ou tarde  dariam alguma ajuda.
Partida de Lisboa
A bordo daquele enorme navio a vida decorria com normalidade e com a curiosidade do monstro de aço estar sempre a navegar adornado para bombordo, o que nos corredores não deixava uma imagem engraçada quando por lá passávamos.
Ementa

A passagem pelo Funchal para embarcar uma companhia de caçadores formada naquela ilha, não muitas horas depois da saída de Lisboa, serviu para mais uns momentos de descontração e levar ao esquecimento as preocupações no futuro.
 O Vera Cruz, não era propriamente um navio de cruzeiro pois naquela data nem disso por cá haveria conhecimento
Foto na Ilha da Madeira
O dia a bordo em nada se parecia  entre oficiais e sargentos. As praças iam em locais como se fossem casernas, muito mal instalados e em más condições.
Pela viagem, foram feitas alguns exercícios de salvamento e até contadas algumas histórias, que por desconhecidas ou até acreditadas por outros não deixaram de ter a sua piada. Alguns acreditaram que a passagem do barco para imaginária linha do equador fazia com que se estragassem muitos dos mantimentos que as famílias dos militares levavam nas suas bagagens,  Na verdade foi tudo brincadeira. Talvez a meio da viagem demos conta de algo que não sabíamos - peixes voadores que saindo do mar voavam uma boa distância


terça-feira, 12 de julho de 2022

João Marques fez anos


 O vague-mestre da CCS - nunca passamos fome mas a emengta foi muitas, muitas vezes repetida
 Ah,Ah, Ah

12 de Julho de 1969 a 12 de Julho de 2022

Pouco importa o tempo que medeia entre estas duas datas para muitos portugueses



Os almoços


A medalha, o símbolo da Infantaria e a chapa que quando partida a meio significava a morte




Muitos dos actuais governantes nem passaram pela Guerra de África, pelo que nem podem e nem querem imaginar o que foi a ida  para o "incerto", deixando por cá os familiares mais queridos e os amigos, interrompendo uma vida que estava no seu percurso normal.
Hoje, os antigos combatentes, são esquecidos e não vêem reconhecidas pelo Estado que os mandou para a Guerra, as doenças resultantes de sua passagem por esse período da sua vida.
Com dezenas de livros, artigos de jornais, programas de televisão, fotos, blogs e muitos outros meios  de publicitar as passagem da Guerra de África, mais não servem que deixar um testemunho para os seus filhos, netos e todos  os outros vindouros daquilo que foi uma fase negra das suas vidas.

Assim foi naquele dia 12 de Julho de 1969, com o Vera Cruz, repleto de militares a caminho de Angola.
Nós fomos um daqueles que regressaram são e salvo. Outros o fizeram doentes ou estropiados para toda a vida

Muitos outros por lá ficaram,  mortos ou desaparecidos. 

Eu, combatente , me confesso

Poema  camarada  ANTÓNIO FILIPE retirado da Internet


 Eu, Combatente, me confesso:
Se tu soubesses, Marcelo
O "pó" que comi na picada
A dor que trago no peito
Que me ficou entranhada...
Escusavas de ser Presidente
De discursar na Bancada...
Ignorar tão "Boa Gente"
Que comeu "pó" na picada
Se te entrassem na mente
Dores sofridas nos combates
Olharias bem mais de frente
Tais vitimas dos "disparates" !
Cumpridos...lá tanto atrás...
Transfigurados já dos embates
A Ti, pobre... já nem te apráz
Sequer...fazer os seus resgátes !
Que te sobra Marcelo fazer?
Em vez de passear só em vão...
Ir buscar um distante prazer...
Às campas enterradas do sertão
Ressuscitar..."Nobres Mortos"
A cujos calcanhares nem chegas...
Trazer contigo seus "Despojos"
Sem azedumes e sem invejas...
Poderás olhar bem de frente
Quem não te proclamou "Rei"
E ser "Rei" para toda a gente
Sem mácula alguma, eu sei...!
Faltam-te dar certos passos
Para cortares a nossa "Meta"
Deixar danças e compassos
Seres um verdadeiro "atleta"
Que busca "Medalhas de Ouro"
Para a nobre Pátria realçar
Esses sim...são o tal tesouro
Que a todos cabe resguardar...
Não enjeitas a fama honrada Os proveitos são todos "vossos"...
Políticos lá comem pela calada...
E "outros"... são os "Colossos"!
Acabar com a vergonhosa "Trampa"
Que inunda, desmedida, a Nação...
Deixar as fictícias "Luzes da Ribalta"
Aos palhaços...saber dizer Não e Não!
Poisar teus pés.. ainda a tempo. Neste chão!!!
Desejo de, pelo menos... um Combatente!!!

Tentúgal, 11 de Junho de 2018