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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Moita Flores - A Guerra vista por quem lá não foi

Parte de uma entrevista de Moita Flores ao Jornal I de hoje

Depois veio para Lisboa e casou muito cedo. Porquê?

A guerra, nessa altura, fazia dessas coisas. Era o medo de morrer. O medo da morte. O desejo de deixar um legado. A guerra transtorna por completo as nossas relações com o mundo. Vocês têm uma sorte dos diabos por não saberem o que é isso.

Esteve na guerra?
Não. Cheguei a ir, mas não cheguei a estar na guerra, porque entretanto deu--se o 25 de Abril. De qualquer forma, a guerra estava muito presente na nossa vida. Tinha dez anos quando começou e durou até ter 22. Por outro lado, a guerra também nos ensina a sentir como é bom não viver em guerra. Às vezes, quando me deparo com pessoas belicosas, sobretudo as mais jovens, não há paciência... porque... a morte cheira mal, sabe? Os cadáveres cheiram mal. O que nos afasta da morte é o caminho que nos pode dar felicidade e permite que a gente se encontre de uma forma amistosa. A morte traz-nos sempre uma mágoa, seja directa seja indirecta. Magoa sempre, é uma amputação. Por isso as guerras e o crime violento são coisas que precisamos de resolver. Hoje tenho a minha memória cheia de mortos, de cadáveres, de gente podre. Só no cemitério de Macedo de Cavaleiros identificámos e levantámos 1400 cadáveres. Na Aldeia da Luz, 600. Aprendi uma coisa decisiva: não podemos perder um minuto da nossa vida, porque tudo é rápido e efémero. Devemos tentar fazer que a vida seja um minuto de construção de coisas que agradem aos outros e a nós também. A nossa relação com quem nos rodeia tem de ser pautada por aquilo que a morte nos tira: o toque com o outro, o corpo. A relação com o corpo. Morrer não é fechar os olhos e parar o coração. Morrer é a ausência do abraço e das palavras. Isso é que é morrer.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

23 de Junho de 1969

Para recordar, apenas para esse fim, atodos os que por aqui vão dando uma vista de olhos.
Nos ultimos tempos, não temos tido oportunidada  de passar pelo nosso Blogue e escrever algumas palavras.
Hoje, como em outros dias, e agora começa a ser quase no dia a dia, vamos lá saber porquê, surgem imensas recordações da nossa passagem por Angola.
O barulho de motor de um avião monomotor, faz recordar a chegada do correio ou os DO27 que faziam os Revis na nossa área de actuação. Isto é um exemplo.
Hoje a razão deste "esforço" tem a ver com a recordação dos velhos tempos de jovem, as fogueiras e os bailaricos de rua. Tudo programado com muita atencedência.
Assim também aconteceu no mês de Junho de 1969. Fomos colocados num "hotel" à beira Tejo, ali na margem Sul, por baixo do Cristo Rei, especializado em defesa aérea e pertencente a uma organização empresarial chamada Exercito Português.
Como ainda não estávamos muito bem treinados para a nossa missão em África, era da praxe que fossemos tirar um estágio numa zona que se procurava assemelhar o mais próximo possível das zonas de combate em África.
Nem o Pinhal do Rei, ali por cima das arribas da Fonte da Telha, nem as temperaturas e a flora tinham nada a ver com o que fomos encontrar em África, pelo que depois nos fomos apercebendo.
Fizemos um esforço enorme, naquela noite de véspera de São João, ao caminhar em marcha, com equipamento e espingardas G3 em bandoleira, entre Porto Brandão e a Fonte da Telha, passando por entre as festas das várias localidades por onde fomos passando.
Chamavam a este estágio - IAO - Instrução de Adaptação Operação Operacional.

Por lá passamos cerca de 10 dias, entre os pinheiros, imenso pó e calor e uns exercicios de adaptação que apenas serviram para nos mentalizar para o que íamos.
Conhecedor daquela zona, desde miúdo, pois imensas vezes, por aí fui de madrugada, com um peixeiro amigo que de burro ia de madrugada comprar peixe aí apanhado durante a noite. Ou então, com o meu saudoso pai, íamos apanhar "cadelinhas" nas praias da zona.
Para tal, fazíamos então a pé, cerca de 10 quilómetros.
Naquela altura, a Fonte da Telha tinha para mim e para todos nós, uma outra função - era um interlúdio, entre os final das recrutas e especialidades e a ida para a Guerra.
Nessa data, enquanto no Posta da Guarda Fiscal, sobranceiro à descida para a Fonte da Telha, recebíamos as primeiras vacinas, ficamos a saber, por portas e travessas qual era o nosso destino.
Angola, esperava por nós.
Esta véspera de São João, apenas foi um aperitivo, para os longos dois anos que passamos no Norte de Angola.