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domingo, 2 de junho de 2019

Guerra Colonial - drogas I

Guerra Colonial Portuguesa

  • 4 Quando aqui se fala de “ex-combatentes” ou, mais genericamente, de “militares”, está-se a incluir s (...)
  • 5 Não foi o mesmo ter estado numa região pacificada ou numa região militarmente ativa, haver tido fun (...)
8A forma como os ex-combatentes falam e escrevem acerca da sua experiência de guerra no “Ultramar” é extremamente variável, indo de uma postura mais distanciada a uma posição mais vivida, de um tom pícaro e quase anedótico a um mais dramático e sofrido, de uma posição de explicação e enquadramento histórico e social a um registo puramente individualista e autocentrado.4 A própria experiência de guerra variou muito consoante o ano e o local onde o serviço militar foi prestado, sendo radicalmente diferente de região para região e de função para função.5 Por tudo isto, e tal já foi dito mil vezes, a Guerra Colonial Portuguesa não foi uma mas muitas guerras, porventura tantas quantas os militares envolvidos.
9Há, no entanto, traços comuns ao conjunto dos testemunhos. Por exemplo, embora a guerra tenha terminado há mais de 40 ou 50 anos, a grande maioria dos entrevistados fala dela e de episódios lá vividos como se tudo se tivesse passado muito recentemente. Outros falam como se para eles a guerra nunca tivesse acabado (Loja 2013 [2002]; Janeiro 2012; Bastos 2008). Em muitos textos, perpassa uma vincada necessidade de acertar contas com o passado, de impedir que o vivido caia no esquecimento, de deixar escritos para memória futura e de homenagear os companheiros de luta, nomeadamente aqueles que morreram em combate. Também a ideia de que a experiência de guerra transforma e faz amadurecer os jovens à força é recorrente (Niza 2012; Ganhão 2007; Monteiro 2001).
  • 6 “Drogas” e “substâncias psicoativas” são aqui usadas como sinónimos e incluem todas as substâncias (...)
10Feito um esforço para identificar os principais eixos de análise, emergem três ideias-chave, relevantes na medida em que ajudam a contextualizar, enquadrar e explicar o uso de substâncias psicoativas naquele contexto específico.6 Nos testemunhos dos ex-combatentes, tanto explícita como implicitamente, a Guerra Colonial Portuguesa tende a ser apresentada como: (a) um tempo de experimentação e de contacto com novas realidades; (b) uma experiência feita de grande tensão e estados de ansiedade constante; (c) um contexto de pouca preparação militar, alguma indisciplina e formas de contestação.
  • 7 O discurso hegemónico acerca da Guerra Colonial Portuguesa tende a secundarizar ou omitir a experiê (...)
  • 8 Os militares portugueses viram-se imersos num mundo “exótico”, tanto do ponto de vista do mundo nat (...)
  • 9 Alguns militares, por exemplo, relatam a experiência de comer camarão cozido pela primeira vez (Oei (...)
11Para a grande maioria dos militares que nela participaram, oriundos da “Metrópole”, a guerra em África foi, em muitos sentidos, um mundo admiravelmente novo. Excluindo o caso dos militares que foram recrutados localmente – “colonos” e “nativos”, para usar as expressões da altura 7 –, tudo se passou num continente estranho, profundamente diferente do que a generalidade dos soldados portugueses conhecia: os cheiros, os sabores e os sons, a fauna e a flora, a escala e a dimensão, o clima, a paisagem e as cores, etc., tudo era novidade e muito foi vivido, sentido ou experimentado ali pela primeira vez (V. Santos 2013; Ferreira 2011; Oeiras 2009; A. L. Antunes 2005). Para mais, muitos dos militares portugueses que participaram na Guerra Colonial Portuguesa – de baixa patente, sobretudo – são apresentados como muito novos, pouco viajados, com baixas habilitações literárias e oriundos de um Portugal rural (M. J. L. Antunes 2015; Oeiras 2009), constituindo o serviço militar a sua primeira vivência fora da casa dos pais. Nesse sentido, o período de guerra, enquanto incursão num mundo “exótico”, constituiu um óbvio corte com o quotidiano, uma pausa no percurso de vida (M. J. L. Antunes 2015; Niza 2012; Vardasca 2012).8 Como se verá, para alguns, entre as novas experiências tidas na guerra constam a ingestão de determinadas comidas e bebidas,9 mas também o uso de substâncias psicoativas lícitas (como bebidas alcoólicas específicas, destiladas ou de fabrico artesanal local, por exemplo, resultando por vezes na primeira experiência de um estado de embriaguez) e ilícitas (como a canábis) (Ferreira 2011).
12Invariavelmente, fruto da própria natureza do conflito, a Guerra Colonial Portuguesa é descrita como uma experiência de desgaste, dura e difícil de suportar, tanto do ponto de vista físico e das condições materiais como do ponto de vista mental e psicológico. Enfrentar um movimento de guerrilha implica combater um inimigo que na maior parte das vezes não se vê e se esconde, que ataca quando não se espera e contra o qual há que estar sempre à defesa. Como refere Luís Oeiras, que participou neste conflito como alferes em Moçambique, “um combate de guerrilha é como um terramoto. Pode estoirar em qualquer altura, mas não se pode viver à espera debaixo de uma mesa” (2009: 39).
  • 10 Excluem-se as chamadas “tropas especiais” – comandos, fuzileiros, paraquedistas, entre outras – de (...)
13Aliás, para a generalidade da tropa convencional,10 tratou-se de uma guerra defensiva, procurando evitar emboscadas e ataques de minas, com poucas incursões ofensivas (e que muitas vezes não chegavam a resultar em confrontos). Por outro lado, os testemunhos estão cheios de referências a tempos mortos, de ócio e de inatividade, passíveis, no entanto, de serem interrompidos a qualquer instante por um ataque inimigo. Segundo Manuel Bastos, que esteve como alferes em Moçambique, “a vida de um soldado é feita de longos períodos de tédio, que alternam com curtos períodos de terror […] porém nestes períodos de tédio é que verdadeiramente nos visita o medo, quando a adrenalina está baixa e a fantasia mais volátil que o fumo do cigarro” (2008: 169).
  • 11 A experiência de guerra inclui casos de militares que não chegaram a disparar um tiro e / ou não se (...)
  • 12 Manuel Bastos inicia assim o seu livro Cacimbados: A Vida por Um Fio: “Chamavam esgazeados aos ex-c (...)
14Recorrentemente é descrito um ambiente sufocante e concentracionário (M. J. L. Antunes 2015; A. L. Antunes 2005), marcado pelo isolamento, pelo stress e muita ansiedade, mesmo por quem viveu a guerra em regiões de menor atividade militar do inimigo (Sousa 2007; Lopes 1998).11 Era o inimigo quem conhecia e dominava o terreno, daí tirando óbvio benefício: de alguma forma, as tropas portuguesas eram em África um corpo estranho. Por tudo isto, os testemunhos incluem constantes referências a problemas mentais e episódios de descompensação, descritos pelos próprios ou relatados por terceiros, tipificados na figura do “cacimbado” (Janeiro 2012; Bastos 2008).12 De uma forma genérica, a saúde mental dos ex-combatentes das forças armadas presentes na Guerra Colonial Portuguesa degradava-se visivelmente à medida que o tempo de comissão ia passando (Loja 2013 [2002]; Aguiar 2007), atingindo o ponto mínimo de sanidade (se é que tal pode ser medido) na altura da rendição, para espanto e choque das tropas acabadas de chegar à frente de combate (M. J. L. Antunes 2015; Janeiro 2012; Mata 2012; Pereira 2011).
  • 13 O Cancioneiro do Niassa consiste num conjunto de adaptações de fados e canções em voga (de Bob Dyla (...)
15Por último, perpassa nos testemunhos uma sensação de que os militares envolvidos na Guerra Colonial Portuguesa se sentiam “carne para canhão”, manifestando amiúde uma certa antipatia e desdém em relação aos comandantes e, sobretudo, às chefias de topo e aos “senhores da guerra”, tidos como os responsáveis pela dura situação que se sentiam obrigados a enfrentar (Loja 2013 [2002]; Aguiar 2007; A. L. Antunes 2005). Em alguns casos, tal pareceu resultar num afrouxar da disciplina militar e em atos de desobediência e outros que colidiam com as regras de conduta militar. Por outro lado, para os ex-combatentes, o conceito de “camaradagem” (T. M. Silva 2007) foi, em certo sentido, mais relevante do que os de “pátria” ou “dever patriótico” (Sá 2009) – o dever sentido era sobretudo para com os camaradas de armas. A nível pessoal, portanto, o propósito último da guerra travada parece não ter sido lutar pela pátria mas, pura e simplesmente, sobreviver e chegar ao fim da comissão vivo, são e inteiro. Como tal, muitos ex-combatentes declaram ter feito a guerra com pouca convicção – mesmo aqueles que se ofereceram como voluntários –, daí derivando, mais uma vez, uma série de pequenos e grandes atos de indisciplina e fabrico de regras próprias. Para mais, perpassa também nos testemunhos um claro sentimento de impreparação militar e operacional (Lopes 1998), aliado a uma carência no que toca aos meios materiais disponíveis e às fracas condições de vida na maior parte dos quartéis – em particular naqueles localizados em zonas mais remotas –, o que contribuiu para desvincular os militares de causas ideológicas (V. Santos 2013; Mata 2012; Vardasca 2012) e favoreceu formas de contestação (como o Cancioneiro do Niassa, por exemplo).13
  • 14 De forma provocatória, “vício” é aqui entendido num duplo sentido: como algo que é considerado adic (...)
16É tendo este cenário como pano de fundo que os ex-militares entrevistados enquadram e contextualizam um conjunto de práticas e “vícios” 14 que tiveram lugar na Guerra Colonial Portuguesa: jogo, indisciplina, violência, atrocidades, prostituição, homossexualidade e também uso e abuso de substâncias psicoativas (Alexandre 2015; Martins 2003). Uns são descritos como transversais e generalizados, outros como interditos, alguns foram alvo de censura social, outros foram praticados sobretudo longe dos olhares públicos, mas todos são hoje explicados à luz da natureza do conflito militar e dos seus condicionantes.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

Ambrizete - Baía e Brinca na Areia e as histórias



Hoje voltamos ao tema depois de termos comentado no Facebook do António Messias, Foto-cine que esteve connosco até as meias só terem a parte superior e a farda já não ter ponta por onde se lhe pudesse pegar.
Agora voltamos a Ambrizete, à praia, ao Brinca na Areia e aos barcos que todos os dias iam ao mar na captura do peixe fresco.
Pois na altura era assim, no Brinca na Areia comia-se e bebia-se do bom e bem.
Passados poucos dias de termos chegado a Ambrizete, naquela paragem duns dias por ali, antes do rumo a Luanda e o regresso ao Puto recebeu-se no Centro de Operações uma mensagem que dava conta do afundamento da traineira que operava naquela zona e que fazia parte da pesca nas gambas ou camarões.  Assim foi, passados poucos dias já nºao havia marisco daquele para acompanha as Cucas ou as Nocal.
Da praia, recordamos a forte ondulação que ao fim do dia se registava. A embarcações de pesca artesanal, que navegavam para o largo, deixando de se ver de terra, com as velas escuras, feitas da serapilheira das sacas de batatas e tendo como mastros canas da Índia. Regressavam com algum pescado e com  muita dificuldade em colocar os barcos em terra firme.  Os fundos das chatas estavam cobertos de cimento e alcatrão.
Que a baía era linda e enorme, lá isso era.
Ainda por lá dei umas voltas com um daqueles jipões enormes da segunda-guerra que estavam no pelotão de transportes sediado no Ambrizete - um dos responsáveis  tinha sido meu instruendo nas Calda da Rainha

terça-feira, 28 de maio de 2019

Ambrizete - Brinca na Areia

José Niza - médico psiquiátrico para todos o serviço



Recordar José Niza (1938-2011) - em  Sete Vidas que esteve no nosso habitual almoçoacompanhado de sua esposa,  pouco tempo antes de falecer

LETRAS

23.09.2011 às 14h01




Faleceu, sexta-feira aos 75 anos, o músico, em Lisboa, o músico, letrista, médico e ex-deputado socialista José Niza. Entre muitas outras canções foi o autor de E Depois do Adeus, tema interpretado por Paulo de Carvalho. Republicamos aqui a 'autobiografia' que escreveu para o JL


JOSÉ NIZA

Sete vidas são as que vivi até agora. E 70 os anos que espero completar em Setembro próximo. Antes de percorrer convosco os sete caminhos desta saga de andarilho, deixem-me proclamar que estou agradecido à vida. A verdade é que a vida me correu bem, tive sorte, encontrei a mulher certa, tenho três filhos que só sabem dar alegria aos pais, tive até a felicidade de viver o 25 de Abril de 1974. Quase tudo o que me aconteceu não foram coisas que perseguisse, ou que correspondessem a projectos de vida.
À excepção da minha mulher e da opção pela Medicina, tudo o resto veio ter comigo, paulatinamente enriqueceu e comandando a minha vida. Nunca me passou pela cabeça ser deputado, ou director de programas da RTP, ou escrever cerca de 300 canções, ou estar dois anos numa guerra. Por tudo isto agradeço à vida o que me deu. Não tenho livro de reclamações a não ser para lutar pelos direitos dos pobres, dos humildes e para que haja mais justiça e solidariedade em Portugal.
Comecemos então pelo princípio. Em 16 de Setembro de 1938 fui nascer a Lisboa, na Maternidade Alfredo da Costa, mas rapidamente regressei a Portalegre onde o meu pai era engenheiro da Junta Autónoma das Estradas. Primeiro filho, primeiro neto e primeiro sobrinho de tias e tios solteiros, a minha chegada ao mundo fez de mim um pequeno príncipe. Cedo, muito cedo, me apaixonei pela vida no campo. A apanha da azeitona e dos figos. As vindimas, as ceifas e as debulhas em Campo Maior, na eira do meu avô, onde comia gaspacho fresquinho com os ganhões, nos dias tórridos de Agosto.
Aos 6 anos mudámo-nos para Santarém, onde fui matriculado na 1ª classe da escola do Salvador.
Aos 7 fiz o meu primeiro discurso político! D. Adélia, a minha professora, tinha-me escolhido para falar na inauguração da nova escola de S. Bento, onde botariam discurso as figuras gradas da política local. Convinha que um menino animasse a cerimónia. Li uma folhinha escrita pela professora (que a minha mãe guardou).
Saí-me bem, mas não fazia ideia do que tinha dito. Muitos anos depois a minha mãe mostrou-me a tal folhinha. Seria difícil tecer maiores elogios a Salazar! Depois foi o Liceu. No exame do 2º ano dispensei das provas orais. O único, entre mais de 1 200 alunos de todo o distrito.
O meu pai ofereceu me uma linda bicicleta e eu lá ia pedalando à volta do Liceu, enquanto os outros faziam as orais.
Mais ou menos por essa altura, com uns 12 anos, fui a um baile no Clube de Santarém e conheci uma loirinha de olhos azuis, muito bonita e muito tímida. Mal sabíamos então o que aquele encontro iria significar nas nossas vidas. Aos 14 anos comecei a tocar guitarra, aprendendo por discos de 78 rotações de Artur Paredes.
Santarém tinha uma sólida e saudável tradição académica, naturalmente de matriz coimbrã. E foi por isso que escolhi Coimbra para estudar Medicina, uma das melhores opções da minha vida. Para além de Medicina aprendi coisas que moldaram a minha forma de ver as coisas, a democracia, e conheci amigos de uma geração até hoje não repetida.
Em 31 de Dezembro de 1960 o dia do assalto ao quartel de Beja o meu pai morreu inesperadamente.
Tive de suspender os estudos durante três anos para tratar dos negócios da casa. Foram tempos difíceis para os quais não estava preparado.
Em 1966 concluí o curso e três meses depois casei-me com a tal loirinha de olhos azuis, que entretanto se tinha transformado numa das mulheres mais bonitas que conheci.
Ficámos a residir em Coimbra onde nasceu a nossa primeira filha. Apaixonei-me pela Psiquiatria e fiz a tese de licenciatura sobre esquizofrenia.

Em 1969 fui mobilizado para a Guerra Colonial, em Angola, como alferes-médico.

Dois anos nas matas, muitas canções escritas e um alto louvor militar por actos médicos.

No regresso, em 1971, optei por ficar a residir em Lisboa. Trabalhava à tarde como director de produção da editora Arnaldo Trindade (Zeca, Adriano, Paulo de Carvalho, Mário Viegas, etc.) e de manhã no Hospital Miguel Bombarda.
O 25 de Abril foi um dia em que o tempo parou para que a felicidade durasse mais tempo. Soube entretanto que E depois do adeus tinha servido de senha musical para que Salgueiro Maia e os outros capitães de Abril saíssem dos quartéis.
Foram assim minhas as primeiras palavras dessa histórica noite. Filiei-me no PS de Santarém, sem qualquer propósito de ser candidato à Assembleia Constituinte e, muito menos, deputado eleito.
Mas foi o que aconteceu.
Deixei em suspenso o Hospital e a Psiquiatria, convencido de que, uma vez aprovada a Constituição, para lá voltaria. Seria uma coisa de meses... Mas, afinal, foram muitos anos parlamentares, interrompidos por duas passagens pela área do tratamento das toxicodependências, uma delas de dez anos, e outras duas pela RTP, primeiro como director de programas e depois como membro da Administração. Em 2002 aposentei-me da função pública e adquiri um novo e excelente estatuto: nem horários, nem patrões.
O único cargo que actualmente exerço é o de presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores.
Televisão - Ser director de programas e administrador da RTP foram experiências exaltantes.
O poder e a responsabilidade de decidir que programas Portugal iria ver (ainda não existiam TV's privadas) era um grande peso diário sobre os meus ombros. Em 1977 não tinha qualquer experiência de televisão, mas tinha uma ideia de qual deveria ser o papel de uma televisão de serviço público. Desse período fi caram programas históricos como Gabriela a primeira telenovela apresentada em Portugal A visita da Cornélia e A Feira, programas culturais como Se bem me lembro, de Vitorino Nemésio, Música e Silêncio, de António Vitorino de Almeida, Melomania, de João de Freitas Branco. Ou, para os mais novos, Peço a Palavra, de Mário Viegas, Heidi ou Os Marretas.
Em 1978 fui obrigado a pedir a demissão quando percebi que estava em curso uma manobra para colocar na cúpula da RTP pessoas da confiança política e pessoal de Ramalho Eanes, então Presidente da República. Regressei em 1983.
E desses quase dois anos, ficaram séries como O Tal Canal, do Herman José, Palavras Ditas, do Mário Viegas, a telenovela Chuva na Areia, Viva a Cultura, do António Mega Ferreira, Jogos sem Fronteiras, o Concurso 1, 2, 3, do Carlos Cruz, Mátria, da Natália Correia, etc. Penso, no entanto, que o melhor que deixei na RTP foi a recuperação do seu arquivo, salvo de uma inundação (1978) e transferido, em três dias, para as instalações onde ainda hoje está.
Política - Tudo começou nos tempos de liceu. A insuportável Mocidade Portuguesa, os contínuos informadores da PIDE. Mas também, em contraponto, a quase clandestinidade conspirativa do Cine-Clube. Logo que cheguei a Coimbra tive o meu baptismo de fogo com uma carga da GNR, por causa de um protesto estudandil contra o decreto 40.900, que retirava autonomia à Universidade.
A PIDE inaugurou a minha ficha em 1961, ano em que muitas coisas decisivas aconteceram em Portugal. Em Coimbra a minha luta contra o regime foi sobretudo feita através da música, com José Afonso, Adriano, no Jazz, ou no teatro académico (CITAC) com música para peças que acabavam sempre proibidas.
Em 1974, o 25 de Abril inverteu finalmente a ordem anormal das coisas. A campanha eleitoral para a Constituinte foi a mais exaltante experiência política da minha vida. Cheguei a iniciar, com a Maria Barroso, um comício em Constância, às 3 da manhã! Estive 15 anos no Parlamento, presidi a várias comissões, apresentei algumas leis de minha iniciativa. Cumpri também dois mandatos no Conselho da Europa. Hoje olho para a Assembleia da República com algum desencanto: melhoraram as gravatas, mas rareiam as ideias.
Música - O meu bisavô José Niza foi um excelente compositor erudito e director de orquestra. O meu avô João Niza tocava flauta. E a minha mãe, piano. A música era uma espécie de oxigénio que se respirava lá em casa. Durante o Liceu comecei a aprender guitarra. Depois, em Coimbra, foi o fado, acompanhando Luiz Goes, Machado Soares, Zeca Afonso. Com o Zeca e o Adriano foram as baladas líricas e depois a canção de intervenção.
E ainda o Jazz. Como não sabia escrever música, só comecei a compôr quando apareceram os gravadores de cassetes. A maior parte das minhas cerca de 300 canções filas no final dos anos 60 e na década de 70, para vozes como Adriano, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Carlos Mendes, etc. Mais recentemente, para Mísia e Kátia Guerreiro.
Ganhei quatro Festivais RTP da Canção, um recorde que divido com Ary dos Santos. Um deles, com E depois do adeus, a primeira senha musical do 25 de Abril
PS. O José Carlos de Vasconcelos foi claro e taxativo - máximo 9.000 caracteres! Como já os gastei, não há mais papel para escrever sobre a Guerra Colonial, a Psiquiatria e outras vidas que vivi. Dommage.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

BCAC2877 - blog razão de ser


Este blog tem vivido com o contributo de material fotográfico de muitos ex-camaradas nossos.
Os temas que são apresentados nas diversas mensagens, resultam quase sempre da "inspiração" no momento  do bloguer,
Os temas e os momentos de inspiração, não se esgotam mas tendem a ser em cada momento, menores e muitas vezes sem grande interesse.
Várias vezes foram pedidos contributos e não foram muitos os que chegaram.
Escrever ou publicar votos ou testemunhos é um bom motivo para passar minutos ou horas com este "trabalho"
Desde sempre, temos dito que o maior interesse do que se publica, é um reviver dos tempos de quem passou pela guerra e que sofreu os seus traumas, medos, angústias e desgostos.
è igualmente dar a conhecer, sempre que possível, aos mais novos, filhos, netos e hoje até aos bisnetos o que se passou em África na guerra.
Grande parte desse passado, está ser depreciado, esquecido e até muitas vezes, vulgarizado.

domingo, 26 de maio de 2019

Votar



Votar
Hoje e sempre que haja eleições

"O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa,

Relembrar que  o acto de votar em liberdade se ficou a dever à revolução do 25 de Abril.
Relembrar ainda que foi essa revolução que criou condições para que a Guerra Colonial tivesse acabado e com ela o fim do envio de mais umas centenas de milhares de portugueses para África.
Não importa aqui sublinhar em que se vota, mas votar é preciso. Ajuda a fazer uma escolha, indica com um voto, um caminho.
A liberdade está associada ao voto.
A liberdade criada com o 25 de Abril de 1974, já não deu para que quem como nós não tivéssemos que ser obrigados a combater em África, mas deu, para que muitos outros não enfrentassem a ida e a guerra.
O voto não sendo obrigatório e um dever - escolher para a Europa, para Portugal ou para as Autarquias

Nós vamos votar

sexta-feira, 24 de maio de 2019

2019 XXVI Encontro Nacional de Combatentes 2019

 

 

Convite     

XXVI Encontro Nacional 
de Homenagem aos Combatentes

 

A Comissão Executiva para a Homenagem Nacional aos Combatentes 2019 promove no próximo dia 10 de Junho, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém, o seu XXVI Encontro Nacional. As cerimónias que ali terão lugar têm por objectivo prestar homenagem a todos aqueles que combateram e combatem em defesa dos valores e da perenidade da Nação Portuguesa.

Por esta razão, ali se reúne sempre um tão grande número de Portugueses, não só os que foram Combatentes no Ultramar e os que mais recentemente serviram em missões de paz no estrangeiro, mas também todos aqueles que, amantes da nossa História e envolvidos na construção de um futuro mais próspero para a sociedade portuguesa, querem ser participantes activos nesta homenagem.
 

 

Programa
10h30 – Missa de sufrágio pelos Combatentes que tombaram pela Pátria, na Igreja de Santa Maria no Mosteiro dos Jerónimos;
12h15 – Abertura da cerimónia junto ao Monumento aos Combatentes;
12h16 – Palavras de abertura do Vice-Almirante João Pires Neves, Presidente da Comissão Executiva;
12h19 – Leitura da mensagem de Sua Excelência o Presidente da República;
12h23 – Discurso alusivo à cerimónia pelo Prof. Bernardo Pires de Lima;

12h31 – Cerimónia inter-religiosa (católica e muçulmana);  

12h38 – Homenagem aos Mortos e deposição de flores;

13h02 – Hino Nacional pela Banda da GNR. Salva protocolar por navio da Marinha;

13h05 – Passagem de aeronave da Força Aérea;
13h09 – Passagem final pelas lápides;
13h30 – Salto de Pára-quedistas do Exército;
13h35 – Almoço-convívio nos terrenos frente ao Monumento.

 

O Presidente da República enviará uma coroa de flores e uma mensagem aos Combatentes. São convidados de honra o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, as Chefias Militares, os militares agraciados com a Ordem Militar da Torre e Espada, o Comandante-Geral da GNR, o Director Nacional da PSP, os presidentes das Associações de Combatentes, o Secretário Executivo da CPLP e os Adidos Militares ou Culturais juntos das embaixadas da CPLP em Lisboa.

 

Participa! Vem homenagear os que serviram a Pátria.

 

 

 

 



quinta-feira, 23 de maio de 2019

Zau Évua - Morros



Aqui estão os morros que conhecemos e que muita da nossa tropa subiu para faze PO - r"posto de observação"
Hoje a picada está como está, nesta foto, mas há outras fotos em que já há estrada alcatroada.
O centro de formação da policia de Angola está sediada em Zau Évua, mas não no antigo local do nosso aquartelamento.