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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

QUIXIMBA - BCAC2877 - CCAC2541 - página inacabada

 Fotos e textos retirados da Internet

Foi por aqui que nós passamos entre Julho de 1969 e Agosto de 1971

onde esteve sediada a CCAC2541 do nosso batalhão










Depois de um ano no relativo conforto de Santa Isabel, onde os riscos de guerra eram iminentes mas as acomodações e abastecimentos bastante seguros e confortáveis, no segundo ano de comissão fomos transferidos para o Zaire, com características geográficas e demográficas completamente diferentes. De comum, apenas  a hostilidade mais ou menos disfarçada da população local, distribuída de forma diferente. No Uíge, pese embora a dispersão das populações provocada pela guerra, encontrávamos pequenos povoados dispersos, alguns sem qualquer presença militar ou autoridade civil visível, para além das autoridades tribais. No Zaire isso não acontecia, e os pouco povoados que vimos colavam-se a unidades militares estrategicamente distribuídas.

​Ambrizete parecia um paraíso, onde o refrigério do mar beijava uma larga e livre praia, tornando duro o virar de costas e rumar ao mato, mais do que uma centena de quilómetros inóspitos, apenas interrompidos por um "acidente" chamado Tomboco, onde se instalou a segunda companhia. Começava-se com alcatrão mas rapidamente ele cedia lugar à picada, valha a verdade que cuidadosamente mantida pela JAEA, e permitindo durante todo o ano o trânsito de todo o género de viaturas.
Quarenta quilómetros depois do Tomboco, no topo de uma colina, a estrada entalava-se entre um quartel e uma pista de aviação, e estávamos chegados a Quiximba.
A povoação seguia-se ao quartel, alongando-se pelos 600 metros da pista em descida suave, e um pouco mais longe, subindo a pequena encosta seguinte.
Havia uma simples lógica urbana na povoação: encostados ao quartel o posto do administrador local e a cantina do comerciante branco. Depois descendo a ligeira inclinação algumas filas de cubatas paralelas à estrada, voltando a subir ligeiramente na escosta seguinte cujo topo era ocupado por uma capela regularmente fechada.

Numa terra onde o único acontecimento digno de relevo era o milagre da sobrevivência diária, a nossa chegada alvoroçou tudo, e fomos surpreendidos por uma legião de mulheres à porta de armas, que se agitavam em algazarra e corriam gesticulando por fora do arame, enquanto as viaturas entravam no perímetro que lhes estava vedado,  estabelecendo à distância contacto visual com os militares que desciam das viaturas, e se dirigiam aos camaradas instalados, que se preparavam para sair.
Dos primeiros contactos entre militares nasceu a explicação da agitação civil: as mulheres eram as lavadeiras que, na rendição da tropa, procuravam novos patrões.
A organização sócio-económica daquela comunidade era um caso sui-generis resultante da combinação dos poderes arbitrários duma administração autoritária com a adaptabilidade imposta pelo instinto de sobrevivência.


Tal como nos foi contada, a história de Quiximba começou alguns anos antes no Quanza-Sul, quando uma violenta sublevação dos nativos levou as autoridades a tentar cortar o apoio de retaguarda aos revoltosos, limitando-lhes o acesso às famílias,
Mulheres e crianças foram carregadas em vários camiões, e transferidas para mais de 300 km de distância, para uma terra de ninguém, suficientemente isolada para ser fácil o seu controlo.
Assim nasceu Quiximba, que, quando lá chegámos, registava uma população de cerca de mil mulheres, outras tantas crianças, e cinco ou seis dezenas de homens, maioritariamente velhos.​
Estava naturalmente instalada uma economia de sobrevivência, onde as mulheres retiravam das lavras os géneros de que subsistiam.
Dinheiro só entrava de duas maneiras: o pagamento da lavagem de roupa pela tropa, e a venda de farinha de mandioca ao comerciante branco, que em troca lhes fornecia as outras poucas outras coisas de que dependiam. Cada quilo de farinha era vendido a um escudo e, para a maioria, era o resultado do dia de trabalho que restava depois das lavras e dos filhos

Cada militar pagava mensalmente umas dezenas de escudos pela lavagem da pouca roupa que mudava regularmente, e sendo um trabalho leve, principescamente pago pelos padrões locais, a disputa de clientes era feroz.​ Um milhar de mulheres disputava uma centena de homens...
​​Gerou-se e sedimentou-se uma ética do negócio, que obrigava cada lavadeira a trabalhar apenas para um cliente. Para valorizar a qualidade do serviço oferecido (e, talvez, compensar a falta de homens na povoação, cujos contactos com o exterior eram muito limitados), convencionou-se que a lavadeira seria também propriedade sexual do patrão, o que, na gíria local era definido como um serviço abrangente, eufemísticamente designado "lavar a roupa e o quico".
Por isso as mulheres, tão produzidas quanto a sua miséria lhes permitia, se mostravam aos recém-chegados, na esperança de que a perspectiva da lavagem do quico se sobrepuzesse à questão da roupa, e lhes garantisse serem escolhidas.
Claro que, as mais velhas nem tentaram misturar-se nessa competição perdida à nascença, ficando à distância a ver o combate, algumas meditando por detrás do seu cachimbo, talvez pensando nas consequências duma rotineira relação entreas mulheres locais e os passantes militares.

Imagem

Foi um ano sereno, com ambas s partes (militares e nativos) a respeitar as regras do jogo, mas, quando abandonámos o local, já depois do 25 de Abril. e com a descolonização a dar os primeiros passos e a instalar as primeiras confusões entre angolanos, era para nós um dado adquirido que, passado o tempo da ocupação branca, a populaçao dsviada seria devolvida às origens, reconstituindo na medida do possível as famílias desfeitas, e retomando o curso da vida normal.

Quiximba deveria ser hoje uma memória varrida do mapa, um espaço devolvido à natureza pela população realojada.
Não é exactamente assim:
Qualquer pesquisa pelo nome de Quiximba remete-nos para evocações militares, parecendo confirmar o desaparecimento da povoação com o fim da intervenção portuguesa, mas a verdade é que a povoação está lá, embora escondida pela substituição de nomes e grafias levada a efeito pelas autoridades angolanas.
Surgem algumas menções a Kicimba, que parecem referir-se ao mesmo local, e, mais recentemente, a Kinximba, no município do Tomboco, que não pode deixar de ser a "nossa" Quiximba.
Notícias da Angop em 2007 descrevem Kinximba e Kinzau como zonas do Tomboco ainda fortemente minadas, provocando mortes na população, e isso ajuda a perceber porque é que, ao contrário de outros sítios (Santa Isabel, ao que parece) a intervenção dos portugueses na área não foi liminarmente apagada, apenas rebaptizada.

A saída dos portugueses não foi seguida por um período calmo, onde se pudesse pensar e rectificar os desequilíbrios gerados. Pelo contrário, o período subsequente foi convulsivo, descambando numa longa guerra civil que destroçou ainda mais as precárias vias de comunicação e agudizou as divisões internas. Movimentos maciços eram impensáveis, continuando as populações confinadas e ainda mais limitadas.
Tentando adivinhar, a pista aérea é hoje terreiro de cubatas, a pele do comerciante e do administrador mudou de cor, o quartel foi arrasado ou usado para instalar as novas autoridades ou escolas, mas Quiximba continua lá, respondendo hoje pelo nome de Kinximba, e porque foi há pouco festejado o alcatroamento de N'Zeto a Mbanza Kongo, isso significa que os turistas saudosos podem fazer os 217 quilómetros de Ambrizete a São Salvador do Zaire, atravessando Tomboco, Quiximba, Zau Évua e Quiende, sem receio das minas que ainda por lá dormem.
Pelo caminho, podem aproveitar o bónus turístico de saber o que são Quiza, Cana, Finda, Baca, Cumbi, Lemo ou Quindeso, nomes que aparecem no percurso, mas nada dizem à maioria de nós.
Recomendo a leitura do blog da BCaç 2877, que nos antecedeu em Zua Évua, e que, à muita experiência vivida junta um contacto com o actual soba


A chegada a Luanda aconteceu, naturalmente e no meio de grande expectativa.

Uma grande parte da cidade era visível do “Vera Cruz”, e já na altura, era uma cidade que se aprese
ntava com grandes edifícios e a sua linda marginal e a ilha (restinga) com praia para o lado da marginal e para o Atlântico, lindíssima e de águas quentes.
Durante a viagem e durante a noite fomos tomando consciência de que o primeiro homem tinha chegado à Lua.
Assim, ficará como marca, para sempre na nossa memória a nossa chegada a Luanda e o primeiro homem à Lua.
Pela manhã do dia 21/07/1969 o “Vera Cruz” encostou o seu casco de aço, já com alguns anos de viagens por esses mares de África, no porto da então Luanda.
Ao colocar o pé em terra de Angola, era dado o sinal de partida para uma longa e penosa maratona de 2 anos consecutivos nas matas do Norte de Angola.


Seguiu-se o desembarque, a ida para o Grafanil, um imenso e complexo campo militar, que servia acima de tudo como local de chegada e partida das diversas unidades militares que passavam por Angola
Foram as vacinas, contra a doença do sono, dadas em quantidade e em função do peso de cada um de nós, e, curiosamente, à sombra de um enorme embondeiro.
O desembarque, a ida para o Grafanil em comboio, tal qual como na 2ª guerra, para um campo militar que servia de “campo de expedição” de todas quanto chegavam a Angola e por aí aguardavam uns dias até à sua saída para os aquartelamentos onde muitos chegavam e também muitos não regressavam.
Recordemos o transporte efectuado em camiões de transporte de mercadorias, com enormes taipais, com os militares dispersos por entre as suas bagagens.
Primeira paragem em Ambrizete, com uma bela praia e o célebre Brinca na Areia, depois Tomboco, onde deixamos parte dos companheiros da CCS e da CCaç 2542 que seguiu a caminho do Norte, para o isolado acampamento do Lufico.
Todos os outros foram seguindo, picada fora, até Quiximba, ai ficou a 2541, outros para Zau Evua, o Comando do Batalhão e parte restante da CCS e a CCaç 2543.
Assim ficou distribuído nesta fase inicial o BCaç 2877: ZAU ÉVUA, TOMBOCO, LUFICO, QUIXIMBA, QUIENDE


Zau Evua e outras fotos



















 

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

https://youtu.be/4dtwTUk7Jjo?si=3dHO_WvezZ-K0j8w

 

Musicas da Guerra de Africa


00:00 "A Portuguesa" - Hino de Portugal ("A Portuguesa" - Anthem of Portugal) 01:24 Na hora da despedida (Adeus!) (At the farewell time) 04:19 Partida para Ultramar (Departure for Overseas) 07:19 Despedida (Farewell) 10:13 Na hora das despedidas (at the time of farewells) 13:47 Na hora da despedida ("Adeus!" Versão de Vitoria Maria) (At the farewell time Vitoria Maria's version) 16:20 Ana Maria (Goodbye Ana Maria) 19:30 Adeus mãezinha... (Farewell mommy...) 22:56 Dizer Adeus... (To say farewell...) 26:17 Soldados de Portugal (Soldiers of Portugal) 29:12 O soldado na trincheira (the soldier in the trench) 32:54 Fado do Zé ninguém (Regular Joe's Fado) 35:55 Carta de um soldado (Letter from a soldier) 38:58 Cruz da Guerra (War cross) 42:24 Carta do expedicionário (Expeditionary's letter) 45:47 Mãe... (Mother...) 49:06 Carta das trincheiras (letter from the trenches) 52:05 Longe da pátria (Far from fatherland) 55:55 Canção de um soldado (A soldier's song) 1:00:00 Adeus Guiné (Goodbye Guinea) 1:03:30 Moçambique (Mozambique) 1:05:33 Combatentes do Ultramar (Colonial war Combatants) 1:07:32 Fado Angola (Angola Fado) 1:10:33 Fado Moçambique (Fado Mozambique) 1:13:46 Hino dos fuzileiros de Portugal (Anthem of riflemens of Portugal) 1:16:32 Encantos de Moçambique (Mozambican charms) 1:19:10 Moçambique - Segunda versão (Mozambique - Second version) 1:22:24 Clarim (bugle) 1:25:40 Marcha da banda da Armada Portuguesa (March of the Portuguese Navy Band) 1:29:14 Marcha do Soldado (Soldier's march) 1:31:22 Saludo a Ultramar (Salute across the sea) 1:34:19 Maria trigueirinha (Brunet maria) 1:36:42 O nosso abraço para Angola (Our hug to Angola) 1:39:49 Angola é nossa! (Angola is ours!) 1:41:59 Ave Maria do soldado (Soldier's Hail Mary) 1:44:22 É tão triste ver partir... (It's so sad to see it go...) 1:46:51 Minha Maria (My Maria) 1:50:15 Moçambique é Portugal! (Mozambique is Portugal!) 1:53:05 Um adeus que te não disse (A goodbye that I didn't say to you) 1:56:40 Marcha dos Marinheiros (Sailors' March) 1:59:35 Combate (fight) 2:02:24 Saudades do Ultramar... (Homesickness of Overseas...)

Fernando Madruga - CCS - mecanico de armamento

 Madruga, parabens neste dia


























sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Companhia de Caçadores 2308 (BCAÇ 2832): Divisa: "Excelente e Valoroso" Provenientes do RI 2 - Abrantes Embarcaram em 04 de Janeiro de 1968 "Vera Cruz" desembarque em Luanda a 13 de Janeiro de 1968 Regressaram: a 03 de Março de 1970 no "Uíge" I

Fotos retiradas do link abaixo 

 a progressão por itinerários de risco ! . . . .
Companhia de Caçadores 2308 (BCAÇ 2832):
Divisa: "Excelente e Valoroso"
Provenientes do RI 2 - Abrantes
Embarcaram em 04 de Janeiro de 1968 "Vera Cruz" desembarque em Luanda a 13 de Janeiro de 1968
Regressaram: a 03 de Março de 1970 no "Uíge"
Info: O BCAÇ foi inicialmente destinado ao subsector de Tomboco, onde rendeu o BCAÇ 1903, tendo assumido a responsabilidade da zona em 28Jan68:
Tomboco, Quiximba. Zau-Évua,.Nova Gaia, Forte República e Marimba fora as suas zonas de ação
Em 26 de Fevereiro o BCAÇ foi rendido pelo BCAÇ 2859.
Imagem de muitas que lustram a nossa aventura o que marcaram para sempre as nossas vidas, não fosse o cenário sabendo onde é, poderia ser em Moçambique ou Guiné mas não era o mesmo.
Angola no Zaire
Do CD do Livro do Alferes Luís Gouveia - Arcanjos e Bons Demónios
Gentileza do Autor 
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