Fotos e textos retirados da Internet
Foi por aqui que nós passamos entre Julho de 1969 e Agosto de 1971
onde esteve sediada a CCAC2541 do nosso batalhão
Depois de um ano no
relativo conforto de Santa Isabel, onde os riscos de guerra eram iminentes mas
as acomodações e abastecimentos bastante seguros e confortáveis, no segundo ano
de comissão fomos transferidos para o Zaire, com características geográficas e
demográficas completamente diferentes. De comum, apenas a hostilidade
mais ou menos disfarçada da população local, distribuída de forma diferente. No
Uíge, pese embora a dispersão das populações provocada pela guerra,
encontrávamos pequenos povoados dispersos, alguns sem qualquer presença militar
ou autoridade civil visível, para além das autoridades tribais. No Zaire isso
não acontecia, e os pouco povoados que vimos colavam-se a unidades militares
estrategicamente distribuídas.
Ambrizete parecia um
paraíso, onde o refrigério do mar beijava uma larga e livre praia, tornando
duro o virar de costas e rumar ao mato, mais do que uma centena de quilómetros
inóspitos, apenas interrompidos por um "acidente" chamado Tomboco,
onde se instalou a segunda companhia. Começava-se com alcatrão mas rapidamente
ele cedia lugar à picada, valha a verdade que cuidadosamente mantida pela JAEA,
e permitindo durante todo o ano o trânsito de todo o género de viaturas.
Quarenta quilómetros depois do Tomboco, no topo de uma colina, a estrada
entalava-se entre um quartel e uma pista de aviação, e estávamos chegados a
Quiximba.
A povoação seguia-se ao quartel, alongando-se pelos 600 metros da pista em
descida suave, e um pouco mais longe, subindo a pequena encosta seguinte.
Havia uma simples lógica urbana na povoação: encostados ao quartel o posto do
administrador local e a cantina do comerciante branco. Depois descendo a ligeira
inclinação algumas filas de cubatas paralelas à estrada, voltando a subir
ligeiramente na escosta seguinte cujo topo era ocupado por uma capela
regularmente fechada.
Numa terra onde o
único acontecimento digno de relevo era o milagre da sobrevivência diária, a
nossa chegada alvoroçou tudo, e fomos surpreendidos por uma legião de mulheres
à porta de armas, que se agitavam em algazarra e corriam gesticulando por
fora do arame, enquanto as viaturas entravam no perímetro que lhes estava
vedado, estabelecendo à distância contacto visual com os militares que
desciam das viaturas, e se dirigiam aos camaradas instalados, que se preparavam
para sair.
Dos primeiros contactos entre militares nasceu a explicação da agitação civil:
as mulheres eram as lavadeiras que, na rendição da tropa, procuravam novos
patrões.
A organização sócio-económica daquela comunidade era um caso sui-generis
resultante da combinação dos poderes arbitrários duma administração autoritária
com a adaptabilidade imposta pelo instinto de sobrevivência.
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Tal como nos foi contada, a história de Quiximba começou alguns anos antes no Quanza-Sul, quando uma violenta sublevação dos nativos levou as autoridades a tentar cortar o apoio de retaguarda aos revoltosos, limitando-lhes o acesso às famílias, Mulheres e crianças foram carregadas em vários camiões, e transferidas para mais de 300 km de distância, para uma terra de ninguém, suficientemente isolada para ser fácil o seu controlo. Assim nasceu Quiximba, que, quando lá chegámos, registava uma população de cerca de mil mulheres, outras tantas crianças, e cinco ou seis dezenas de homens, maioritariamente velhos. Estava naturalmente instalada uma economia de sobrevivência, onde as mulheres retiravam das lavras os géneros de que subsistiam. Dinheiro só entrava de duas maneiras: o pagamento da lavagem de roupa pela tropa, e a venda de farinha de mandioca ao comerciante branco, que em troca lhes fornecia as outras poucas outras coisas de que dependiam. Cada quilo de farinha era vendido a um escudo e, para a maioria, era o resultado do dia de trabalho que restava depois das lavras e dos filhos
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Cada militar pagava
mensalmente umas dezenas de escudos pela lavagem da pouca roupa que mudava
regularmente, e sendo um trabalho leve, principescamente pago pelos padrões
locais, a disputa de clientes era feroz. Um milhar de mulheres disputava uma
centena de homens...
Gerou-se e sedimentou-se uma ética do negócio, que obrigava cada lavadeira
a trabalhar apenas para um cliente. Para valorizar a qualidade do serviço
oferecido (e, talvez, compensar a falta de homens na povoação, cujos
contactos com o exterior eram muito limitados), convencionou-se que a
lavadeira seria também propriedade sexual do patrão, o que, na gíria local
era definido como um serviço abrangente, eufemísticamente designado
"lavar a roupa e o quico".
Por isso as mulheres, tão produzidas quanto a sua miséria lhes permitia, se
mostravam aos recém-chegados, na esperança de que a perspectiva da lavagem do
quico se sobrepuzesse à questão da roupa, e lhes garantisse serem escolhidas.
Claro que, as mais velhas nem tentaram misturar-se nessa competição perdida à
nascença, ficando à distância a ver o combate, algumas meditando por detrás
do seu cachimbo, talvez pensando nas consequências duma rotineira relação
entreas mulheres locais e os passantes militares.
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Foi um ano sereno, com
ambas s partes (militares e nativos) a respeitar as regras do jogo, mas, quando
abandonámos o local, já depois do 25 de Abril. e com a descolonização a dar os
primeiros passos e a instalar as primeiras confusões entre angolanos, era para
nós um dado adquirido que, passado o tempo da ocupação branca, a populaçao
dsviada seria devolvida às origens, reconstituindo na medida do possível as
famílias desfeitas, e retomando o curso da vida normal.
Quiximba deveria ser hoje uma memória varrida do mapa, um espaço devolvido à
natureza pela população realojada.
Não é exactamente assim:
Qualquer pesquisa pelo nome de Quiximba remete-nos para evocações militares,
parecendo confirmar o desaparecimento da povoação com o fim da intervenção
portuguesa, mas a verdade é que a povoação está lá, embora escondida pela
substituição de nomes e grafias levada a efeito pelas autoridades angolanas.
Surgem algumas menções a Kicimba, que parecem referir-se ao mesmo local, e, mais
recentemente, a Kinximba, no município do Tomboco, que não pode deixar de ser a
"nossa" Quiximba.
Notícias da Angop em 2007 descrevem Kinximba e Kinzau como zonas do Tomboco
ainda fortemente minadas, provocando mortes na população, e isso ajuda a perceber
porque é que, ao contrário de outros sítios (Santa Isabel, ao que parece) a
intervenção dos portugueses na área não foi liminarmente apagada, apenas
rebaptizada.
A saída dos
portugueses não foi seguida por um período calmo, onde se pudesse pensar e rectificar
os desequilíbrios gerados. Pelo contrário, o período subsequente foi
convulsivo, descambando numa longa guerra civil que destroçou ainda mais as
precárias vias de comunicação e agudizou as divisões internas. Movimentos
maciços eram impensáveis, continuando as populações confinadas e ainda
mais limitadas.
Tentando adivinhar, a pista aérea é hoje terreiro de cubatas, a pele do
comerciante e do administrador mudou de cor, o quartel foi arrasado ou usado
para instalar as novas autoridades ou escolas, mas Quiximba continua lá,
respondendo hoje pelo nome de Kinximba, e porque foi há pouco festejado o
alcatroamento de N'Zeto a Mbanza Kongo, isso significa que os turistas saudosos
podem fazer os 217 quilómetros de Ambrizete a São Salvador do Zaire, atravessando
Tomboco, Quiximba, Zau Évua e Quiende, sem receio das minas que ainda por lá
dormem.
Pelo caminho, podem aproveitar o bónus turístico de saber o que são Quiza,
Cana, Finda, Baca, Cumbi, Lemo ou Quindeso, nomes que aparecem no percurso, mas
nada dizem à maioria de nós.
Recomendo a leitura do blog da BCaç 2877, que nos
antecedeu em Zua Évua, e que, à muita experiência vivida junta um contacto com
o actual soba
A chegada a Luanda aconteceu, naturalmente e no meio de grande expectativa.
Uma grande parte da cidade era visível do “Vera Cruz”, e já na altura, era uma cidade que se aprese
ntava com grandes edifícios e a sua linda marginal e a ilha (restinga) com praia para o lado da marginal e para o Atlântico, lindíssima e de águas quentes.
Durante a viagem e durante a noite fomos tomando consciência de que o primeiro homem tinha chegado à Lua.
Assim, ficará como marca, para sempre na nossa memória a nossa chegada a Luanda e o primeiro homem à Lua.
Pela manhã do dia 21/07/1969 o “Vera Cruz” encostou o seu casco de aço, já com alguns anos de viagens por esses mares de África, no porto da então Luanda.
Ao colocar o pé em terra de Angola, era dado o sinal de partida para uma longa e penosa maratona de 2 anos consecutivos nas matas do Norte de Angola.
Seguiu-se o desembarque, a ida para o Grafanil, um imenso e complexo campo militar, que servia acima de tudo como local de chegada e partida das diversas unidades militares que passavam por Angola
Foram as vacinas, contra a doença do sono, dadas em quantidade e em função do peso de cada um de nós, e, curiosamente, à sombra de um enorme embondeiro.
O desembarque, a ida para o Grafanil em comboio, tal qual como na 2ª guerra, para um campo militar que servia de “campo de expedição” de todas quanto chegavam a Angola e por aí aguardavam uns dias até à sua saída para os aquartelamentos onde muitos chegavam e também muitos não regressavam.
Recordemos o transporte efectuado em camiões de transporte de mercadorias, com enormes taipais, com os militares dispersos por entre as suas bagagens.
Primeira paragem em Ambrizete, com uma bela praia e o célebre Brinca na Areia, depois Tomboco, onde deixamos parte dos companheiros da CCS e da CCaç 2542 que seguiu a caminho do Norte, para o isolado acampamento do Lufico.
Todos os outros foram seguindo, picada fora, até Quiximba, ai ficou a 2541, outros para Zau Evua, o Comando do Batalhão e parte restante da CCS e a CCaç 2543.
Assim ficou distribuído nesta fase inicial o BCaç 2877: ZAU ÉVUA, TOMBOCO, LUFICO, QUIXIMBA, QUIENDE