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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Confraternização de 2013 - 5 de Outubro


                                                 O local da reunião será indicada oportunamente

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Reencontro

Foto nos tempos do PELREC em Zau Évua
O acaso faz das suas. Encontrei-me, por acaso e muito longe do meu habitual habitat, com um antigo companheiro da Guerra de África. Fomos muitos, hoje já somos menos, mas sempre nos vamos encontrando. Curiosamente, nem da Guerra falamos. Conversamos sobre alguns dos nossos antigos camaradas, dando notícias um ao outro de algo que sabíamos sobre este ou aquele. A troca de notícias sobre a morte de algum de nós, é sempre um tema doloroso e que nos trás à recordação passagens desses tempos de Angola, nos anos de 69, 70 e 1971. Este camarada, já foi para a Guerra com um enorme trauma. Um seu irmão, mais velho tinha morrido por lá em combate uns anos antes. Essa situação transformou o nosso homem num revoltado, sempre disposto a vingar a morte daquele. Nunca largava a "sua MG", um pente bem comprido de munições cruzava o peito e o tronco e sempre , igualmente à mão, não fosse que elas faltassem, um cunhete de balas prontas a serem utilizadas. Para nossa sorte e talvez também, para o IN (inimigo), nunca se confrontou directamente com aqueles que por razões óbvias odiava. Regressou são e salvo. Hoje, como todos nós, estamos velhos, uns mais cansados que outros, mas cansados. No fundo, bem no fundo dos nossos espíritos, soube muito bem o encontro .

domingo, 21 de julho de 2013

21 de Julho de 1969 a chegada a Luanda

Na senda das recordações e, acima de tudo, com a esperança que possamos deixar para o futuro, alguns dados da nossa vivência como militares e combatentes na Guerra de Áfria, vamos , com a nossa modèstia, deixando alguns relatos, opiniões e fotos dessa triste passagem de 2 anos por Angola.
Com Luanda à vista, depois de uma noite em que pelos rádios se ia ouvindo o relato da chegada do primeiro homem ao satélite da nossa Terra, o Vera Cruz, ansiava pelo descanso de uns dias, enquanto não regressava, pelo caminho das mesmas ondas para o Puto. Para lá levava, milhares de militares que iriam cumprir uma parte da sua obrigação de escrever umas tristes páginas da História de Portugal, para cá, o regresso não era tão penoso - uma parte dessas páginas já estava escrita por esses militares que esperavam com ansiedade esses momentos de embarque para casa.
Lentamente o Vera Cruz, como que cansado da longa viagem, foi-se aproximando do cais do Porto de Luanda. A enorme e lindissima baia, aí esta, tambem ela na expectativa de que, muitos dos agora forasteiros a iriam desfrutar em passeios descontraidos à beira mar, lavando o espírito das poeiras das picadas, das emboscadas, das doenças e da infinita tristeza gerada pela distância de familiares e amigos.
Luanda esperou.nos, com aquele calor tropical que desconhecíamos.
Esperou-nos e não foi nada hospitaleira.
Um enorme comboio, velho, mal tratado e nauseabundo, acolheu os militares, um pouco melhor que gado destinado ao matadouro, para nos levar, para o maior aquartelamento de Angola.
Á saída de Luanda, o Grafanil, era assim como uma placa giratória que albergava todos, os que chegavam e os que partiam.

Luanda era uma cidade enorme, com um movimento desusado de militares e civis. Muito civis eram militares,

Em Luanda, não havia guerra, mas havia o seu cheiro por todo o lado.

Circulava-se sem problema, a pé ou de transportes. Na cidade não havia guerra. Cafés , bares, restaurantes e cinemas funcionavam.
Haviam locais específicos para a troca de Escudos por Angolares.

Havia os bairros e casas do ricos. Havia as casas dos pobres e os bairros, os muceques, com a sua vida e a sua própria filosofia de vida.

Havia uma enorme rede de cafés, bares restaurantes e locais nocturnos. Estes, frequentados na sua maioria por militares que aí, matavam a sede da bebida e da "carne branca" a troco de muitos e muitos angolares.

Luanda, tinha uma população que acarinhava os militares. Pudera. Havia bastas razões para o fazer.

Quem pode fazer uma viagem, durante a noite, pela marginal e pela ilha, tive o previligérios de desfrutar um ambiente fantástico de cor, que muitas fotos atestaram

Por aí, ficamos, 2 ou 3 dias, antes que a guia de marcha no fizesse obrigar a ser carregados em camiões civis, com enormes taipais, onde fomos misturados com a parca bagagem que nos acompanhava.

A partir do momento em que foi pisado o solo angolano, não creio que tivesse sido lembrado que nesse mesmo dia, nesses momentos, o homem andava lá pela Lua. Com um pouco de sorte, algum dos 3 astronautas até no poderia ter fotografado (?).

Não mais foram lembrados. A preocupação de quem chegou era única - saber qual seria o  poiso, que foi guardado, bem guardado em segredo.

Sabíamos que iríamos para o Norte, mas era tão grande esse Norte de Angola que a dúvida ficou sempre até ao final da viagem.

Ambrizete, foi a primeira paragem, não ficamos por aí, era bom demais para uns maçaricos como nós.

Até ao Ambrizete, ainda apanhamos uma picada asfaltada, embora com valas e enormes buracos por todo o caminho.

A partir do Ambrizete, foi só, pó e picada, pó e picada.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A Guerra - testamento

Todos quisemos acreditar quando da ida para a Guerra de África, que de lá, o regresso seria são e salvo.
Nada disso aconteceu.
A guerra não é complacente com as ideias e os desejas de cada combatente. A guerra traça um caminho e destroi tudo o que faz frente ou se atravessa no caminho.
Uns por lá ficaram, arrastados nas turbolencias dos águas bravias dos rios ou lagos, que não gostaram dos intrusos que os queriam consporcar com as suas armas,
Outros, a doença não os deixou que regressem de saúde igual á que de cá levaram. Outros nem regressaram, males desconhecidos ou incuráveis devastaram as suas vidas e num momento foram apanhados na teia larga da morte.
Aqueles que fruto de acidente, estúpido, como são todos os acidentes, também deixaram plantada na imensa terra africana a cruz com o seu nome e a data da sua morte.
E, tantos outros, que por uma razão ou outra ficaram com maleitas físicas para o resto da sua exist~encia.
Não podemos esquecer, os que tombaram, pela razão directa da guerra, apanhados em emboscada, por mina ou morteiro. Morreram uns, deixando ficar, bem longe dos seus queridos familiares e amigos aquela imensa saudade, tristeza e frustração da morte.
Mas muitos, outros, milhares e milhares que regressaram sem que se notasse nos primeiros tempos, nos primeiros anos, alguns, a cicatriz psicológica que a guerra deixa nas almas de quem lá andou. Hoje, sofrem, cada um á sua maneira, suportando um sofrimento frio e persistente que não se mede, não causa febre ou dor aparente, mas que existe.
Os anos passaram e as recordações dessa passagem pela guerra existe, surge em muitos momentos e pelas mais diversas razões.
O cheiro da terra quente quando uma chuvada forte cai, o azul dos céus em noites de calmaria, onde apenas os sons esquezitos da própria noite relembram as nomadizações de dias e dias e as dormidas no mato, as paisagens agrestes , os penhascos, as matas espessas ou as planícies extensas a perder de vista, fazem lembrar as estepes africanas, os sons característicos dos aviões monomotores que transportavam o correio ou os víveres para a confecção do rancho.
São lembranças, recordações que ainda não se apagaram, estão coladas ao espírito de cada um.



domingo, 14 de julho de 2013

Zau Évua - vista por um companheiro do nBCAC3849

Um BCAC que esteve na nossa zona a seguir à nossa vinda para o Puto
 
"Caros companheiros de jornada: Zau-Évua onde se localizava uma Compª Oper., que dependia Oper. do BCaç 3849, vivia o seu dia-a-dia num cenário de isolamento. A par do Lufico, também sem populações na área, os dias em Zau-Évua no enfiamento dos trilhos de infiltração IN, não seriam animadores. O IPR, secundário, que ia do Tomboco, passando pelo Lufico e seguindo até Mpala, normalmente com condições de circulação nem sempre em bom estado, eram os vértices de um triângulo, em que os militares nele englobados, sentiam o isolamento. Em Zau-Évua, só a passagem do MVL, quebraria quinzenalmente esse isolamento." Castilho

sexta-feira, 12 de julho de 2013

12 de Julho de 1969


Aqui,  Zau Évua, no Tomboco, Lufico, Quiximba e Quiende, passamos ,deixamos parte da nossa vida, da nossa melhor juventude.
Hoje, parte de nós, velhos, doentes e reformados. uma cambada de miúdos que nada fizeram na vida, sabendo gerir mal o nosso país, querem, tirar-nos parte das nossas reformas.  Dinheiro que é nosso.


domingo, 23 de junho de 2013

Porto Brandão no caminho para Zau Évua

Véspera de S. João, Porto Brandão início da caminhada para Zau Évua.


Aí vai em bicha de pirilau, ladeando a berma da estrada entre Porto Brandão e a Mata do Pinhal do Rei na Fonte da Telha.

Calor pela noite dentro, passando pelas terras que ficavam no caminho, onde se gozava à moda antiga as festas dos Santos Populares e com as enormes e pagãs fogueiras tradicionais que velhos e novos saltavam sem medo.

Esta foi a noite de véspera de S. João daqueles que mais tarde, a 12 de Julho, embarcaram no Vera Cruz, rumo o desconhecido, rumo a Angola, ao Norte de Angola, ao Tomboco, ao Quiximba, a Zau Évua e ao Lufico.

Zau Évua, seria a capital do Batalhão 2877 e ao Lufico, isolamento total, com arame farpado e instalações contruidas de madeira e telhados de zinco, apropriados para o tipo de clima que lá fomos encontrar.

Mesmo que não queira, que faça por esquecer, não consigo. Há datas que estão gravadas na nossa memória e só a morte as fará desaparecer.

Estas linhas, não servem para lembrar a todos os antigos camaradas esta data, servem sim, como apenas uma pequena lembrança para os mais novos, não se esquecerem que houve gerações de portugueses que foram muito sacrificados e que muito deram e até a sua vida ao seu país.

Hoje, grande parte dessas gerações estão a ser sacrificadas de maneira diferente, mas talvez tão cruel como o foram naqueles tempos.