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terça-feira, 31 de maio de 2022

Fernando Madruga - a loiça das Caldas e o vinho da Madeira

 



Da esquerda para a direita

Sá e Silva, Fernando Madruga e Braz Gonçalves

A caminho de Luanda no Vera Cruz fizemos uma paragem no Funchal que serviu para dar uma volta pela cidade e arredores e para visitar uma adegas e comprar o conhecido vinho da Madeira.

Umas garrafas e não foram poucas entraram no Vera Cruz. Algumas foram colocadas sobre os aparelhos de ar condicionado dos camarotes com o intuito de tornar o néctar mais fresquinho e quiçá mais saboroso e apetecível.

O nosso camarada Fernando Madruga, que estudou nas Caldas  da Rainha, sempre com aquele seu espírito brincalhão, era portador duma daquelas obras de cerâmica típicas das Caldas da Rainha, de  tamanho e volume avantajado. Encheu o dito do vinho que tinha comprado em garrafa de vidro  e que passou a ser igualmente refrigerado na tampa do ar condicionada.

Foi então que no dia seguinte aconteceu o inevitável - a senhora que fazia o arranjo e limpeza do quarto, o  ver o vistoso objecto exclamou em tom muito zangado e agressivo:

                         "Ou tiram isso daí ou não vos arranjo o camarote"

E assim sucedeu

domingo, 29 de maio de 2022

Madrinhas de Guerra - 2 - O amor é mais forte que a guerra

A solidão assistida do soldado



Como Marta demonstra no princípio do livro, o conceito de madrinha de guerra não nasceu nos anos de 1960. Remonta à Primeira Guerra Mundial, quando os Estados-Maiores dos exércitos em confronto compreenderam a importância psicológica do apoio feminino junto das tropas sujeitas ao horror das trincheiras. A propósito, cita amplamente Cartas às Madrinhas de Guerra, de Afonso do Paço, militar e arqueólogo que integrara o Corpo Expedicionário Português em França.
Em 1961, quando a guerra irrompe em Angola (estendendo-se posteriormente à Guiné-Bissau e a Moçambique), os meios eram outros e o regime não tardou a incentivar esse tipo de correspondência, tratando de controlar a solidão e o desalento do soldado atirado para uma realidade que lhe era totalmente estranha.

Em cena entrou, pois, o Movimento Nacional Feminino, dirigido pela primeira figura feminina do Estado Novo, Cecília Supico Pinto (1921-2011). Casada com um dos homens fortes de Salazar (Clotário Supico Pinto), foi ganhando ela própria ascendente junto do ditador. Quando as primeiras tropas embarcaram para Angola, Cecília não teve, pois, dificuldade em implantar a sua estratégia de ação psicológica.

"O curioso - diz a autora do livro - é que aquilo que começa por ser uma iniciativa política, levada a cabo pelo regime, não tarda a ultrapassá-lo. Em breve revistas de grande circulação, como A Plateia ou a Crónica Feminina, começam a publicar listas com os nomes dos soldados que procuram madrinha de guerra. Outros recorrem à de ajuda de terceiros nessa busca, que tanto podem ser familiares como os próprios carteiros, pedindo-lhes que entreguem aquela carta à primeira rapariga, ou à mais bonita, que encontrassem na sua zona de trabalho."

Hoje, em tempo de redes sociais, sorrimos com o quase bucolismo de tal ideia, mas, como salienta Marta Martins Silva, "dificilmente imaginamos o que seria a expectativa pelos resultados dessas diligências. A chegada do correio deveria ser um momento muito emocionante para todos eles".

Logo no princípio da guerra, a vulgarização dos aerogramas, popularmente conhecidos por "bate-estradas", facilitou muito as comunicações entre a metrópole e as tropas em África. Como se pode ler neste livro, "eram, além de tudo, muito fáceis de utilizar pelas famílias, que não precisavam de escrever o endereço do militar a quem as missivas se destinavam - bastava que indicassem o nome e o seu número do Serviço Postal Militar, responsável por fazer chegar as cartas ao destino. Isto era possível porque cada destacamento militar tinha atribuído um número com quatro dígitos que identificava a exata localização dos soldados". Quando passaram a ser transportados gratuitamente pela TAP, com uma rapidez que o correio normal, com franquia, não conhecia, os números dispararam: "O número de aerogramas em circulação aumentou de forma exponencial: a média mensal até setembro de 1962 foi de 423 750 aerogramas, número que aumentou para 663 750 de setembro a abril de 1963, o que significou mais de 200 mil aerogramas por mês e mais de 2 400 000 enviados por ano."
Era o veículo possível para galgar a distância entre quem ficava num país pobre e quem partira para destino incerto: "Naquela altura, mobilizados rapidamente e em força, os militares interromperam a vida e deixaram pendentes os mais variados problemas pessoais: empregos, noivados, casamentos, pais em situações precárias. Naquela época, muitos deles eram o ganha-pão da maioria dos agregados e a sua ausência fazia mossa na comida que entrava em casa e não apenas nas saudades."

 

Madrinhas de Guerra - 1 - O amor é mais forte que a guerra

 


Marta Martins Silva, jornalista e escritora, autora do livro "Madrinhas de Guerra"
© Leonardo Negrão / Global Imagens


Em 1961, nos primeiros meses da Guerra Colonial, as raparigas portuguesas foram desafiadas a corresponder-se com os soldados enviados para África, tornando-se suas "madrinhas". A resposta foi conclusiva: ao longo dos 13 anos que durou o conflito, cerca de 300 mil jovens corresponderam-se com combatentes, tornando-se uma luz na escuridão da guerra. Como a jornalista Marta Martins Silva conta no seu livro "Madrinhas de Guerra", lançado pela Saída de Emergência.
"Adeus, até ao meu regresso", escreviam eles no final das cartas enviadas a quem ficara na metrópole. Mas para esses rapazes, alguns muito novos e ignorantes de tudo o que excedesse o perímetro da sua aldeia, ou do seu bairro se acontecia serem da cidade, era incerto o tão desejado reencontro,
Em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, nos 13 anos que durou a Guerra Colonial, centenas de milhares de homens conheceram a pontada do medo e do desenraizamento. Temiam por si, pelos irmãos de armas e pelos que tinham deixado na metrópole. Como o primeiro-cabo atirador Carlos Neves, que, em 1971, do norte de Angola, escrevia assim a Rosa, sua madrinha de guerra e futura mulher: "Queridinha, alguns dos meus colegas ficaram muito maltratados por motivo de uma emboscada onde foram feridos [...] Agradecia que não contasses nada aos meus pais para não ficarem em cuidados.
Esta é uma das várias histórias reconstituídas pela jornalista Marta Martins Silva no livro Madrinhas de Guerra - A Correspondência dos Soldados Portugueses durante a Guerra do Ultramar, com prefácio de Carlos Matos Gomes, militar, investigador de História Contemporânea e autor de várias obras literárias sobre o cenário de guerra assinadas com o pseudónimo Carlos Vale Ferraz.
Para Marta, tudo começou nas reportagens sobre o tema que fez para a revista de domingo do Correio da Manhã. Ao longo de anos a ouvir os testemunhos de antigos combatentes, compreendeu a importância do papel desempenhado pelas madrinhas de guerra, e que "tem sido negligenciado em todas as narrativas sobre o conflito." Por isso, quando a editora Saída de Emergência a convidou a escrever um livro sobre o tema, Marta não hesitou.
Até aos últimos dias antes do confinamento em março, recolheu as memórias de antigas madrinhas e afilhados, reuniu cartas e aerogramas, viu dezenas de álbuns de fotografias. Encontrou "um pouco de tudo, histórias com finais felizes e outras não, com alguns arrependimentos à mistura".
Admite também que várias vezes se emocionou porque sendo este um livro sobre a guerra, não deixa de ser também "sobre o amor e a importância da palavra amiga num contexto tão duro". Como mostra esta mensagem enviada do mato para Portugal continental: "Eu sou um militar longe, muito longe da minha terra natal [...] e com a sua ajuda o tempo passava um bocadinho melhor."


sábado, 28 de maio de 2022

Fernando César - Joaquim Raposeiro Azevedo - CCAC2543

 








O Quim chegou atrasado a Zau-Évua, e da forma recatada e discreta como sempre se afirmou. Calmo, pretensamente sério de fisionomia, mas com um sentido de humor muito próprio e cativante. Assumidamente ingénuo quanto às urbanidades, e por isso descrente das modernices por mais moderadas que fossem. Dormimos no mesmo quarto, durante muito tempo. Partilhámos algumas confidencias que me permitiram conhecer a sua generosidade, a sua admiração pela mulher/companheira, e a sua infinita modéstia. Um único defeito para a vida; o tabaco, que lhe deu a qualidade para a morte.

 Até sempre companheiro. Havemos de voltar a dormir no mesmo quarto. Não deixes ninguém ocupar o meu lugar. Dessa vez não iremos precisar de mosquiteiro. 

Mais uma tragédia. 

Deixou a nossa companhia e de tratar os seus arrozais. As minhas sentidas condolências para a família. 

Paz à sua alma.

 


             Fernando César

terça-feira, 24 de maio de 2022

Braz Gonçalves - uma história

 


Curta a historia que redundou num enorme "galo" no alto da cabeça.
Ainda o Vera Cruz não tinha começado a viagem e todos quiseram estar na amurada, para uma ultima despedida dos familiares e amigos presentes na nossa partida, quando uma garrafa de refrigerante, largada por alguém que estava no patamar superior me acertou na cabeça.
Fiquei com um enorme galo na cabeça nos primeiros dias de viagem
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segunda-feira, 23 de maio de 2022

Correspondência dos tempos da Guerra do Ultramar

Ontem foi dia de ter uma conversa com duas alunas da Escola Superior da Comunicação Social sobre um trabalho tendo como tema a Guerra do Ultramar









domingo, 22 de maio de 2022

Memorias-da-guerra-do-ultramar

 memorias-da-guerra-do-ultramar

O vídeo tem o seu interesse

Noventa por cento da população jovem masculina do país foi mobilizada para a Guerra do Ultramar, que causou cerca de 10 mil mortos e 20 mil inválidos entre os soldados e mais de 100 mil vítimas entre os civis que viviam nas colónias.

As imagens da Guerra do Ultramar fazem parte da memória coletiva da sociedade portuguesa nas últimas décadas, pela sua divulgação em orgãos de comunicação social, exposições ou mesmo por razões de herança familiar. São muitas as fotografias das despedidas, das partidas de comboio ou de navio. Não faltam também testemunhos visuais vindos dos teatros de operações de um conflito que começou em Angola mas que rapidamente se estendeu a outras colónias.
Destes territórios, a Guiné foi considerado por muitos como um dos mais complicados palcos de conflito que as tropas portuguesas enfrentaram. Foi neste difícil cenário que o general António de Spínola se viu obrigado a mudar a abordagem militar, investindo numa maior ligação às populações.

Memória Fotográfica é uma série documental onde as fotografias ganham vida com a presença do historiador que, agarrando neste ou naquele elemento da imagem, mostra como ocorreram episódios que marcaram a história portuguesa do século XX. Guerras, revoluções, intrigas, festejos, dramas, vitórias, líderes, derrotados e vencedores, de tudo se encontra nas fotografias que preservam parte da nossa memória coletiva. Elas retratam as mais diversas áreas e episódios da vida portuguesa do século passado.

sábado, 21 de maio de 2022

Lista das unidades militares envolvidas na Guerra do Ultramar


 wikipedia

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