Não havia Domingos ou Feriados.
A Guerra não tinha interregnos, não parava nunca.
Quem viveu na guerra", entre o arame farpado e as saídas para o mato em patrulhamentos, nomadizações ou apoio a colunas civis de abastecimento (MVL), pouca ou nenhuma diferença existia entre ser dia de semana, ferido ou Domingo.
A diferença existia apenas na perigosidade e no esforço que as saídas dos aquartelamentos suscitavam e as folgas para ganhar forças para a próxima saída.
As quarta-feiras e aos Domingos, havia uma sessão de descontracção para quem estava no aquartelamento - a chegada do MVL que ora vinha de Luanda ou ia para Luanda no seu regresso de entrega das mercadorias para abastecer civis e militares no trajecto que seguia até um pouco ao Norte de S Salvador do Congo. Havia sempre a hipótese de chegar algum correio ou vir algum companheiro ou amigo de infância, da recruta ou de qualquer outro local. Era sempre um momento de alegria e descontracção. A sua paragem dava para refrescar o corpo com umas cervejas nas cantinas, os passantes e um bom motivo para saber de novidades de Luanda ou de qualquer outro local.
Os aquartelamentos do Lufico e Zau Évua,estavam isolados, não estavam inseridas num núcleo populacional, o próprio aquartelamento era a "própria povoação".
O Tomboco, já tinha alguma vida própria, com algum movimento de civis, uma missão cristã e um posto do Governo.
Quiximba e Quiende, eram vizinhos duma sanzala com elementos oriundos de zonas do Sul de Angola numa tentativa de colonização daquelas áreas que ficaram desoladas e sem população desde o inicio da guerra. As idas à sanzala, em "passeio" também não serviam muito como "passeio dos tristes", como por aqui se chamam os passeios que começam e acabam sempre nos mesmos sítios e da mesma forma.
Os relatos do campeonato de futebol do "puto" eram ouvidos nos pequenos transístores e davam para as habituais discussões e disputas clubisticas, tal qual as de hoje.
Um motivo para mais umas cervejolas e umas apostas.
Aproveitava-se também para acertar o calendários dos campeonatos de futebol entre os diversos pelotões e serviços, nos estádios improvisados de cada aquartelamento. O rigor das arbitragens à data, não diferem muito das do momento nos nossos campeonatos oficiais. Não nos recorda de por lá ter existido algum "apito dourado", mas más arbitragens e, isso houve. Verdade se diga, que muitos dos erros tiveram como causa o estado dos "relvados" que não ajudava aos praticantes e criando enormes dificuldades aos árbitros.
Da mesma forma que a guerra não tinha pausas, as refeições, as transmissões e outros serviços não podiam parar e as escalas funcionavam sempre nas 24 horas do dia sem interrupção.
(estas fotos foram retiradas da Internet e não tem mesmo nada a ver com os Domingos e Feriados, mas são bonitas)
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