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terça-feira, 27 de março de 2018

Quiximba

QUIXIMBA

Aqui este sediada  CCAC251/BCAC2877 entre 1969 e 1971


Depois de um ano no relativo conforto de Santa Isabel, onde os riscos de guerra eram iminentes mas as acomodações e abastecimentos bastante seguros e confortáveis, no segundo ano de comissão fomos transferidos para o Zaire, com características geográficas e demográficas completamente diferentes. De comum, apenas a hostilidade mais ou menos disfarçada da população local, distribuída de forma diferente. No Uíge, pese embora a dispersão das populações provocada pela guerra, encontrávamos pequenos povoados dispersos, alguns sem qualquer presença militar ou autoridade civil visível, para além das autoridades tribais. No Zaire isso não acontecia, e os pouco povoados que vimos colavam-se a unidades militares estrategicamente distribuídas.

​Ambrizete parecia um paraíso, onde o refrigério do mar beijava uma larga e livre praia, tornando duro o virar de costas e rumar ao mato, mais do que uma centena de quilómetros inóspitos, apenas interrompidos por um "acidente" chamado Tomboco, onde se instalou a segunda companhia. Começava-se com alcatrão mas rapidamente ele cedia lugar à picada, valha a verdade que cuidadosamente mantida pela JAEA, e permitindo durante todo o ano o trânsito de todo o género de viaturas.
Quarenta quilómetros depois do Tomboco, no topo de uma colina, a estrada entalava-se entre um quartel e uma pista de aviação, e estávamos chegados a Quiximba.
A povoação seguia-se ao quartel, alongando-se pelos 600 metros da pista em descida suave, e um pouco mais longe, subindo a pequena encosta seguinte.
Havia uma simples lógica urbana na povoação: encostados ao quartel o posto do administrador local e a cantina do comerciante branco. Depois descendo a ligeira inclinação algumas filas de cubatas paralelas à estrada, voltando a subir ligeiramente na escosta seguinte cujo topo era ocupado por uma capela regularmente fechada.


Numa terra onde o único acontecimento digno de relevo era o milagre da sobrevivência diária, a nossa chegada alvoroçou tudo, e fomos surpreendidos por uma legião de mulheres à porta de armas, que se agitavam em algazarra e corriam gesticulando por fora do arame, enquanto as viaturas entravam no perímetro que lhes estava vedado, estabelecendo à distância contacto visual com os militares que desciam das viaturas, e se dirigiam aos camaradas instalados, que se preparavam para sair.
Dos primeiros contactos entre militares nasceu a explicação da agitação civil: as mulheres eram as lavadeiras que, na rendição da tropa, procuravam novos patrões.
A organização sócio-económica daquela comunidade era um caso sui-generis resultante da combinação dos poderes arbitrários duma administração autoritária com a adaptabilidade imposta pelo instinto de sobrevivência.



Tal como nos foi contada, a história de Quiximba começou alguns anos antes no Quanza-Sul, quando uma violenta sublevação dos nativos levou as autoridades a tentar cortar o apoio de retaguarda aos revoltosos, limitando-lhes o acesso às famílias,
Mulheres e crianças foram carregadas em vários camiões, e transferidas para mais de 300 km de distância, para uma terra de ninguém, suficientemente isolada para ser fácil o seu controlo.
Assim nasceu Quiximba, que, quando lá chegámos, registava uma população de cerca de mil mulheres, outras tantas crianças, e cinco ou seis dezenas de homens, maioritariamente velhos.​
Estava naturalmente instalada uma economia de sobrevivência, onde as mulheres retiravam das lavras os géneros de que subsistiam.
Dinheiro só entrava de duas maneiras: o pagamento da lavagem de roupa pela tropa, e a venda de farinha de mandioca ao comerciante branco, que em troca lhes fornecia as outras poucas outras coisas de que dependiam. Cada quilo de farinha era vendido a um escudo e, para a maioria, era o resultado do dia de trabalho que restava depois das lavras e dos filhos

Cada militar pagava mensalmente umas dezenas de escudos pela lavagem da pouca roupa que mudava regularmente, e sendo um trabalho leve, principescamente pago pelos padrões locais, a disputa de clientes era feroz.​ Um milhar de mulheres disputava uma centena de homens...
​​Gerou-se e sedimentou-se uma ética do negócio, que obrigava cada lavadeira a trabalhar apenas para um cliente. Para valorizar a qualidade do serviço oferecido (e, talvez, compensar a falta de homens na povoação, cujos contactos com o exterior eram muito limitados), convencionou-se que a lavadeira seria também propriedade sexual do patrão, o que, na gíria local era definido como um serviço abrangente, eufemísticamente designado "lavar a roupa e o quico".
Por isso as mulheres, tão produzidas quanto a sua miséria lhes permitia, se mostravam aos recém-chegados, na esperança de que a perspectiva da lavagem do quico se sobrepuzesse à questão da roupa, e lhes garantisse serem escolhidas.
Claro que, as mais velhas nem tentaram misturar-se nessa competição perdida à nascença, ficando à distância a ver o combate, algumas meditando por detrás do seu cachimbo, talvez pensando nas consequências duma rotineira relação entre as mulheres locais e os passantes militares.


Foi um ano sereno, com ambas s partes (militares e nativos) a respeitar as regras do jogo, mas, quando abandonámos o local, já depois do 25 de Abril. e com a descolonização a dar os primeiros passos e a instalar as primeiras confusões entre angolanos, era para nós um dado adquirido que, passado o tempo da ocupação branca, a população desviada seria devolvida às origens, reconstituindo na medida do possível as famílias desfeitas, e retomando o curso da vida normal.
Quiximba deveria ser hoje uma memória varrida do mapa, um espaço devolvido à natureza pela população realojada.
Não é exactamente assim:
Qualquer pesquisa pelo nome de Quiximba remete-nos para evocações militares, parecendo confirmar o desaparecimento da povoação com o fim da intervenção portuguesa, mas a verdade é que a povoação está lá, embora escondida pela substituição de nomes e grafias levada a efeito pelas autoridades angolanas.
Surgem algumas menções a Kicimba, que parecem referir-se ao mesmo local, e, mais recentemente, a Kinximba, no município do Tomboco, que não pode deixar de ser a "nossa" Quiximba.
Notícias da Angop em 2007 descrevem Kinximba e Kinzau como zonas do Tomboco ainda fortemente minadas, provocando mortes na população, e isso ajuda a perceber porque é que, ao contrário de outros sítios (Santa Isabel, ao que parece) a intervenção dos portugueses na área não foi liminarmente apagada, apenas rebaptizada.
A saída dos portugueses não foi seguida por um período calmo, onde se pudesse pensar e rectificar os desequilíbrios gerados. Pelo contrário, o período subsequente foi convulsivo, descambando numa longa guerra civil que destroçou ainda mais as precárias vias de comunicação e agudizou as divisões internas. Movimentos maciços eram impensáveis, continuando as populações confinadas e ainda mais limitadas.
Tentando adivinhar, a pista aérea é hoje terreiro de cubatas, a pele do comerciante e do administrador mudou de cor, o quartel foi arrasado ou usado para instalar as novas autoridades ou escolas, mas Quiximba continua lá, respondendo hoje pelo nome de Kinximba, e porque foi há pouco festejado o alcatroamento de N'Zeto a Mbanza Kongo, isso significa que os turistas saudosos podem fazer os 217 quilómetros de Ambrizete a São Salvador do Zaire, atravessando Tomboco, Quiximba, Zau Évua e Quiende, sem receio das minas que ainda por lá dormem.
Pelo caminho, podem aproveitar o bónus turístico de saber o que são Quiza, Cana, Finda, Baca, Cumbi, Lemo ou Quindeso, nomes que aparecem no percurso, mas nada dizem à maioria de nós


domingo, 25 de março de 2018

ZAU ÉVUA






    ZAU ÉVUA

Chama-se Zau Évua
O sítio onde
Na ponta de um pau
Existe um pano
Verde e encarnado

Era daqui
O menino negro que mataram
E não cresceu na terra que era sua
Ninguém o chorou 

Porque ninguém ficou para chorar

Neste chão
Regado pelo sangue do menino
Um pau ficou espetado
Tendo na ponta um pano
Verde e encarnado

Poema de José Niza
10 de Agosto de 1969

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Ex-camaradas do BCAC2877 falecidos

Em actualização


Por acidente ou por doença temos conhecimento que faleceram os seguintes ex-camaradas do BCAC2877

Arnaldo Carvalho Paula Santos 
CMDT
*
José Gualberto Nascimento Matias 
 Of Operações
*
João Damas Vidente 
 2º CMDT e CMDT
*
José Salvado M Dias Silva 
 Furriel do PELREC
*
Júlio Viegas Correia 
2º Sarg Op e Inf
*



José Niza
Médico
*


Alvarim Colaço Pimenta
Sapador
Ao nosso amigo e companheiro de sempre: Alvarim Colaço Pimenta
O sentimento da perda da vida, trespassa, desde que nos passamos a conhecer, milhões de vezes pelo nosso pensamento.
Quem parte para a guerra, leva consigo a esperança e a certeza. A esperança de voltar, a certeza de que tem muitas hipóteses de tal não acontecer.
Como dizia José Niza, no seu livro, " Poemas da Guerra", na dedicatória ao BCAC2877, " naquela guerra . . .onde ficámos amigos para sempre".
Na guerra isso acontece.
Criam-se amizades para sempre, algumas delas com laços mais fortes que as familiares.
Quando se perde um desses amigos, perde-se um pedaço de nós próprios.
Uma parte da nossa vida, a nossa vida, talvez nuns instantes, numas horas, nuns anos, está nas nossas mãos.
Ninguem sabe qual é esse momento.
A vida ao que se saiba, não é eterna.
Algum dia essa chama que a vem alimentando, aquecendo e iluminando, apaga-se.
A maneira abrupta, persistente, perseguidora ou violenta do acabar da vida, causa-nos estranheza, consternação, raiva, dor.
O momento em que a vida deixou de estar nas nossas mãos, foi a morte !
*

Guilherme Conceição Gouveia
  Op Cripto
(O terceiro da esquerda para a direita)
No meio


Olhando para esta foto tenho que relembrar as muitas horas de "trabalho" e de convívio que tive com o Guilhermer Gouveia, já falecido, nesta foto, está no meio. Foram muitos dias, muitos meses a conviver lado a lado, porta com porta entre o Centro Cripto e a Sala das Operações e Informações. Sabemos bem que a vida não para, mas olhando para estas fotos, não podemos nunca deixar de pensar, quão jovenms nós eramos e todo o tempo inglório que das nossas vidas por lá deixamos disperso nas matas de Angola, apenas serviu para nos tornar a vida mais dificil, complicada e atrasando o nosso futro de então.  Gouveia, era meu conterrâneo da Cova da Piedade e faleceu ainda muito jovem. Cantava o fado e sempre teve este ar de muito jovem, tinha um andar e um modo de falar muito próprio, era simpático e gaguejava um pouco. Creio que foi por sua culpa que não mais pude cheirar sequer uma bebida horrorosa a que chamam Martini - no dia do seu aniversário, fizemos uma pequena festa acompanhada de 7UP e Martini e nesse dia, bebi mais Martini que 7UP. No dia seguinte, fiquei com a boca a "saber a papéis de música" e com a certeza de que não beberia mais aquele produto quimico. E assim foi até hoje. São recordações em manhã de Domingo, chuvoso, triste, como muitos daqueles que por lá tivemos que passar. 

Estou a aguardar que chegue o MVL a caminho de SSalvador, porque hoje  é  Domingo.  
Um abraço aos que nos visitarem
*

Manuel Bastos Rico
Oper Mensagens
*


Carlos Alberto Oliveira Camilo
Transmissões
*
Fernando Garcia  
Radio Montador
*
José Albano Coletra
*

José Costa
*

José Pereira Ribeiro
Escriturario
*

Manuel Pereira Gomes
Capelão
*


José Albano Coletra

*
Adelino Almeida Figueiredo

*

António Pimentel Fontes
Sacristão
*



João Luís Rosa Valadas
2018


Joaquim Raposeiro Azevedo - faleceu

Luto

Joaquim Raposeiro Azevedo faleceu vitima de doença prolongada


 Aqui o vemos entre a esposa, que faleceu igualmente com doença prolongada o seu  camarada da CCAC2543 - Fernandes.
Para quem o conheceu e com ele lidou,  na CCAC2543 e posteriormente, sabe da amizade que granjeou entre todos os que com ele comparticiparam momentos de vida em conjunto.
Um ex-camarada e um fiel e inveterado amigo nos deixou, com ele a saudade de muitos de nós



Antigos combatentes - guia prático


Para ler aqui:  Guia Prático

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Padre Manuel Pereira Gomes - que foi capelão do BCAC2877 faleceu





Fotos da confraternização de 2011

Morreu na  passada  terça feira 19 de Setembro de 2017,  o padre Manuel Pereira Gomes que foi o Capelão do BCAC2877 - Angola 1969-1971. O sacerdote da Companhia de Jesus estava há vários anos a residir na Póvoa de Varzim na Basílica do Sagrado Coração de Jesus. Recentemente completou 50 anos de sacerdócio na terra que o acolheu nos últimos tempos. Curiosamente, o jesuíta tinha partida prevista para outra localidade no próximo domingo, altura em que a paróquia da Matriz passará a liderar os destinos da Basílica. A morte acabou por chegar aos 79 anos, depois de uma vida dedicada à pedagogia e à educação. Era reconhecido pelos próximos como uma pessoa afectiva, entusiasta e acolhedora. O velório realizou-se a partir das 17h30 e o funeral foi no dia seguinte,  com missa de corpo presente na Basílica às 15h.

Notícia em "Jesuitas em Portugal"

"Faleceu no dia 19 de setembro o padre Manuel Pereira Gomes. O sacerdote jesuíta estava na comunidade da Póvoa do Varzim sofreu um problema cardíaco, tendo morrido de forma repentina e inesperada. Tinha 79 anos, 63 de Companhia e tinha celebrado este ano 50 anos de sacedócio.
 Manuel Pereira Gomes nasceu em 1938 na Mata do Fárrio, Freixianda, Ourém. Fez o curso da Escola Apostólica de Macieira de Cambra, entre 1949 e 1954.
Entrou na Companhia de Jesus a 7 de setembro de 1954, para o noviciado de Soutelo, em Braga. Dois anos depois fez o juniorado também em Soutelo, durante três anos, iniciando posteriormente os estudos em Filosofia em Braga, entre 1959 e 1962. O período de magistério foi passado em Cernache.
 Os estudos de Teologia foram feitos em Espanha, em Granada, durante quatro anos, tendo terminado em 1968. Ainda antes de os finalizar, recebeu a ordenação sacerdotal em Fátima, no dia 15 de julho de 1967.
 A sua atividade apostólica pós-ordenação aconteceu em terras africanas, em Angola, onde foi capelão militar de 1968 até 1971. Aí retornou à Província e foi destinado ao Instituto Nun'Álvres, nas Caldas da Saúde, como professor e espiritual dos alunos do 3º ciclo. Durante este período foi também diretor do curso complementar. Em 1979, assumiu o cargo de diretor pedagógico do Colégio da Imaculada Conceição, em Cernache
Em 1987 foi para a residência de São Francisco Xavier, em Lisboa, como delegado da Educação para os Colégios e foi também vice-presidente da Associação dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo.
 Em 1990 voltou para o Instituto Nun'Alvres, em Santo Tirso, onde assumiu o cargo de Diretor Pedagógico, mas continuando como delegado de educação para os colégios.
Quinze anos depois, voltou à Faculdade de Filosofia, em Braga, para exercer o cargo de professor. Até 1999 colaborou com o grupo de reflexão e análise dos colégios. A partir do ano seguinte, 2000, ficou somente como professor de diversas disciplinas na Faculdade de Filosofia.

 Em 2009 foi enviado para a comunidade da Póvoa do Varzim, onde colaborou nos ministérios apostólicos da comunidade e da Basílica do Sagrado Coração de Jesus. Aqui acabou por morrer, de forma repentina, no final do verão, numa altura em que a Companhia tinha decidido deixar esta missão da Póvoa, entregando a basílica à Arquidiocese de Braga. O Padre Manuel Pereira Gomes não chegou, por isso, a ser enviado para a Paróquia de São Pedro, na Covilhã, onde estava destinado."

domingo, 23 de julho de 2017

Guerra de África - o trauma

Custa pensar assim.
Na vida há bons e maus momentos.
Há recordações passageiras e persistentes.
Cada ser humano tem o seu ego, a sua matriz, o seu ADN.
Podemos comparar um com outros. Todos serão diferentes, mas alguns com pontos comuns.
Mas, dar comigo a cada momento a relacionar situações, fotos, cheiros, barulhos e notícias com a Guerra de África, começa a ser doentio.
Sinto que estou um pouco assim conforme vou envelhecendo.
Não quero esquecer o que passei por lá. Eu e as centenas de milhares que por lá passaram, obrigados.
Mas...
Mas , serei eu, só o único?

sábado, 22 de julho de 2017

21 de Julho de 1969


21 de Julho de 1969 a chegada a Luanda

Na senda das recordações e, acima de tudo, com a esperança que possamos deixar para o futuro, alguns dados da nossa vivência como militares e combatentes na Guerra de Áfria, vamos , com a nossa modèstia, deixando alguns relatos, opiniões e fotos dessa triste passagem de 2 anos por Angola.
Com Luanda à vista, depois de uma noite em que pelos rádios se ia ouvindo o relato da chegada do primeiro homem ao satélite da nossa Terra, o Vera Cruz, ansiava pelo descanso de uns dias, enquanto não regressava, pelo caminho das mesmas ondas para o Puto. Para lá levava, milhares de militares que iriam cumprir uma parte da sua obrigação de escrever umas tristes páginas da História de Portugal, para cá, o regresso não era tão penoso - uma parte dessas páginas já estava escrita por esses militares que esperavam com ansiedade esses momentos de embarque para casa.
Lentamente o Vera Cruz, como que cansado da longa viagem, foi-se aproximando do cais do Porto de Luanda. 

A enorme e lindissima baia, aí esta, tambem ela na expectativa de que, muitos dos agora forasteiros a iriam desfrutar em passeios descontraidos à beira mar, lavando o espírito das poeiras das picadas, das emboscadas, das doenças e da infinita tristeza gerada pela distância de familiares e amigos.
Luanda esperou.nos, com aquele calor tropical que desconhecíamos.
Esperou-nos e não foi nada hospitaleira.
Um enorme comboio, velho, mal tratado e nauseabundo, acolheu os militares, um pouco melhor que gado destinado ao matadouro, para nos levar, para o maior aquartelamento de Angola.




Á saída de Luanda, o Grafanil, era assim como uma placa giratória que albergava todos, os que chegavam e os que partiam.
Luanda era uma cidade enorme, com um movimento desusado de militares e civis. Muito civis eram militares,


Em Luanda, não havia guerra, mas havia o seu cheiro por todo o lado.
Circulava-se sem problema, a pé ou de transportes. Na cidade não havia guerra. 
Cafés , bares, restaurantes e cinemas funcionavam.
Haviam locais específicos para a troca de Escudos por Angolares.



Havia os bairros e casas do ricos. 
Havia as casas dos pobres e os bairros, os musseques, com a sua vida e a sua própria filosofia de vida.




Havia uma enorme rede de cafés, bares restaurantes e locais nocturnos. Estes, frequentados na sua maioria por militares que aí, matavam a sede da bebida e da "carne branca" a troco de muitos e muitos angolares.

Luanda, tinha uma população que acarinhava os militares. 
Pudera. Havia bastas razões para o fazer.
Quem pode fazer uma viagem, durante a noite, pela marginal e pela ilha, tive o previligérios de desfrutar um ambiente fantástico de cor, que muitas fotos atestaram

Por aí, ficamos, 2 ou 3 dias, antes que a guia de marcha no fizesse obrigar a ser carregados em camiões civis, com enormes taipais, onde fomos misturados com a parca bagagem que nos acompanhava.

A partir do momento em que foi pisado o solo angolano, não creio que tivesse sido lembrado que nesse mesmo dia, nesses momentos, o homem andava lá pela Lua. Com um pouco de sorte, algum dos 3 astronautas até no poderia ter fotografado (?).

Não mais foram lembrados. A preocupação de quem chegou era única - saber qual seria o poiso, que foi guardado, bem guardado em segredo.

Sabíamos que iríamos para o Norte, mas era tão grande esse Norte de Angola que a dúvida ficou sempre até ao final da viagem.

Ambrizete, foi a primeira paragem, não ficamos por aí, era bom demais para uns maçaricos como nós.



Até ao Ambrizete, ainda apanhamos uma picada asfaltada, embora com valas e enormes buracos por todo o caminho.





A partir do Ambrizete, Tomboco, Quiximba, Zau Évua e Lufico, foi só, pó e picada, pó e picada.


Tomboco - quartel da Missão



quinta-feira, 20 de julho de 2017

[BCAC 2877 - Angola 1969 - 1971] Novo comentário sobre CCAC2542 – LUFICO - Angola.

Mensagem deixada no Blog

 

De: Antonio Geraldes [mailto:noreply-comment@blogger.com]
Enviada: 20 de julho de 2017 06:48

Assunto: [BCAC 2877 - Angola 1969 - 1971] Novo comentário sobre CCAC2542 – LUFICO - Angola.

 

Antonio Geraldes deixou um novo comentário na sua mensagem "CCAC2542 – LUFICO - Angola":

Pertenci à 2542. Convém esclarecer algumas indicações menos correctas constantes do texto no blogue. A 2542 fez o seu IAO em Murfacém, no alto da Trafaria, num antigo aquartelamento de artilharia de costa do tempo da Segunda Guerra. Nos últimos 15 dias fomos passar "férias" para o pinhal da Fonte da Telha, como as outras companhias do batalhão.
O caminho que ia do Tomboco ao Lufico fazia parte da "estrada Luanda-Noqui e continuava até essa povoação.
O abastecimento de Nóqui era feito pelo rio Zaire, pelo que o MVL ia aé ao Lufico e regresava ao Tomboco.
Salvo melhor informação, a 2542 foi a primeira e única Ccaç a aguentar dois anos (25 meses) no Lufico. Como diria o outro, não fomos melhores nem piores mas somente diferentes.
Obrigado pela existência do blog
A Geraldes



Publicada por Antonio Geraldes em BCAC 2877 - Angola 1969 - 1971 a 10/04/17, 14:14