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domingo, 2 de janeiro de 2011

Jose Niza

Jose Niza escreve no  jornal O Ribatejano.
Aqui está uima passagem dum artigo naquele jornal onde fala de Zau Évua

"A outra carta é também de 1971 e foi-me enviada para Zau Évua, no norte de Angola: eu estava numa guerra a sério e não propriamente a apanhar sol nas praias do Musssulo…
Dizia-me ele – no seu delíro lúcido – que ia cantar a Angola e a Moçambique e precisava que eu o acompanhasse à viola.

Texto baseado numa carta que lhe escreveu Zeca Afonso para Zau Évua.
"E então, era assim: “Se quiseres aparece, o que me daria uma enorme satisfação”… “Se tiveres possibilidade tomas um táxi aéreo ou segues de avião para Sá da Bandeira. Basta-te reservar bilhete e ou paga o exército ou o Rádio Clube de Huíla. Vê se te safas.” E rematava: “Em Moçambique poderiam oferecer-te uma passagem, tocarias em Lourenço Marques e Beira! Que tal?” Como se vê, tudo fácil e nada mais simples: trocava a guerra pelas baladas e a tropa ainda me pagava as viagens! Ok chefe!" (O Ribatejo)

Zau Evua - testemunhos

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Lufico - testemunho

Testemunhos das terras por onde andámos...

"Recuar ao ano de 1966, para me situar naquele dia 9 de Maio na pequena mas linda cidade do Ambrizete, ali mesmo junto do Atlântico! Parecia um dia como tantos outros, não fosse ter na mão uma credencial passada pela minha Companhia de Engenharia, para logo pela manhã incorporar uma grande coluna de carros militares e civis, que daqui abalaria até à cidade de S. Salvador do Congo, lá mais no interior do norte de Angola. Era uma coluna de abastecimento para civis e militares, coisa já rotineira neste conflito, que era a guerra colonial.

Seguia comigo um outro camarada e grande amigo da Engenharia de nome Manuel Neto e que sempre me acompanhou desde a recruta em Paramos, até à mobilização e com quem fazia equipa nos trabalhos de electricidade, que haveria de ser necessário executar pela companhia durante os dois anos da comissão de serviço naquela colónia.
Era a primeira vez que iríamos deixar a nossa tropa da Engenharia, para um trabalho temporário, algures mais a norte, num local para nós desconhecido e que se chamava Lufico... Lembro-me perfeitamente, que ocupamos um lugar no mesmo carro, porque não conhecíamos ninguém da nossa tropa e até me recordo de ter aconselhado o Neto a não aceitar um melhor lugar num jipe, que, fora oferecido a um de nós pelo alferes - naquele dia sem divisas - da tropa do Lufico, um pouco antes da coluna arrancar do Ambrizete...
Esta grandiosa coluna seguiu intacta até ao Tomboco, e, aqui, a tropa do Lufico composta de cinco carros, separou-se para seguir rumo ao seu objectivo, que distava cerca de cem quilómetros, ou um pouco mais...
Faltaria pouco mais de trinta quilómetros para atingir o nosso objectivo e aconteceu um ataque-surpresa, montado bem perto da picada pelos guerrilheiros de um dos Movimentos de Libertação, que, no caso, seriam da FNLA ou MPLA, possivelmente, e que atingiu o jipe e um unimog, que eram a frente da nossa coluna militar. As baixas do lado da nossa tropa cifraram-se por alguns mortos e vários feridos, e, era a primeira vez, que tanto eu como o Neto, tomávamos contacto com a guerra de guerrilha e duma forma trágica para alguns daqueles jovens, e, vem-me sempre à memória, que, uma das baixas, foi precisamente o jovem maqueiro que aceitara o lugar que fora oferecido ao meu bom amigo Neto!..."

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Zau Évua

Foto de um antigo companheiro da Ccaç105/72 a tomar banho no rio M'Pozo onde era feita a captura da água.
Algumas vezes, umas granadas  lançadas para a água resultavam na captura de algum peixe.
Só que peixe de rio, só dava para "provar" uam vez.  Aconteceu connosco

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Stress prós-traumático da Guerra de África

Calculam-se mais de 150.000 antigos combatentes da Guerra de África que sofrem deste "mal".  Não só eles, mas tambem uma grande parte de suas esposas ou companheiras foram apanhadas pelo mesmo mal - depressão, falta de concentração, instabilidade emocional e de controle de impulsos.
Temos conciência que muitos dos nossos antigos companheiros, podem ter assumido como "naturais" este tipo de comportamento, quando tal assim não acontece.  A razão e a causa desse tipo de distúrbios, pode estar mesmo no tal "mal" que vai minando a saúde, o bem estar e a qualidade de vida dos antigos combatentes.
Convem recordar que passados todos este anos após o nosso regresso poderemos ter ficado "picados" popr esse bichinho e não convem nunca descurar ou omitir a sua existência.
Consultar um médico,  ajuda certamente.

Zau Évua - panoramica

Vista do aquartelamento de Zau Évua, em foto tirada da torre da Capela ou seja da torre de vigia. Ao fundo veem-se os morros de Zau Évua, a caminho do Quiende e de S. Salvador. Ve-se parte da picada Ambrizete-SSalvador ao fundo
Estas caserna foram cosntruidas pelos Sapadores do BCAC2877 e são em alvenaria de tijolo, ao contrario de todas as outras - onde estava  a Ccac105,  que eram em madeira (barracas).  Existia um poço e uma horta do lado de cá da picada. O Sarg Valério era o responsável pela horta. O poço foi aberto depois da prospecção de um Sarg da Ccac2543 que tinhas dotes excepcionais de vedor.  Primeiro foi aberto um poço junto à caserna dos Civis, atrás do alojamento do Cmdt, do 2º Cmdt e do Of de Oper. e Inf.  Esse poço, na altura das chuvas transbordava e foi essa a razão porque se  procedeu à abertura de novo poço.
Antes a agua era transportada por um tubo enterrado no solo desde o rio que passava ainda a alguma distância do aquartelamento. Ocasionava problemas de segurança a quem se deslocava para reabastecer de gasóleo o motor Listar que era utilizado para a bombagem da àgua. Uma secção de GComb fazia esse serviço. Quando acabava o gasóleo, o motor parava. Existia outro problema que resultava do facto de que qaundo chovia a agua ficava turva durante dias seguidos, obrigando assim a ser bombada a àgua barrenta o que dificultava o seu  posterior consumo para confeccionar a alimentação, banhos, lavagens de roupa e consumo.
Como curiosidade, aconteceu que foi pré-construida uma tampa para o poço e foi feita uma aposta - uns companheiros  conseguiram colocar a tampa em betão, a força de braços. Ganharam umas boas cervejolas.
Estranha-se que nesta foto não se verjam vesdtigios do poço e da horta que ainda era grande.
Por outrolado foi limpa toda a vegetação (capim alto e sempre verdejante) junto ao aramer farpado. Vê-se a  vala com água. Do lado contrário, na época das chuvas, tambem por lá ficava durante alguns meses ,uma pequena lagoa junto do arame farpado. Fazia-se uma jangada com bidões vazios e havia quem por lá fizesses umas viagens de circum-navegação.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Zau Évua - acidente com avião da FA

Numa das nossas procuram sobre temas da Guerra de África, deparámos com esta publicação:


Uma recordação da morte do Piloto Aviador da DO 27 que se acidentou perto de Zau Évua e que todos  recordamos com mágua. No mesmo avião seguia  mais um elemento da FA e o Sargento de Informações e Operações.  Para alem da morte do piloto, que vimos carbonizado dentro dum Heli da FA, o Sargento ficou muito mal, assim como o outro elemento. Foram evacuados para Luanda e depois para o Puto.  Soubemos mais tarde que o Sargento do Exercito, que era de Lagos, se terá suicidado.
Temos ainda na nossa posse um par de auscultadores desse avião.
Por curiosidade, recordo que quando da visita aos destroços do aparelho por uma comissão de inquérito ao acidente, essa comissão apenas fez transportar consigo a antena e as rodas do aparelho.
Para se fazerem uns bancos de bar giratórios na messe de sargentos, utilizaram-se uns rolamentos do avião.

domingo, 26 de dezembro de 2010

BCAC1903 - Zau Évua 1967 a 1969

http://www.facebook.com/pages/Batalhao-de-cacadores-1903/156612124360546?v=photos#!/pages/Batalhao-de-cacadores-1903/156612124360546?v=info#info_edit_sections

Zau Evua - Testemunhos

Dum nosso companheiro da CCAC105 que esteve em Zau Évua em 1972, aqui fica um seu testemunho, desde Luanda a Zau Évua.

"Após umas duas/três semanas de permanência naquele regimento, aguardando o meu próximo destino, incorporo, em Março desse mesmo ano que em regime de rendição individual ia render a CCAÇ 105/71 instalada em Zau-Évua.
Munido da respectiva guia de marcha eis-me a caminho da desconhecida Zau-Évua. Nunca dela tinha ouvido falar, nem sabia onde se localizava. Assim, num Sábado desse mês de Março, pelas 04h00 da manhã, apresentei-me de arma e bagagem na Manutenção Militar sita na Estrada de Catete onde o MVL [Movimento de Viaturas Logísticas] era formado.
O M.V.L. era constituído por diversos camions civis fretados, para além das próprias Berliets do exército. A logística consistia no transporte de víveres, combustíveis diversos, madeiras, vário tipo de equipamentos, maquinaria, etc., etc., a fim reabastecerem os diversos interesses civis e militares instalados nas rotas de cada M.V.L.
Apresentei-me ao graduado que comandava a escolta militar de protecção ao M.V.L., tendo perguntado como é que iria. Após uma resposta que no contexto me pareceu estúpida, acabei por ir na cabine de um dos camions civis. Mais tarde fiquei a saber que esse era o “procedimento normal”, ou seja, ir ou vir à boleia.
Os preparativos não me foram estranhos, pois já tinha visto os mesmos quando me enviaram para Ambriz. A novidade era a “boleia”, pois na ida e vinda de Ambriz foi sempre num Unimog.
Escolta pronta, um Unimog à frente, seguido de uma Berliet já preparada com sacos de areia na carroçaria para que quando entrássemos a sério na zona de guerrilha e nas chamadas “estradas/picadas” ela pudesse entrar em acção no rebentamento de minas anti-pessoal, caso as houvesse, camions civis, mais um Unimog, mais camions, Unimog, camions e a fechar mais um Unimog. Pelo meio iam mais duas Berliets carregadas. Refiro que o Unimog da frente e o de trás iam reforçados com artilharia mais pesada que os do meio, para o que "desse e viesse".
Tudo pronto saimos tendo como destino Ambrizete onde ficaríamos aquartelados até a noite/manhã de Domingo.
Passamos Cacuaco, Quifangondo, Porto Quipiri e após a Fazenda Tentativa o M.V.L. e a protecção militar dividiram-se. Uma pequena parte do M.V.L. seguiu para Ambriz e a outra para Ambrizete - via Caxito. De Freitas Mornas, um posto avançado do exército, veio um grupo de combate que reforçava a escolta para Ambrizete, considerando que uma parte da que saiu de Luanda acompanhou o M.V.L. com destino a Ambriz.
Ambrizete distava de Luanda cerca de 300 km e era uma Vila bem simpática, arejada, limpa, já de mim conhecida quando da minha permanência em Ambriz.
De vez em quando, aproveitando a saída de uma patrulha, “desenfiava-me” até lá, pernoitava num hotel perto das instalações militares e depois regressava no anonimato. Como relato nos temas dedicados a Ambriz, não tinha controlo e era-me fácil sair, mas sabia que na retaguarda tinha o apoio dos meus camaradas da vivenda do comando, major Santiago Maia.
Chegamos a Ambrizete ao fim da tarde, mas ainda com o Sol a aquecer as águas límpidas do Atlântico. Enquanto a escolta e outros militares rumavam para o aquartelamento, eu instalei-me no tal hotel onde já algumas vezes tinha ficado nos “desenfianços" de Ambriz. Não me recordo do nome do hotel, apenas lembro-me que a proprietária era tratada de “madrinha”. Porquê não sei, nem nunca me interessou, pois entrava e saia sem querer saber de pormenores.
Depois de um bom banho retemperador e de me ter trajado à civil, desloquei-me até ao restaurante Brinca n’Areia que ficava no areal perto da praia, a fim de degustar uma boa lagosta ou os famosos lagostins de Ambrizete. Já antes tinha recebido a informação de que retomaríamos a marcha no dia seguinte, Domingo, por volta das 04H/04H30.
No Brinca n’Areia havia um empregado bem simpático que chamávamos de “Carlinhos”, pelos motivos óbvios, e era um bom auxiliar nas escolhas dos clientes mais indecisos. Na altura um bom profissional, digo eu.
Após estabelecer posteriormente contacto com uma das minhas conhecidas de um dos bairros, regressei ao hotel enquanto Ambrizete começava a preparar-se para mais uma noite de rebita, de farra na sanzala, ao som de um grupo musical num dos clubes existentes, ou de um gira discos num dos muitos quintais de aduelas fechado, nos quais alguns “vaidosos” iriam exibir a sua banga na passada.
Bons momentos passei em Ambrizete quando deslocado em Ambriz e depois em Zau-Évua.
Na noite/madrugada de Domingo retomamos a marcha e após termos passado por Tomboco e Quiximba eis que surge Zau-Évua. A tabuleta fixada na estrada assim o dizia.
Penso termos chegado por volta das 14H00.
Tinham-se percorrido cerca de 500 km, distância de Luanda a Zau-Évua e gasto umas 34/35 horas a percorre-los.
A escolta foi refrescar-se com umas cervejas e eu apresentei-me ao comandante da companhia. Deram-me a conhecer as instalações das transmissões (posto rádio e quartos de dormir), verificando, a exemplo de Ambriz. que ficávamos isolados das casernas existentes e, neste caso, também do comando.
Não me lembro de quem fui substituir. Apenas sei que fomos, os “maçaricos”, bastante ovacionados pelos “veteranos de um ano” que esperavam a rendição. Foi uma festa para os que receberam o seu substituto e uma desilusão para os que teriam que aguardar que no próximo M.V.L. chegasse o seu. Se nesse chegasse.
Daquilo que rapidamente vislumbrei Zau-Évua era um aglomerado de barracas militares, com uma capela no alto de uma elevação relativamente perto do Posto de Transmissões. Em redor do aquartelamento não se via vivalma. Apenas éramos nós, os militares, os que davam vida humana àquela imensa zona geográfica.

Nenhuma sanzala, nenhuma aldeia, nenhuma povoação. À vista desarmada era um autêntico deserto [comprovei quando instalado], ou seja, estávamos completamente isolados. Para além da pista de aviação, no exterior, existia bastante capim alto e algumas montanhas.
Mas de pormenores e estórias sobre a minha estada em Zau-Évua debruçar-me-ei em próximos temas.

Este tem apenas como objectivo dar a conhecer como passei o meu 2º Natal fora do seio familiar, já que o anterior tinha sido passado em Ambriz.
Entretanto no decurso dos meses mais camaradas foram chegando até a rendição ter ficado completa.