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domingo, 29 de maio de 2022

Madrinhas de Guerra - 1 - O amor é mais forte que a guerra

 


Marta Martins Silva, jornalista e escritora, autora do livro "Madrinhas de Guerra"
© Leonardo Negrão / Global Imagens


Em 1961, nos primeiros meses da Guerra Colonial, as raparigas portuguesas foram desafiadas a corresponder-se com os soldados enviados para África, tornando-se suas "madrinhas". A resposta foi conclusiva: ao longo dos 13 anos que durou o conflito, cerca de 300 mil jovens corresponderam-se com combatentes, tornando-se uma luz na escuridão da guerra. Como a jornalista Marta Martins Silva conta no seu livro "Madrinhas de Guerra", lançado pela Saída de Emergência.
"Adeus, até ao meu regresso", escreviam eles no final das cartas enviadas a quem ficara na metrópole. Mas para esses rapazes, alguns muito novos e ignorantes de tudo o que excedesse o perímetro da sua aldeia, ou do seu bairro se acontecia serem da cidade, era incerto o tão desejado reencontro,
Em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, nos 13 anos que durou a Guerra Colonial, centenas de milhares de homens conheceram a pontada do medo e do desenraizamento. Temiam por si, pelos irmãos de armas e pelos que tinham deixado na metrópole. Como o primeiro-cabo atirador Carlos Neves, que, em 1971, do norte de Angola, escrevia assim a Rosa, sua madrinha de guerra e futura mulher: "Queridinha, alguns dos meus colegas ficaram muito maltratados por motivo de uma emboscada onde foram feridos [...] Agradecia que não contasses nada aos meus pais para não ficarem em cuidados.
Esta é uma das várias histórias reconstituídas pela jornalista Marta Martins Silva no livro Madrinhas de Guerra - A Correspondência dos Soldados Portugueses durante a Guerra do Ultramar, com prefácio de Carlos Matos Gomes, militar, investigador de História Contemporânea e autor de várias obras literárias sobre o cenário de guerra assinadas com o pseudónimo Carlos Vale Ferraz.
Para Marta, tudo começou nas reportagens sobre o tema que fez para a revista de domingo do Correio da Manhã. Ao longo de anos a ouvir os testemunhos de antigos combatentes, compreendeu a importância do papel desempenhado pelas madrinhas de guerra, e que "tem sido negligenciado em todas as narrativas sobre o conflito." Por isso, quando a editora Saída de Emergência a convidou a escrever um livro sobre o tema, Marta não hesitou.
Até aos últimos dias antes do confinamento em março, recolheu as memórias de antigas madrinhas e afilhados, reuniu cartas e aerogramas, viu dezenas de álbuns de fotografias. Encontrou "um pouco de tudo, histórias com finais felizes e outras não, com alguns arrependimentos à mistura".
Admite também que várias vezes se emocionou porque sendo este um livro sobre a guerra, não deixa de ser também "sobre o amor e a importância da palavra amiga num contexto tão duro". Como mostra esta mensagem enviada do mato para Portugal continental: "Eu sou um militar longe, muito longe da minha terra natal [...] e com a sua ajuda o tempo passava um bocadinho melhor."


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