Passada a noite de S João a caminho da mata dos Medos que fica sobranceira e sobre as arribas da Praia da Fonte da Telha, local que me era familiar, pois em tempos de menino e moço, por várias vezes por ali passava a caminho da Lagoa de Albufeira, então propriedade privada.
As idas para aquela zona davam-se igualmente, no tempo da caça fazendo companhia a meu pai, na caça às galinholas, ave de arribação, hoje quase desaparecida.
Para a Fonte da Telha, acompanhei muitas vezes o Luis Laraia, peixeiro de burro e canastros, naquele tempo.
Ia comprar o peixe directamente aos pescadores quando regressavam da faina por volta da meia noite, uma, duas da manhã. Carapau, sardinha, massacote, cavala e cação.
O regresso, como a ida era feito a pé, pois o burro, estava carregado e o regresso era longo. Não me recordo do nome do burrico, mas este sabia bem o caminho de casa, quando a venda do peixe acabava e o Luis Laraia ficava nesta ou naquela tasca a apanhar a sua valente bebedeira. Soltava-se da arreata e lá ia sozinho para casa à espera de algo para lhe alimentar o corpo.
Aquela mata dos Medos, era minha conhecida, desde há muito, pois foram inúmeras vezes que a caminho da Lagoa de Albufeira, por lá passei, tendo como transporte uma camioneta de carga, adaptada a transporte colectivo de passageiros com uns bancos de madeira. Fazia parte da logística do camião, umas enormes varas de eucalipto que se colocavam debaixo das rodas traseiras, quando esta se atascava no imenso areal que era a "picada" que servia de caminho. Naquela tempo, por ali apenas passavam os camiões que traziam feixes de lenha de pinheiro que era vendida para os fornos a lenha de cozer o pão. Assim era.
Isto serviu apenas para comentar uma recordação que hoje avivou a minha memória, quando numa peixaria me lembrei de comprar uns carapaus pequenos, brancos, frescos e acabados de pescar naquela noite. Vinham ainda acompanhados de algas e de pilado. Teriam sido pescados aqui bem perto da capital, talvez até na Fonte da Telha, pois por lá, ainda hoje se pesca.
Pois esses carapaus, vieram trazer a recordação de uma das noites quentes que passamos no IAO, descendo as arribas, fomos, meia dúzia, à Fonte da Telha à procura de algo para comer e beber.
Numa das tascas de então, com um pequeno fogareiro, fomos comendo uns carapaus assados no momento, regados com vinho ou cerveja.
Foi essa recordação que também avivou a memória desse momento. Os carapaus, grelhados, foram comidos ao jantar.
Da Fonte da Telha e daquela noite, fica a recordação do regresso ao acampamento, pela borda de água em amena cavaqueira e boa disposição.
Naquela noite o fantasma da ida para a Guerra teria ficado esquecido.
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