sábado, 15 de junho de 2019

A LOGÍSTICA DE PORTUGAL NA GUERRA SUBVERSIVA DE ÁFRICA (1961 A 1974) IIIII


4. Adaptação da logística aos teatros de operações

A guerra levou a que as Forças Armadas realizassem uma reconversão e adaptação da guerra convencional para a guerra subversiva. Neste contexto, houve necessidade de aligeirar o equipamento e o armamento, o que levou à adaptação dos uniformes, reformulou-se o sistema logístico e de intendência, e melhorou-se a capacidade da indústria nacional no apoio às necessidades de defesa e a indústria de defesa na sua capacidade de produção[172]. Até 1962, procedeu-se ao aproveitamento do material existente nos depósitos, reconstituindo-os sempre que necessário, enquanto se procedia à aquisição e fabrico de novos equipamentos.
Ao nível das vias de comunicação[173], estas tiveram especial importância na luta contra a subversão, quer na mobilidade proporcionada aos movimentos táticos e logísticos, quer no desenvolvimento económico dos territórios e na aproximação às populações. Em África “a subversão começava onde acabava a via de comunicação”[174]. Neste contexto, houve um investimento na rede estradal, ao ponto de se construir anualmente 1.000 quilómetros de estradas asfaltadas, só em Angola. O grande esforço da engenharia militar na abertura de picadas táticas e construção de estradas[175], em zonas de subversão ativa, contribuiu também para o desenvolvimento económico e melhoria das populações dos territórios ultramarinos.
A normalização dos equipamentos foi a solução adotada, após 1966, para evitar o “colapso no sistema de transportes”[176]. A prioridade dada à redução do número de marcas e modelos das viaturas militares, permitiu reduzir a diversidade dos sobressalentes e racionalizar as despesas[177]. Esta redução de viaturas acentuou o processo de “canibalização” para atenuar a falta de sobressalentes, em virtude das enormes distâncias dos pelotões de manutenção entre si e dos depósitos[178]. Ao nível dos transportes, em 1971, iniciou-se o transporte de pessoal da Metrópole para os TO nos aviões da FAP[179], designadamente nos recém-adquiridos Boeing 707[180], mas também nos DC6[181]. Este procedimento teve várias vantagens: proporcionou maior comodidade, que contribuiu para reduzir a deterioração das cargas; reduziu o elevado tempo das viagens marítimas; proporcionou a rendição progressiva, por subunidades, com a consequente redução dos pontos fracos no dispositivo, resultantes da rendição de batalhões completos; e permitiu uma poupança de 3.554 homens/ano na ida e volta, equivalente a três batalhões de caçadores em efetivos de combate[182]. Os meios aéreos, mais rápidos e menos dispendiosos, melhoraram a capacidade de sustentação das operações militares e, ao substituírem os grandes navios que chegavam com fanfarras e escoltas[183], reforçaram a natureza discreta das operações logísticas. Apesar das dificuldades sentidas, a capacidade de resposta e de previsão da Metrópole “foi notável”, e muito se deveu à importância que foi dada à logística[184]. Na realidade, a percentagem dos efetivos em tropas de combate, apoio de combate e de serviços, refletem as necessidades sentidas pelas FA durante a guerra, onde se verifica a maior importância da logística em Moçambique, com a percentagem mais elevada de tropas de serviços, contrariamente ao TO da Guiné, com a percentagem mais elevada de tropas de combate. Nas Figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6, é possível visualizar a percentagem de efetivos das tropas de combate, apoio de combate e de serviços portuguesas nos três teatros de operações[185].


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