segunda-feira, 31 de março de 2014
BCAC2877- Confraternização de 2014
Estamos a aguardar preços e ementas para o evento
Combatentes desprezados por Passos Coelho em Moçambique
José Alberto Morais da Silva, Coronel Piloto Aviador na Reforma, vem, por este meio, protestar contra a vergonha e humilhação por que fez passar os Antigos Combatentes, por altura da primeira visita de V. Exª a Moçambique.
Por certo que sabia, ou se não sabia alguém do luzidio séquito que o acompanhou na visita deveria ter-lhe dito, que havia um cemitério no Maputo onde estão os restos mortais de vários Militares Portugueses que perderam a vida nos combates em Moçambique durante a Guerra do Ultramar. [ver foto em baixo]
Era sua obrigação, como primeiro-ministro de Portugal, ter ido prestar homenagem aos nossos mortos em combate.
Mas V. Exª – do alto dos seus altos conhecimentos da arte de ser político ou por não ter cumprido Serviço Militar e, portanto, não saber bem o que significa a palavra Patriotismo –, decidiu prestar homenagem aos mortos do nosso adversário nessa guerra, deixando no esquecimento aqueles que perderam a vida numa guerra que, justa ou injusta, foi uma guerra em que perderam a vida alguns milhares de Militares Portugueses.
Este acto de V. Exª foi mais uma desconsideração e humilhação para os Militares deste País e poderá V. Exª ficar a saber que 1.300.000 Portugueses, Antigos Combatentes, também não esquecerão a afronta cometida pelo primeiro-ministro de Portugal.
José Alberto Morais da Silva, Coronel da Força Aérea na Reforma ( No Facebook)
quinta-feira, 27 de março de 2014
PENSÕES - cada ano uma
A balada das pensões
Fizemos os nossos descontos com base em calculos actuariais definidos pelo próprio Governo e agora...
Algo está mesmo errado nas mentes desta “gente” que nos desgoverna
“”A solução que o Governo está a tentar encontrar para contornar o carácter temporário da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) passa por fazer depender o valor das pensões de uma série de indicadores que reflitam a sustentabilidade da Segurança Social.
Assim, num ano de crescimento, em que haja mais emprego, melhores salários e menos encargos com pensões, o valor destas pode registar uma subida. Pelo contrário, em anos de recessão, o montante a pagar pelas pensões deverá baixar, segundo garantiu fonte do Ministério das Finanças ao Jornal de Negócio” (noticiasaominuto )
Guerra de África - Memórias da Guerra - livro
http://books.google.pt/books?id=DEgDAwAAQBAJ&pg=PA116#v=onepage&q&f=false
Podem tentar ler, mais um livro sobre a Guerra de África
quarta-feira, 26 de março de 2014
Marco de Canaveses - Homengagem
Em muitos lugares deste Portugal ainda se vão lembrando de quem passou pela guerra de África
“”Homenagem aos ex-Combatentes da Guerra do Ultramar do Marco de Canaveses
A exemplo dos últimos 4 anos a Associação dos Combatentes da Guerra do Ultramar de Marco de Canaveses, com o imprescindível apoio da Câmara Municipal do Marco de Canaveses, centenas de pessoas concentraram-se junto ao Monumento dos Combatentes da guerra do Ultramar, para prestar homenagem aos quarenta e seis filhos do Marco de Canaveses que faleceram em defesa da Pátria, numa cerimónia que mereceu a presença oficial do Representante do Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar na dupla função de representar o Gabinete de Apoio aos Antigos Combatentes, e o Representante do Chefe do Estado Maior da Armada, entre outras individualidades presentes.
O Presidente da Câmara Municipal do Marco de Canaveses, Dr. Manuel Moreira, depôs uma coroa de flores em nome do município, prestando homenagem a todos o ex-combatentes e respectivos familiares.
Este ano a cerimónia mereceu um momento particularmente importante a que todos os presentes fizeram questão de se associar, logo após ter sido cumprido o protocolo de homenagem, que foi a inauguração da "Praça dos Combatentes da Guerra do Ultramar", assim designada, e que por proposta do próprio Presidente da Câmara Municipal, mereceu a aprovação e parecer favorável da Comissão Municipal de Toponímia e aprovada em reunião de Câmara Municipal. A "Praça dos Combatentes do Ultramar Português" fica situada no preciso local onde se encontra o Monumento, nas imediações do Estádio Municipal do Marco de Canaveses.
Após a cerimónia os antigos combatentes e respectivos familiares, acompanhados pelas entidades oficiais presentes deslocaram-se para o Santuário da Irmandade da Nossa Senhora da Natividade do Castelinho, onde foi rezada uma missa de sufrágio em honra de todos os ex-combatentes, seguida de um almoço convívio primeiro e depois de um lanche, que se prolongou por toda a tarde no Parque de Lazer do mesmo Santuário.”” www.cm-marco-canaveses.pt
terça-feira, 25 de março de 2014
Reformados, velhos, doentes, maltratados e roubados nas suas pensões actuais e futuras
Nos dias de hoje, a grande maioria dos combatentes da guerra de àfrica, por outras razões, mas aenas pela idade, são “velhos” e reformados ou a cominho de o serem.
Fica aqui este artigo para uqem se interessa por estes assuntos
“”Eu gostaria muito de escrever artigos racionais, ponderados, que merecessem uma aura académica e sensata, que unissem em vez de dividir, que me permitissem ter a minha quota de lugares, prémios e prebendas, mas estou condenado, nestes tempos, a escrever cada vez mais panfletos. Acontece. Isto do imperativo categórico, como Kant sabia, é uma maçada.
Isso deve-se ao facto de não querer ter nenhuma falinha mansa, daquelas que enchem o balofo da nossa política de mútuos cumprimentos e salamaleques, com gente que se mostra impiedosa por indiferença, hostil com os fracos que estão do lado errado da “economia”, subserviente com os fortes, capaz de usar todos os argumentos para dividir, se daí vier alguma pequena folga para as suas costas.
Tenho dito e vou repetir: a herança que estes dois anos de “Governo” Passos Coelho-Portas-troika vai deixar ultrapassará muito o seu tempo de vida como governantes. Se não for antes, em 2015, passarão à história como um epifenómeno dos tempos da crise e sobreviverão incrustados nos partidos de onde lhes vem o poder, como um fungo que não se consegue limpar. Vão continuar a estragar muita coisa, mas a própria lógica de onde vieram os substituirá por outros mais ou menos maus. A maldição portuguesa é esta. Aquilo que mais precisamos, não temos.
Mas, mesmo que desapareçam como as figuras menores que realmente são, vão deixar estragos muito profundos no tecido já de si muito frágil da nossa vida colectiva, cavando fundo divisões e conflitos, destruindo o pouco de humanidade social que algum bem-estar tinha permitido. Eles estão, como as tropas romanas, a fazer no seu Cartago, infelizmente no nosso Portugal, o terreno salgado e estéril. Pode-se-lhes perdoar tudo, os erros de política, a incompetência, o amiguismo, uma parte da corrupção dos grandes e dos médios, menos isto, este salgar da terra que pisamos, apenas para obter uns ganhos pequeninos no presente e com o custo de enormes estragos no futuro.
Um exemplo avulta nos últimos dias, que já vem de trás, mas que ganha uma nova dimensão: o ataque aos velhos por serem velhos, uma irritação com o facto de haver tanta gente que permanece como um ónus para o erário público apesar de já não ser “produtiva”, de não ter saída no “mercado do trabalho”, de estar “gasta”. De ministros que não leram Camões e nem sequer sabem quem são os “velhos do Restelo”, a gente que pulula nesse novo contínuo dos partidos e do Estado que são os blogues, a umas agências de comunicação que são as Tecnoforma dos dias de hoje, boys e empregados de todos os poderes para fazerem na Internet e nos jornais o sale boulot, todos, de uma maneira ou de outra, atacam os velhos, por serem velhos. Numa sociedade envelhecida, isso significa atacar a maioria dos portugueses, em nome de uma ideia de juventude “empreendedora”, capaz de fazer uma empresa do nada só com “ideias”, “inovação” e design, sem os vícios do “passado”, capaz de singrar na vida sem “direitos adquiridos”, nem solidariedade social, imagem que tem o pequeno problema de ser tão mitológica como a Fada dos Dentinhos.
Grande parte do ataque a Mário Soares e a muitos que estiveram na Aula Magna foi feito em nome de eles serem “velhos”, logo senis. Nem sequer é por implicação, é dito com clareza, com o mesmo tipo de “argumentos” com que os soviéticos enviavam os dissidentes para os asilos psiquiátricos porque quem estivesse no uso normal das suas faculdades não podia deixar de ser comunista. Aqui é o mesmo: só pode ser senil quem duvidar da bondade das medidas do Governo, apresentadas como sendo a realidade pura, inescapável, inevitável. Como pode estar bom da cabeça quem coloca em causa a versão em “economês” da lei da gravidade? Só um louco. E se for velho, é-se senil, ultrapassado, antiquado, mesquinho, por definição. Não há outra maneira de explicar que haja velhos com tantas ideias “erradas” sobre a bondade do nosso “ajustamento” e que sejam empecilhos para os “jovens” brilhantes que o aplicam com vigor e sem vergonha.
Muito do discurso contra os velhos, que começa, em bom rigor, cada vez mais cedo, quando se perde o emprego e se fica “gasto” para o mercado de trabalho, é um discurso que pretende ser utilitário no plano político, e é isso que o torna moralmente desprezível. Destina-se a justificar o violento ataque a reformas e pensões, a gente que trabalhou a vida toda, e que ainda tem memória do que custou obter esses malfadados “direitos”, resultado de “contratos” de “confiança” com o estado, tudo coisas de velhos que estão a “roubar” aos mais novos do seu futuro. Estão a mais. E se eles não percebem que estão a mais a gente vai mostrar-lhes pelo vilipêndio e pelo saque que já há muito deveriam ter desaparecido.
Muita coisa tem hoje a ver com esta demonização da idade. Um caso entre muitos, é o que se está a passar com o despedimento colectivo dos trabalhadores dos Estaleiros de Viana do Castelo. Nem sequer discuto se a empresa tinha que encerrar ou não, porque a partir de um certo nível de dolo e degradação da linguagem esse não é o primeiro problema. Podia ser, mas com esta gente não é, porque, ao fazerem as coisas como fazem, sempre obcecados em enganar-nos, merecem que contra eles se volte tudo, o discurso empolgado dos “navegadores” e a retórica do “mar”, ao mesmo tempo que se fecha o único estaleiro que sobrava, a disparidade de não querer pagar 180 milhões de euros, enquanto se aumenta a taxa para a RTP, que recebe todos os anos muito mais do que isso, a displicência com que se apresenta como grande vitória, mais de 600 despedimentos.
Acresce a soma de mentiras habituais: que 400 trabalhadores vão ser reintegrados (afinal não há nenhuma garantia), que vão ser pagas as devidas indemnizações (afinal parece que só a parte deles), que vai continuar a construção naval (quando não custa perceber que o que a Martifer vai fazer não são navios). O que vai acontecer é um enorme despedimento colectivo feito pelo Estado, o encerramento dos estaleiros à construção naval, o preço de saldo para a Martifer após o Estado, como no BPN, pagar todos os custos. E, na vaguíssima hipótese de alguns trabalhadores serem empregados na nova empresa, serão sempre poucos, com salários mais baixos, com uma folha de antiguidade a zero, e ficarão de fora os mais velhos e os mais reivindicativos. Alguém vai contratar um membro da comissão de trabalhadores, mesmo que seja um excelente soldador? Como muita da mão-de-obra dos estaleiros já tem uma certa idade – os velhos começam a ser velhos aos quarenta –, está-se mesmo a ver a sua “empregabilidade”.
Não custa fazer o discurso politicamente correcto de que a “esquerda não tem o monopólio da sensibilidade social” (e não tem), nem dizer aqueles rodriguinhos do costume do género “que bem sabemos como os portugueses estão a sofrer”, ou que “nenhum Governo gosta de tomar estas medidas”, ou elogiar os portugueses pelo seu papel “decisivo” no sucesso da aplicação do “ajustamento”, etc., etc. Na verdade, estou farto de exibições de confrangimento público e exercícios de “preocupação social”, já não posso ver a hipocrisia de Passos Coelho e de Aguiar Branco, ao lado do exibicionismo pavoneado dos soundbites de Portas.
Swift escreveu em 1729 uma sátira sobre a pobreza na Irlanda chamada Uma modesta proposta para evitar que as crianças dos pobres irlandeses sejam um fardo para os seus pais e o seu país e para as tornar um benefício público. Aconselhava os pobres a comerem os filhos, como meio de combater a fome, “grelhados, fritos, cozidos, guisados ou fervidos”. Na verdade, quando se assiste a este ataque à condição de se ser mais velho – um aborrecimento porque exige pagar reformas e pensões, faz uma pressão indevida sobre o sistema nacional de saúde, e, ainda por cima, protestam e são irreverentes –, podia avançar-se para uma solução mais simples. Para além de os insultar, de lhes retirar rendimentos, de lhes dificultar tudo, desde a obrigação de andar de repartição em repartição em filas para obter papéis que lhes permitam evitar pagar rendas de casa exorbitantes, até ao preço dos medicamentos, para além de lhes estarem a dizer todos os dias que ocupam um espaço indevido nesta sociedade, impedindo os mais jovens de singrarem na maravilhosa economia dos “empreendedores” e da “inovação”, será que não seria possível ir um pouco mais longe e “ajustá-los”, ou seja, exterminá-los?””
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segunda-feira, 24 de março de 2014
Portugal - 25 de Abril. 40 anos - entrevista de Alipio Dias
Ler tudo…pelos que se interessam pelo que se passou com a Guerra de África e com o momento político actual em especial com o reformadosPortugal - 25 de Abril. 40 anosEntrervista de Isabel Tavares - 22 Mar 2014 – I onlineAlípio Dias. "Mandei fechar o Banco Borges às dez da manhã de 25 de Abril. Já não tínhamos notas"A União Europeia tem de fazer um acordo de livre comércio com a Rússia de Putin. Mas não sabe o que anda a fazer, dizHouve três sinais que alertaram Alípio Dias, se não para a revolução, para que qualquer coisa aí vinha. O primeiro episódio passou-se quando tinha apenas 12 ou 13 anos e foi encontrar-se em Lisboa com o pai, chegado de uma estada em Angola e Moçambique. As histórias encadeiam-se umas nas outras e o economista acabou por ser o único homem do Norte a participar no almoço de 27 de Abril, na Cova da Moura, onde o general Spínola traçou o futuro do país. Entre 1974 e 1984 foi responsável pelo fecho das contas do Estado e em 83 negociou com o FMI um empréstimo de 650 milhões de dólares a Portugal. Garante que houve concessões que não foram feitas e não percebe porque é que hoje há-de ser diferente, a não ser pela mediocridade dos negociadores.No 25 de Abril era director do jornal "Comércio do Porto". Tinha alguma ideia do que estava para acontecer?Deixe-me ir um pouco atrás para explicar uma série de sinais que fui juntando e que me levaram a perceber que alguma coisa estava para acontecer, embora não soubesse o quê. O primeiro foi quando o meu pai, que tinha uma casa comercial, regressou de uma ida a Angola e a Moçambique. Eu teria 12 ou 13 anos, já não o via há dois meses, e pedi para ir encontrá-lo a Lisboa. E ele disse--me: "A viagem correu muito bem, venho muito feliz. De facto, Angola e Moçambique são países muito ricos. Agora, digo--te uma coisa, são grandes e ricos demais para serem governados do Terreiro do Paço." Esta foi a primeira coisa que me abriu os olhos e ficou a fervilhar, porque um puto também fica a fervilhar.Qual foi a segunda?Teria aí uns 15 ou 16 anos. Li o "Império Ultramarino Português", de Henrique Galvão [capitão do exército e inspector da administração colonial] e Carlos Selvagem [militar e jornalista], mas fiquei particularmente fascinado com o volume sobre Angola. O terceiro episódio foi um artigo do "L'Express", de Edouard Bailby, correspondente em Lisboa, já em Fevereiro de 74, "L'Armée au Portugal commence à bouger" [O exército em Portugal começa a movimentar-se].Nessa altura, já era adulto...Sim, já estava nos 30. Há mais dois episódios interessantes. O doutor Baltazar Rebelo de Sousa, ministro do Ultramar [73 a 74], convidou-me para ser secretário provincial em Moçambique. Eu achava que era tarde demais, que Portugal tinha perdido muito tempo e que a capacidade de negociar se teria esgotado. Fiquei profundamente agradecido, simplesmente, por muita velocidade que se imprimisse ao carro, não ia a tempo de evitar convulsões. Não sabia se cá, se lá, mas sabia que o problema existia.O que respondeu o ministro?Respondeu-me assim: "Tenho muita pena, mas tem razão, porque há pessoas que me dizem que eu estou a andar devagar demais e há pessoas que me dizem que estou a ir muito depressa."Qual foi o outro episódio?O último episódio foi com Spínola, que conheci numas férias com os meus pais, nas termas da Curia, tinha eu acabado de sair da Marinha. Enviou para minha casa, no Porto, o livro que escreveu, "Portugal e o Futuro", com uma dedicatória com a data de 20 de Fevereiro de 74. Lembro-me de ter recebido o livro a uma sexta-feira e, de sexta para sábado, não me deitei, estive a lê-lo. No fim, disse à minha mulher: a revolução está na rua.O que o fez pensar que já não havia nada a fazer?Sentia-se uma pressão externa muito grande, difícil de controlar. Tenho pena de que não se tenha aproveitado os anos 60 para fazer acordos, uma Commonwealth, que tivessem evitado todos aqueles anos de guerra. Penso que o dr. Marcello Caetano fez algum esforço e ainda acreditei que ele pudesse dar uma volta àquilo. Mas a corte que rodeava o almirante Thomaz - não ele, que era um homem determinado, ao contrário do que as pessoas pensam; na Marinha tinha fama de ser de uma disciplina férrea - tirou-lhe todo o espaço de manobra.Qual foi o detonador do 25 de Abril?Penso que o decreto do ministro da Defesa, Sá Viana Rebelo, dando possibilidade aos oficiais milicianos que não tinham feito a Academia Militar de entrar no quadro. As pessoas estavam cansadas da guerra, percebia-se que era preciso uma solução. Mas estava-se a viver melhor, o PIB estava a crescer 7%.O que correu mal de então para cá?O que temos hoje é falta de combinar a economia, que não é uma ciência exacta, com a diplomacia, a sociologia, a história. Em 74, o nível de vida melhorava de dia para dia, foi criada segurança social para as pessoas do campo, mas Portugal podia aguentar 13 ou 14 anos de guerra, não podia aguentar muito mais. Havia três frentes de batalha pesadas, Guiné, Angola e Moçambique, cerca de 300 mil homens e armas. As Forças Armadas estavam esgotadas, as famílias não queriam que os filhos fossem para a guerra... Eu estava na Marinha, tinha um irmão no Exército e outro na Força Aérea.O que fazia na Marinha?Fui para a Marinha como voluntário e acabei por ter sorte. Embarquei com o almirante Pinheiro de Azevedo num dos navios da NATO, que só navegavam até Cabo Verde, faziam transporte de tropas e eram sempre escoltados.Como foi parar a um jornal?Eu estava no Banco Borges & Irmão e tinha várias conversas com o dr. Manuel Quina, presidente do banco, que também tinha a certeza de que alguma coisa ia mudar. Ele queria ter dois ou três jornais na mão, de certa forma, já se sabia que o exame prévio ia acabar... Havia informadores dentro dos jornais. No Porto, o banco Borges ficou com o "Comércio do Porto", e em Lisboa com o "Jornal do Comércio" e o "Popular". Quem estava para ir para director do "Comércio do Porto" era o Fernando Namora. Acabei por ir eu, que trabalhava no Borges até às 18h, fechava o jornal lá para a meia-noite e ainda dava aulas. Era administrador-delegado e director do jornal, onde nunca ganhei um tostão. Vendia muito bem na província e chegava a tirar 45 a 50 mil exemplares. À segunda-feira tirávamos mais porque tínhamos uma boa parte desportiva, e havia um tipo na política que não era mau, o João Maia, que era comunista.E como era a sua relação com ele?Quando cheguei disse-me esta coisa extraordinária, que foi uma enorme prova de confiança: "Sôtor, quero que saiba que sou comunista e quando saio do jornal vou trabalhar para o partido. Agora pode-me mandar prender."O que respondeu?Disse-lhe que, se algum dia fosse preso, aquela conversa nunca tinha existido, ficava só entre nós dois.Nunca houve problema?Uma vez, o almirante Thomaz foi ao Porto, aí em Setembro, Outubro de 73, e o chefe de redacção pôs o João Maia na escala, de propósito. Ele veio ter comigo e eu disse, tem duas hipóteses, ou faz o serviço ou não faz. Se faz, escreve o que viu: se teve palmas, teve palmas; se teve assobios, teve assobios; se não teve ninguém, não teve ninguém. Faça limpinho. Se não faz, eu altero as escalas. Ficámos amigos até morrer, ele fazia anos no dia 24 de Dezembro e eu ia sempre ao almoço na casa dele. Era um verdadeiro comunista, vivia como pensava.Quando soube do golpe militar?Fui alertado às quatro menos um quarto da manhã por dois tipos de pessoas. Havia sempre alguém toda a noite no jornal a ouvir as estações de rádio estrangeiras - BBC, Deutsche Welle e outras -, a ver se havia alguma notícia que pudéssemos captar. Por outro lado, os jornais tinham correspondentes em todas as vilas e aldeias - não ganhavam nada, tinham um cartão que lhes dava acesso a entrar no futebol e noutros sítios e dava-lhes prestígio local. Foi o meu correspondente de Santarém que me ligou a dizer: "Sôtor, os tanques estão a sair de Santarém e vai acontecer uma revolução." E eu, a partir daí, alertei outros. Fui para o jornal e começámos a seguir os movimentos todos.Para quem telefonou?Às sete da manhã telefonei ao dr. Quina e contei o que estava a ouvir desde madrugada. Ele achou que não devia ser nada, mas eu disse: "Olhe que tem cara de ser qualquer coisa." E telefonei para o administrador do banco no Porto... Mandei fechar o banco Borges, no Porto, às dez da manhã. Foi o primeiro.Porquê?Já não tínhamos notas. As pessoas começaram todas a levantar dinheiro. O Banco de Portugal foi dando, dando, dando, até que já não tinha mais para dar. Fechou o Banco de Portugal, fechámos nós. Nem o administrador do banco tinha chegado ainda e eu era um subdirectorzeco, nem sei se já era. Dizia o gerente, "ah, mas ainda ninguém fechou..." "Então seremos os primeiros, não somos os maiores?! Você tem dinheiro? Não tem. Feche."De onde vinha a sua relação com o dono do banco?Quando saí da Marinha estava para ir para Harvard fazer um doutoramento. Tratei da papelada toda, mas precisava de uma bolsa de estudo. Na altura, quem dava as bolsas era o Instituto de Alta Cultura, mas aconteceu que fui chamado ao vice-reitor, que me disse que, pura e simplesmente, não havia dinheiro. Eu já era casado e tinha um filho. No caminho para casa cruzo-me com o dr. Santos da Cunha, que era administrador do Banco Borges & Irmão e pai de um colega meu da primária e do liceu. "Então, onde é que o menino vai?", perguntou. E eu contei que o menino estava enfurecido porque, depois de servir o seu país três anos e tal, de andar embarcado e de fazer tudo o que a Marinha lhe pediu, estava agora com um lugar de segundo assistente a ganhar dois contos e setecentos - ao passo que na Marinha, como segundo tenente, já ganhava quase cinco contos e trezentos, tinha a gasolina a cinco escudos, enfim... E pergunta ele: mas tu queres trabalhar? Eu expliquei que tinha de trabalhar, apesar de gostar muito de dar aulas, porque precisava de sustentar a minha família, não podia estar dependente dos meus pais e dos meus sogros.E convidou-o para o banco Borges?Eu tinha sido o melhor aluno do meu curso, recebi o diploma pela mão do almirante Américo Thomaz... Expliquei que ainda me faltavam uns meses para acabar a instrução que estava a fazer, já tinha uma companhia de 120 homens, que foi uma experiência muito útil, e ele disse--me para passar pelo banco quando tivesse acabado o que tinha para acabar.Disse que a Marinha lhe foi útil. Hoje não há serviço militar obrigatório...O governo ter acabado com o serviço militar obrigatório foi um erro gravíssimo. Não digo que durasse três anos e tal, mas 12 a 14 meses, sim.Porquê?Porque se misturavam pessoas de norte a sul, gente que não tinha nada com gente que tinha tudo, havia uma miscigenação, uma amálgama, mas aproximava as pessoas, havia camaradagem. Digo-lhe uma coisa: se não fosse a Marinha, a minha vida tinha sido outra.O serviço militar tem custos. Terá sido por isso que acabou?Não. É muito pior pagar aos desempregados e a esta desordem que é este país. Ter de alimentar a polícia por causa dos vadios, tudo isto é muito pior. Isto são os jotas que não quiseram servir a pátria, não quiseram fazer o juramento de honrar e servir a pátria até à última gota do seu sangue.Esta geração de jotas foi educada pela sua geração, não foi?Pela minha não, que eu nunca quis jotas. É o maior erro que os partidos estão a fazer. Mas já havia jotas com Sá Carneiro. Eu dizia sempre: Francisco, é um erro que se está a fazer. Ele achava que era o futuro. O futuro, Francisco, é estudar, é obrigá-los a conhecer as pessoas, a passar por algumas dificuldades. Mas em vez disso estamos a criar meninos e meninas que vão para os gabinetes, que metem cunhas, que querem ter carrinhos, que dormem com ministros, uma bagunçada, e daqui a uns anos vamos ter gente incompetente a governar-nos.E o que dizia Sá Carneiro?Que não, que tinha de se fazer escola, para eu não o contrariar. Sempre disse que não queria jotas comigo, estive oito anos num gabinete e nunca tive nenhum. Tive juízes conselheiros, pessoas mais velhas que eu, por isso fiz a reforma fiscal toda. Os jotas têm de trabalhar, têm de sofrer, têm de saber o que é viver só do seu trabalho, respeitar as outras convicções. Porque não tenha dúvida, a malta que temos hoje no poder, se pudesse, não fazia nada. Olhe o que estão a fazer aos pensionistas... Sabe quanto me tiram? 92%. Só fico com 8%. É um confisco.O que falta à geração que está hoje no poder?Falta ser educada. Education, no sentido inglês do termo. Esta geração não teve education, permitem-se fazer tudo, não respeitam constituições, não respeitam leis. Tenho muito respeito pelo Pedro, mas não pode ser. Ele não pode dizer o que disse ao Bloco de Esquerda na Assembleia da República, tem de responder. Mas sabem que estão a conduzir uma política errada. Há incompetência e há desonestidade intelectual. Porque é que Vítor Gaspar saiu? Percebeu que esta política só nos conduzia à desgraça e não quis participar nisto, safou-se.É uma espécie de prémio? Vítor Constâncio saiu do Banco de Portugal, depois do caso do BPN, e foi para o BCE.Se eu fosse ministro, nunca teria nacionalizado o BPN. O regime geral das instituições de crédito, o que diz é que quando um banco está incapaz de se aguentar, o Banco de Portugal deve nomear uma comissão administrativa para indagar. Houve uma pressa enorme de nacionalizar, porquê?Porquê?Ninguém sabe. Não há um livro branco. Se eu fosse ministro e o governador do Banco de Portugal me viesse com a história de não ter responsabilidade... Vá ver o que diz a lei orgânica. Teve responsabilidades, é consultor do governo nesta matéria. Que raio de lições é que isto dá ao país? O governo de Cabo Verde alertou o senhor Vítor Manuel Ribeiro Constâncio para fazer uma supervisão a sério ao BPN porque estava preocupado com o que se passava com o Banco Insular em Cabo Verde. Eu fui vice-governador do Banco de Portugal e no meu tempo não era assim.Como era no seu tempo?Fui a todos os sítios, porque tenho um feitio desgraçado e gosto de conhecer as pessoas. Fui ver onde estavam as barras de ouro e encontrei nas caves do Banco de Portugal dois sacos cheios de moedas de ouro que estavam por inventariar. Fui às caves, ao forno crematório das notas, onde se faziam as notas, onde se carimbavam as notas, onde se assinavam as notas, fui à sucursal do Porto...Que outros achados fez?Barras de ouro. Aquilo tinha muitas barras de outro dos nazis, com a foice e o martelo. Salazar proibiu a indústria de importar ouro e era o Banco de Portugal que punha as barras de ouro à consignação em dois ou três bancos, como o Atlântico e o Borges, que o vendiam. Quando um industrial precisava, ia ao banco e o banco serrava a quantidade pretendida. As nossas barras de ouro internacionais pesam cerca de 11 kg; as de ouro nazi, perto de 13 kg.O que se seguiu ao dia 25 de Abril?O 25 de Abril foi a uma quinta-feira. No sábado, dia 27 de Abril, houve um almoço na Cova da Moura, no Palácio, em que estavam mais ou menos 40 pessoas, e eu era a única pessoa do Porto.A convite de quem?Julgo que por causa do general Spínola. Quem me telefonou na véspera foi o major Vargas Fernandes. Estavam lá todos, a Junta de Salvação Nacional, comunistas, o Otelo Saraiva de Carvalho... Conheci essa gente toda nesse dia.Para que foi o almoço?Para juntar um grupo de pessoas que o general Spínola entendia que deviam envolver-se na actividade política, fundar partidos políticos, e para explicar o programa da Junta de Salvação Nacional e o envolvimento das Forças Armadas. Os três D: descolonização, democratização e desenvolvimento. Um almoço que foram umas sanduíches e cervejas.Disse a alguém que lá ia?Disse ao dr. Quina. A hierarquia, para mim, é uma coisa importante. O mal de Portugal é que não há hierarquias. A hierarquia não significa ser bruto, estúpido ou ditador. O problema é que hoje vivemos numa ditadura disfarçada. É um regime autoritário, se quiser. As pessoas não sabem mandar, só sabem impor, criar medo. Vivemos numa sociedade de medo. Pior do que no tempo da PIDE - e olhe que ainda tive três processos para ir a tribunal quando foi o 25 de Abril, todos por abuso de liberdade de imprensa. Nessa altura, o medo era diferente, mas se uma pessoa fizesse uma oposição decente, com argumentos, não havia grandes dramas. E não tinha hipótese de ter hierarquia sem competência.E hoje, também é assim?Hoje há muita incompetência, é por isso que estamos na situação em que estamos. E é por isso que as negociações com a troika são o que são. Eu fiz as negociações com o FMI: havia coisas que eles não aceitavam, havia outras que não aceitávamos nós. Por isso digo que há incompetência e há desonestidade intelectual. Não é possível manter isto.Porquê?Porque é a miséria total. Não tem hipótese nenhuma, ou então os manuais de economia estão todos errados.O que é preciso fazer?Duas coisas: aceitar uma política monetária não acomodatícia, ou seja, o Banco Central Europeu tem de imprimir notas e a taxa de inflação na Europa tem de subir para entre 3% e 5%. Deixem-se dessa marmelada, para não dizer pior, dos 2%. É 2% porquê? Porque é que 2% é bom e 3% é mau? É isto que quer fazer Mario Draghi [presidente do BCE], o único que tem visão na Europa. Os outros não sabem o que andam a fazer. Em três anos diminuímos o PIB em cerca de 17 mil milhões. Eu chumbava esta gente toda logo no primeiro ano.Isso é suficiente?Há outra coisa muito importante: precisamos de fazer um acordo de livre comércio com a Rússia, com a Federação Russa. Estamos a fazer com a Ucrânia porquê, porque é o celeiro da Europa? Passa pela cabeça destes incompetentes, Durão Barroso e todos os outros, que a Rússia ia deixar a Crimeia, onde eles passam férias? Nunca. Nós, União Europeia, nós, ocidentais, andamos a desgraçar os tipos da Ucrânia a troco de uma esmola.E os Estados Unidos?Os Estados Unidos têm de entrar no jogo, isto também lhes interessa. Porque é que surgiu o Plano Marshall? Porque é que me convidaram a mim, secretário de Estado, a fazer chamadas para os Estados Unidos e uma viagem de costa a costa? Não façam é um acordo com a Índia ou com a Indonésia, porque aí desgraçam-nos.O que é que foi mal feito e nos deixou nesta situação?Vejo todos estes professores a falar em investimento. Portugal tem a capacidade produtiva utilizada em 40% ou 50%. Vai investir em quê e para quê? Não faz sentido. Tem de ter produção. Estamos com 30% ou mais entre a capacidade de produção instalada e a produção utilizada. A malta foi no engodo e esqueceu-se de que a moeda está para a economia como o sangue para o corpo humano. Quando se fala nos preços é no longo prazo, mas eles estão a querer tudo para já. Estamos a entrar numa fase de deflação e, se entramos aqui, é a desgraça. Uma "creeping inflation" é como dois cálices de vinho do Porto, anima. Mais do que isso, entontece. Se formos capazes de fazer isso... Como é que se pode ter 2,5% para o ano? Mata os portugueses.É militante do PSD. Já explicou isso a Passos Coelho?Não posso não ser leal e tenho as quotas pagas até 2019. Enviei uma carta ao primeiro-ministro e ao Presidente da República. Acho que estamos no limite, mas o Pedro está convencido de que o divino Espírito Santo o iluminou. Eu acho que estão a abusar. Há uma coisa que vem na Constituição: Portugal reconhece o direito dos povos à autodeterminação e independência, ao desenvolvimento, bem como o direito de insurreição contra todas as formas de opressão... Estamos a chegar a esta parte. Escrevi para chamar a atenção e dizer, cuidado, podemos chegar aqui. Eu, se fosse chefe militar, dizia ao Presidente da República: senhor Presidente, a continuar neste ritmo, com esta política desnecessária, o senhor Presidente não pode contar connosco.
sexta-feira, 21 de março de 2014
Guerra no Ultramar - ano de 1963
Amílcar Cabral com guerrilheiras do PAIGC
Janeiro
18
Debate pelo Governo português de um projecto de Lei Orgânica do Ultramar.
23
Início da luta armada na Guiné, com um ataque ao quartel de Tite pelo PAIGC.
Fevereiro
Expulsão dos portugueses residentes na Serra Leoa e proibição de importação de mercadorias portuguesas, por causa da política colonial de Portugal
Organização, pelo Comité Político da FLN da Argélia, do Dia de Angola, como apoio à independência
4
Início da 3.ª Conferência de Solidariedade Afro‑Asiática na Tanganica, presidida por Julius Nyerere, em que foi pedido o boicote económico e diplomático contra Portugal
21
Encontro de Salazar com dois enviados do presidente Youlou, do Congo-Brazzaville, que se propõe mediar uma solução para o problema angolano
Março
Captura, por guerrilheiros do PAIGC, dos navios Mirandela eArouca perto de Cacine, que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material na Guiné-Conacri
Reuniões da Comissão de Descolonização da ONU, atribuindo prioridade aos territórios sob administração portuguesa
Deserção do piloto militar português Jacinto Veloso, que aterrou com o seu avião na Tanzânia
1
Publicação de um conjunto de decretos com vista à formação de um mercado único português
10
Declaração de Amílcar Cabral em Paris sobre a disponibilidade de o PAIGC suspender a luta, se Portugal quisesse solucionar pacificamente o problema colonial
13
Contestação do Governo português à competência da Comissão de Descolonização da ONU para decidir sobre os territórios ultramarinos de Portugal
15
Comemoração, pela UPA, em Leopoldville, do segundo aniversário do início das hostilidades em Angola, com a presença do primeiro‑ministro congolês
Aníbal São José Lopes assume a direcção da PIDE em Angola
21
Demissão de dez oficiais, em consequência dos acontecimentos da Índia
Abril
Atribuição, a vários militares, do Prémio Governador‑Geral, instituído pela TAP, pelas acções valorosas em defesa de Angola
Tentativa, por parte do MPLA, de reactivar a acção da ATCAR, Associação dos Quiocos do Congo, Angola e Rodésia
3
Anúncio, por Franco Nogueira, da intenção de negociar um pacto de não‑agressão com os países limítrofes de Angola e outros países africanos
9
Comunicado oficial do Governo do Senegal sobre o bombardeamento efectuado por quatro aviões portugueses a uma aldeia fronteiriça, sendo o assunto comunicado ao Conselho de Segurança da ONU
11
Publicação da Encíclica Pacem in Terris do Papa João XXIII com referência explícita à independência de todos os povos
20
Reunião Internacional da Juventude em Argel, com a presença de representantes de Angola
Maio
Entrevista de Mário de Andrade, do MPLA, ao jornal Le Monde, em que afirma ser indispensável e decisivo o isolamento total de Portugal
François Mendy, presidente da Frente de Luta pela Independência da Guiné (FLING), preconiza uma conferência para o reagrupamento de todos os movimentos nacionalistas das colónias portuguesas 1963.05 Comandante Vasco Rodrigues, governador?geral da Guiné
Conferência entre Peterson, representante da UPA, e o presidente Kaunda em Elisabeteville sobre a possibilidade de a UFA utilizar o território da Rodésia do Norte (actual Zâmbia) como base
Nomeação de João Eduardo como representante permanente do MPLA em Argel
Tentativa de desmantelamento por parte das autoridades portuguesas de uma organização da Frelimo no Norte de Moçambique
Reunião do Comité Executivo da União Internacional dos Estudantes (UIE) em Argel, em que é apresentado um relatório sobre a situação em Angola
25
Fundação da Organização de Unidade Africana (OUA) pelos chefes de 30 Estados independentes de África reunidos em Adis Abeba
28
Anúncio, pela NATO, da instalação em Portugal da base de comando da Zona IberoAtlântica
29
Recepção de Franco Nogueira por Kennedy e Dean Rusk
Junho
Corte de relações diplomáticas da República Árabe Unida com Portugal devido à política colonial portuguesa
Assalto à sede do MPLA, em Leopoldville, pela polícia congolesa, que prende Agostinho Neto e Lúcio Lara
7
Declaração do secretário de Estado para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos, segundo a qual os interesses estratégicos dos EUA exigem a continuação da cooperação com Portugal
10
Fundação, pelo MPLA, da Frente Democrática de Libertação de Angola (FDLA)
Primeira cerimónia do Dia da Raça realizada no Terreiro do Paço, em Lisboa, de homenagem às Forças Armadas
30
Passagem das acções do PAIGC para norte do rio Geba
Julho
Declarações do abade Youlou, presidente do CongoBrazaville, em Paris, sobre conversações acerca da efectivação de eleições em Angola, solução contestada pela FNLA
Criação em Leopoldville da Frente Democrática para a Libertação de Angola, sob a presidência de Agostinho Neto, constituída pelo MPLA e outros pequenos partidos 1963.07 Reconhecimento exclusivo do GRAE e da FNLA, chefiados por Holden Roberto, pelo Governo do Congo‑Leopoldville (República Democrática do Congo) com reacções negativas de alguns países africanos
Decisão da Libéria de expulsar portugueses residentes no seu território, com excepção dos que solicitarem estatuto de refugiados
Corte de relações diplomáticas do Senegal com Portugal, com proibição de circulação de pessoas e mercadorias na fronteira com a Guiné
Notícia do Le Monde sobre um contacto de Benjamim Pinto Buli, secretáriogeral da União dos Naturais da Guiné (UNGP) com as autoridades portuguesas para a criação de um regime de autonomia interna
Utilização, pelo PAIGC, da primeira mina anticarro, na estrada Fulacunda-São João
1
Debate, em Brazzaville, entre os movimentos nacionalistas angolanos no sentido da formação de um Comité de Coordenação
Início da Conferência Internacional de Instrução Pública, em Genebra, em que é aprovada uma moção que pede a exclusão de Portugal por causa da sua política colonial
10
Início dos trabalhos de uma comissão de boa vontade nomeada pelo Comité de Libertação Africano no sentido de tentar unir os esforços dos movimentos de libertação angolanos
13
Reconhecimento do GRAE pelo Comité de Libertação da OUA (Organização de Unidade Africana)
Início da visita a Leopoldville de uma missão da OUA, que recomenda aos países africanos o reconhecimento do GRAE e o apoio à FNLA
16
Encontro de Salazar com Benjamim Pinto Buli, dirigente de uma das facções da FLING
22
Crítica de Mário de Andrade à formação da Frente Democrática de Libertação de Angola pelo MPLA
24
Encontro entre o presidente do Congo-Brazzaville, Youlou, e o embaixador português em Paris sobre um programa para a realização de eleições em Angola
27
Exclusão de Portugal da Comissão Económica para África (CEA), organismo da ONU
31
Oposição dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, no Conselho de Segurança da ONU, à aplicação de sanções contra Portugal
Resolução do Conselho de Segurança da ONU que rejeita o conceito português de «províncias ultramarinas», decidindo que a situação perturbava seriamente a paz e a segurança em África, apelando a Portugal para reconhecer o direito de autodeterminação e independência
Agosto
Congresso dos partidos nacionalistas de Cabinda em Ponta Negra, com a presença do presidente Youlou, do Congo-Brazza, onde se formou a Frente de Libertação de Cabinda
Carta de Salazar ao primeiro-ministro sul-africano pedindo cooperação e lembrando que «estamos quase sós em África», explicando que ou o bastião português resistia ou a guerra atingiria a África do Sul
Reconhecimento do GRAE de Holden Roberto pela Tunísia, Argélia e Marrocos
Convite de Portugal ao secretário-geral da ONU para visitar Lisboa, a fim de tratar das questões da política portuguesa em África
Concessão, pelo Governo português, à Pan American International Oil Corporation, da prospecção de petróleo em Moçambique
10
Crítica do marechal Craveiro Lopes a alguns aspectos da política ultramarina
12
Discurso de Salazar sobre o problema do ultramar, que teve grandes repercussões internacionais e levou os nacionalistas a reafirmarem a continuação da luta
23
Interdição do espaço aéreo do Senegal a aviões procedentes ou destinados a Portugal e à África do Sul
Cerimónia de apoio dos generais e oficiais superiores a Salazar e à política ultramarina
27
Manifestação nacional no Terreiro do Paço, em Lisboa, de apoio à política ultramarina do Governo, que serviu de base à legitimidade da política de defesa ultramarina do Governo português
29
Início das conversações de George Ball, representante americano, com Franco Nogueira e Salazar, em Lisboa, em que se evidenciam as divergências relativamente aos conceitos de autodeterminação e do factor tempo no problema africano
30
Encontro de George Bali, subsecretário de Estado americano, com Salazar, sendo debatida a atitude americana face à política colonial e a presença dos EUA nos Açores
Setembro
Reconhecimento do GRAE de Holden Roberto pelo Senegal
Conferência de imprensa, no Rio de Janeiro, de Jorge Goinola, representante do GRAE, acompanhado de Humberto Delgado
Utilização pela FNLA, na região de Noqui, Norte de Angola, de minas AC MK7 e granadas de mão Societa Romana
Conflito entre a FNLA e a FNLEC por causa de declarações sobre o enclave de Cabinda
Condenação, pelo VIII Congresso Internacional Socialista, dos países que persistem em oprimir os povos coloniais, como Portugal 1963.09.16 Início de uma visita de Américo Tomás a Angola
23
Chegada do ministro da Defesa, general Gomes de Araújo, a Moçambique para uma visita ao território
Outubro
Utilização pelos nacionalistas de Angola do seguinte armamento: granadas de morteiro 60, LG anticarro AC-P27(checo), LG RPG2 (russo), canhão sem recuo 57 (chinês) e canhão sem recuo 75 (chinês)
Realização da XVIII Assembleia Geral da ONU, em que os países afro-asiáticos atacam a política colonial portuguesa
Realização de conversações entre representantes portugueses e africanos, promovidas por U'Thant, secretário-geral da ONU, que virá a apresentar um relatório ao Conselho de Segurança sobre estas conversações
Anúncio, em Leopoldville, do recomeço da ofensiva no interior de Angola por parte do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), da FNLA
3
Posse, em Bissau, do novo secretário-geral da província da Guiné, James Pinto Buli
4
Conferência de imprensa do Quartel-General de Luanda para comunicação da situação militar em Angola
16
Início de conversações entre Portugal e alguns países africanos, sob a égide da ONU, que incidiram, sem acordo, no sentido e no alcance do conceito de autodeterminação
17
Decisão do Governo português de considerar os crimes previstos na legislação militar, como cometidos em tempo de guerra
Novembro
Reorganização do MPLA, com ligação ao Corpo Voluntário Angolano de Auxílio aos Refugiados (CVAAR) e da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA)
2
Encerramento da sede do MPLA em Leopoldville e proibição da actividade do movimento no Congo
7
Recepção de Franco Nogueira por Kennedy
8
Debate na Comissão de Curadorias da ONU, sendo pedido ao Conselho de Segurança que se ocupe com urgência da situação nos territórios portugueses
22
Assassínio do presidente Kennedy, nos Estados Unidos da América
Dezembro
Primeiras actividades operacionais na Zona Militar Leste, em Angola
Intervenção de Henrique Galvão na ONU sobre a «questão ultramarina portuguesa»
3
Resolução da Assembleia Geral da ONU, a solicitar ao Conselho de Segurança a adopção das medidas necessárias à execução das suas resoluções relativas aos territórios sob administração portuguesa
6
Declaração pública dos Estados africanos participantes nas conversações com Portugal, em que se lamenta o facto de não ter modificado minimamente os princípios fundamentais da sua política, tornando impossível qualquer conversação séria
9
Convite do Governo português ao secretário-geral da ONU, U'Thant, para visitar Angola e Moçambique
11
Resolução do Conselho de Segurança da ONU, a confirmar o conceito de autodeterminação da Declaração Anticolonialista e a deplorar a inobservância da resolução de 31 de Julho de 1963
quinta-feira, 20 de março de 2014
Guerra de África - 1962
1962 Janeiro | |
1 | Ataque ao quartel de Beja dirigido por Varela Gomes, no âmbito de um movimento militar que não teve êxito. |
Constituição, em Dar-es-Salam, do Comité de Unificação dos Movimentos Nacionalistas de Moçambique. | |
3 | Estabelecimento, em Lisboa, de um governo do Estado da índia. |
15 | Portugal abandona a Assembleia-geral da ONU, em virtude do debate sobre Angola. |
27 | Acordo entre Portugal e a União Indiana para o repatriamento de mais de três mil prisioneiros |
30 | Resolução da Assembleia-geral da ONU, reprovando a repressão e acção armada desencadeada por Portugal contra o povo angolano, reafirmando o direito deste à autodeterminação e independência |
31 | Manifestação no Porto com gritos de ordem contra guerra colonial, o que acontece pela primeira vez |
Fevereiro | |
Criação da Missão de Estudos Económicos do Ultramar | |
2 | Marcelo Caetano preconiza uma modificação constitucional com vista a transformar o Estado unitário em Estado Federal |
Março | |
Abertura de negociações entre Portugal e a África do Sul sobre um projecto de aproveitamento do rio Cunene | |
Fim da guerra da Argélia | |
Constituição, por intelectuais portugueses naturais ou residentes em Angola, da Frente Unida Angolana (FUA), de apoio ao MPLA | |
2 | Criação de uma organização de voluntários de carácter permanente em cada um dos territórios coloniais |
3 | Reivindicação, pela UPA, em Leopoldville, da prisão e execução de um destacamento do MPLA |
12 | Início das emissões da Rádio Portugal Livre, a partir da Argélia |
13 | Prisão, em Bissau, pela PIDE, dos dirigentes do PAIGC, Rafael Barbosa e Fernando Fortes |
Cada do Comité dos Sete da ONU ao Governo português solicitando informação sobre as condições de uma visita do Comité aos territórios sob administração portuguesa | |
18 | Deslocação a Lisboa do governador-geral de Moçambique, almirante Sarmento Rodrigues, por causa de actividades secessionistas de colonos da Beira |
23 | Resposta do Governo português à carta do Comité dos Sete da ONU recusando a visita do Comité aos territórios sobre administração portuguesa |
24 | Proibição, pelo Governo, das celebrações do Dia do Estudante, abrindo-se a crise académica |
27 | Constituição da FNLA, a partir da UPA e do PDA |
Abril | |
5 | Formação do GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio) pela FNLA |
6 | Greve da Universidade de Lisboa |
12 | Remodelação ministerial, com Gomes de Araújo a substituir Salazar na Defesa Nacional, Joaquim da Luz Cunha a substituir Mário Silva no Exército e Peixoto Correia a substituir Adriano Moreira no Ultramar |
Agitação nas universidades – luto académico | |
27 | Aprovação do Código do Trabalho Rural para o Ultramar |
Maio | |
Evasão de Lisboa, onde tinha residência fixa, de Agostinho Neto | |
1 | Repressão de manifestações de rua em Lisboa com palavras de ordem contra a guerra colonial, de que resulta um morto e várias dezenas de feridos |
22 | Chegada a Lisboa dos primeiros prisioneiros portugueses da índia, a bordo do navio Vera Cruz |
Junho | |
Apresentação, por Amílcar Cabral, perante a Comissão da ONU para os territórios administrados por Portugal, de um relatório intitulado «O Nosso Povo, o Governo Português e a ONU». | |
14 | Criação de um Centro de Instrução em Zemba (CI 21) para formar as primeiras unidades de comandos |
25 | Criação da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), presidida por Eduardo Mondlane |
Julho | |
Entrada em funcionamento da base de Kinkusu, atribuída pelo Governo do Congo-Leopoldville à UPA | |
Condenação, em Luanda, dos escritores António Jacinto, António Cardoso e José Graça (Luandino Vieira) a 14 anos de prisão por «actividades contra a segurança exterior do Estado» | |
5 | Independência da Argélia |
Agosto | |
Recomendação da Conferência de Ministros dos Negócios Estrangeiros da OUA reunida em Dacar para o reconhecimento do GRAE de Holden Roberto | |
Setembro | |
Fundação, em Dacar, da Frente de Libertação Nacional da Guiné (FLING) | |
1 | Petição ao presidente da República, por um grupo de personalidades da oposição, reclamando a demissão de Salazar e uma modificação na política ultramarina |
23 | Início do I Congresso da Frelimo em Dar-es-Salam |
24 | Demissão de Venâncio Deslandes dos cargos de governador-geral e comandante-chefe de Angola, na sequência de divergências com o ministro do UItramar, Adriano Moreira, por questões de autonomia política e administrativa do território |
Outubro | |
24 | Recepção de Kennedy a Franco Nogueira |
Novembro | |
Fim da secessão do Catanga e Cassai, que são reintegrados no Congo-Leopoldville | |
15 | Carta de Viriato da Cruz aos elementos do MPLA, manifestando-se contra Agostinho Neto |
23 | Depoimento de Eduardo Mondlane, em nome da Frelìmo, perante o Comité Especial da ONU para os territórios administrados por Portugal |
Dezembro | |
Apresentação na ONU do plano «U Thant» para unificação do Congo, para solucionar a questão da secessão do Katanga | |
Declarações de David Mabunda, secretário-geral da Frelimo, no Cairo, segundo as quais seria inevitável nova guerra, como em Angola, se Portugal não tomasse medidas imediatas para garantir a autodeterminação de Moçambique | |
1 | Negociações, em Paris, de Sócrates Deskalos, presidente da Frente Unida Angolana (FUA), para abrir um novo quartel-general no Congo e para colaborar com a UPA e MPLA |
Início do I Congresso do MPLA em Leopoldville, com Agostinho Neto na presidência e Mário de Andrade na vice-presidência, sendo elementos da Comissão Governativa P. Domingos da Silva, Matias Miguéis, Manuel Lima e Sócrates Daskalos | |
3 | Remodelação ministerial, com a entrada de Gomes de Araújo para ministro da Defesa, de Luz Cunha para ministro do Exército, de Peixoto Correia para o Ultramar e de Francisco Chagas para secretário de Estado da Aeronáutica |
12 | Aprovação de uma moção na ONU recomendando um programa especial de assistência técnica para educação e treino de dirigentes nacionalistas dos territórios sob administração portuguesa |
13 | Apresentação de Amílcar Cabral na Comissão de Curadorias da ONU como representante do PAIGC |
14 | Resolução da Assembleia-geral da ONU sobre Angola, condenando a atitude de Portugal, pedindo o reconhecimento imediato do direito dos povos não autónomos à autodeterminação e independência e a cessação imediata de todos os actos de repressão |
18 | Resolução da Assembleia-geral da ONU, reafirmando o inalienável direito do povo de Angola à autodeterminação e independência, condenando a guerra colonial conduzida por Portugal e requerendo ao Conselho de Segurança as medidas adequadas |
19 | Início da Conferência das Forças Antifascistas Portuguesas, que funda a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) |
28 | Depoimento de Holden Roberto, líder da UPA, perante a comissão especial da ONU |