sábado, 5 de setembro de 2009

Luanda - pela estrada fora

2 comentários:

  1. OFICIAL A PRAZO

    Tomar café no Hotel, era um hábito do dia-a-dia de quem teve a grande sorte de cumprir parte, ou toda a comissão, no Ambrizete.
    Situado a escassos metros do Quartel, era ideal para conversas animadas mas também mais privadas.
    Sentados e em amena cavaqueira, notámos a entrada dum garboso oficial que, diga-se, um pouco inchado caminhou para o balcão. Com voz firme e extremamente delicado, pediu o seu café enquanto com os dedos aconchegava os seus fartos bigodes. Reconhecendo nós o dito Militar, abdicámos da nossa conversa e concentrámo-nos exclusivamente nas suas atitudes. Á sua volta havia um corre-corre, protagonizado pelos homens do MVL que, muito justamente, aproveitavam todo o tempo disponível para saborear a tranquilidade que a Vila lhes oferecia.
    Passados alguns minutos, notámos que o Alferes em quem nos concentrávamos, fez uma chamada de atenção ao Furriel do MVL, alertando-o para o incómodo barulho que se instalou na área.
    Concordando e apresentando as desculpas, este chamou os seus homens à razão, voltando o ambiente à total normalidade. Notámos aqui a postura irrepreensível do Oficial, ao dirigir-se ao Furriel, dando mostras de ética militar e simultãneamente boa educação!
    Sentindo-se "indiscretamente" observado, olhou para nós um pouco por cima do ombro e com um ar de intelectual provocante puxou do cigarro e acendeu-o com grande estilo! Agora sim, estava realmente a pavonear-se e fazia mesmo questão de ser notado!
    Demasiado distraido com as suas poses, naõ se apercebeu da entrada do Comandante do Batalhão que, sabe-se lá porquê, lembrou-se de tomar o café no Hotel, naquele dia!
    Por mais que os nossos gestos o avisassem da entrada do Comandante, era tarde demais quando se apercebeu da sua presença! Este, para cúmulo do azar, colocou-se exactamente a seu lado para tomar o café. Olhou para a sua patente e, talvez confundindo-o com o Oficial do MVL, tocou-lhe no ombro afim de encetar qualquer conversa sobre qualquer assunto!
    O garboso Alferes, vendo que não tinha saída possivel, olhou para o Comandante e muito frontalmente disse-lhe com cara de pânico: «Sou eu meu Comandante!...» . «Mas é você o quê homem?!» respondia sem perceber o que se passava!
    «Meu Comandante, desculpe mas sou eu, o Soldado Nunes do PELREC...desculpe mas foi só para experimentar!...».
    Boquiaberto, o Ten. Coronel manteve com ele um pequeno diálogo e, retirado o respectivo "galão", lá seguiram para o Quartel como se nada tivesse acontecido!
    Mas afinal, o que se passou na verdade com o Soldado Nunes do PELREC?
    O Soldado Nunes era brincalhão mas, diga-se, por vezes tinha atitudes um pouco estranhas!
    Ùltimamente e segundo se constava, dizia que não acabaria a Comissão sem ser Oficial. De facto assim aconteceu, assumindo uma postura num misto de loucura e ingenuidade. A pena foi pesada e nem a boa representação como actor lhe valeu!
    Com uma alegria contagiante que lhe é muito peculiar, ainda hoje considera a pena como um troféu de guerra!

    Casal

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  2. Caro Bráz

    Esta é apenas mais uma simples história de entre muitas, que recheava o nosso dia a dia. Delas não falará a História, obviamente, mas fará sempre parte das vidas de quem as protagonizou!
    Talvez sirva, quem sabe, para transmitir às novas gerações que nos queiram ler, que havia outra vivência para além dos episódios de guerra.

    Um abraço

    Casal

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