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segunda-feira, 29 de julho de 2019

Ex-combatentes desconsiderados pelas autarquias


Algures na fronteira dos concelhos de Oeiras e Sintra encontramos este belo exemplar da consideração que os autarcas tem pelo antigos combatentes.
Uma rua num descampado, sem saída.
Foi assim como deitar para o caixote do lixo a obrigação de darem o nome a uma rua, qualquer..








sexta-feira, 26 de julho de 2019

21 de Julho de 1969 - chegada a Luanda

21 de Julho de 1969 a chegada a Luanda

Na senda das recordações e, acima de tudo, com a esperança que possamos deixar para o futuro, alguns dados da nossa vivência como militares e combatentes na Guerra de Áfria, vamos , com a nossa modèstia, deixando alguns relatos, opiniões e fotos dessa triste passagem de 2 anos por Angola.
Com Luanda à vista, depois de uma noite em que pelos rádios se ia ouvindo o relato da chegada do primeiro homem ao satélite da nossa Terra, o Vera Cruz, ansiava pelo descanso de uns dias, enquanto não regressava, pelo caminho das mesmas ondas para o Puto. Para lá levava, milhares de militares que iriam cumprir uma parte da sua obrigação de escrever umas tristes páginas da História de Portugal, para cá, o regresso não era tão penoso - uma parte dessas páginas já estava escrita por esses militares que esperavam com ansiedade esses momentos de embarque para casa.
Lentamente o Vera Cruz, como que cansado da longa viagem, foi-se aproximando do cais do Porto de Luanda. A enorme e lindissima baia, aí esta, tambem ela na expectativa de que, muitos dos agora forasteiros a iriam desfrutar em passeios descontraidos à beira mar, lavando o espírito das poeiras das picadas, das emboscadas, das doenças e da infinita tristeza gerada pela distância de familiares e amigos.
Luanda esperou.nos, com aquele calor tropical que desconhecíamos.
Esperou-nos e não foi nada hospitaleira.
Um enorme comboio, velho, mal tratado e nauseabundo, acolheu os militares, um pouco melhor que gado destinado ao matadouro, para nos levar, para o maior aquartelamento de Angola.
Á saída de Luanda, o Grafanil, era assim como uma placa giratória que albergava todos, os que chegavam e os que partiam.

Luanda era uma cidade enorme, com um movimento desusado de militares e civis. Muito civis eram militares,

Em Luanda, não havia guerra, mas havia o seu cheiro por todo o lado.

Circulava-se sem problema, a pé ou de transportes. Na cidade não havia guerra. Cafés , bares, restaurantes e cinemas funcionavam. 
Haviam locais específicos para a troca de Escudos por Angolares.

Havia os bairros e casas do ricos. Havia as casas dos pobres e os bairros, os muceques, com a sua vida e a sua própria filosofia de vida.

Havia uma enorme rede de cafés, bares restaurantes e locais nocturnos. Estes, frequentados na sua maioria por militares que aí, matavam a sede da bebida e da "carne branca" a troco de muitos e muitos angolares.

Luanda, tinha uma população que acarinhava os militares. Pudera. Havia bastas razões para o fazer.

Quem pode fazer uma viagem, durante a noite, pela marginal e pela ilha, tive o previligérios de desfrutar um ambiente fantástico de cor, que muitas fotos atestaram

Por aí, ficamos, 2 ou 3 dias, antes que a guia de marcha no fizesse obrigar a ser carregados em camiões civis, com enormes taipais, onde fomos misturados com a parca bagagem que nos acompanhava.

A partir do momento em que foi pisado o solo angolano, não creio que tivesse sido lembrado que nesse mesmo dia, nesses momentos, o homem andava lá pela Lua. Com um pouco de sorte, algum dos 3 astronautas até no poderia ter fotografado (?).

Não mais foram lembrados. A preocupação de quem chegou era única - saber qual seria o  poiso, que foi guardado, bem guardado em segredo.

Sabíamos que iríamos para o Norte, mas era tão grande esse Norte de Angola que a dúvida ficou sempre até ao final da viagem.

Ambrizete, foi a primeira paragem, não ficamos por aí, era bom demais para uns maçaricos como nós.

Até ao Ambrizete, ainda apanhamos uma picada asfaltada, embora com valas e enormes buracos por todo o caminho.

A partir do Ambrizete, foi só, pó e picada, pó e picada.


Aqui, por 2 cliques podem ver mais algumas mendsagens que foram publicadas sobre o mesmo tema


http://bcac2877.blogspot.com/search?q=chegada+a+Luanda

http://bcac2877.blogspot.com/2007/07/lisboa-luanda_13.html


http://bcac2877.blogspot.com/2014/07/bcac2877-chegada-luanda.html


http://bcac2877.blogspot.com/2017/07/21-de-julho-de-1969.html


http://bcac2877.blogspot.com/2013/07/21-de-julho-de-1969-chegada-luanda.html


domingo, 14 de julho de 2019

12 de Julho de 1969

12 de Julho de 1969 - 12 de Julho de 2015

Pouco importa o tempo que medeia entre estas duas datas para muitos portugueses.
Muitos dos actuais governantes nem passaram pela Guerra de África, pelo que nem podem e nem querem imaginar o que foi a ida  para o "incerto", deixando por cá os familiares mais queridos e os amigos, interrompendo uma vida que estava no seu percurso normal.
Hoje, os antigos combatentes, são esquecidos e não vêem reconhecidas pelo Estado que os mandou para a Guerra, as doenças resultantes de sua passagem por esse período da sua vida.
Com dezenas de livros, artigos de jornais, programas de televisão, fotos, blogs e muitos outros meios  de publicitar as passagem da Guerra de África, mais não servem que deixar um testemunho para os seus filhos, netos e todos  os outros vindouros daquilo que foi uma fase negra das suas vidas.

Assim foi naquele dia 12 de Julho de 1969, com o Vera Cruz, repleto de militares a caminho de Angola.
Nós fomos um daqueles que regressaram são e salvo. Outros o fizeram doentes ou estropiados para toda a vida
Muitos outros por lá ficaram,  mortos ou desaparecidos.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Joaquim Raposeiro Azevedo - faleceu

Luto


Joaquim Raposeiro Azevedo faleceu vitima de doença prolongada


 Aqui o vemos entre a esposa, que faleceu igualmente com doença prolongada e o seu  camarada da CCAC2543 - Fernandes.
Para quem o conheceu e com ele lidou,  na CCAC2543 e posteriormente, sabe da amizade que granjeou entre todos os que com ele comparticiparam momentos de vida em conjunto.
Um ex-camarada e um fiel e inveterado amigo nos deixou, com ele a saudade de muitos de nós

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Antigo Combatente - estatuto

Deputados pedem avaliação orçamental a estatuto do antigo combatente

A comissão de Defesa Nacional pediu hoje uma avaliação ao impacto orçamental das propostas de alteração do PSD, CDS, PS e BE ao estatuto do antigo combatente, que o deputados pretendem votar até dia 19 de julho.
O pedido de informação foi feito ao Governo e à Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), que funciona junto da Assembleia da República.
O vice-presidente da comissão Miranda Calha (PS) informou que o Governo está disponível para dar a informação aos deputados numa reunião que ficou agendada para sexta-feira de manhã, na Assembleia da República.
PSD e CDS fizeram uma proposta conjunta e PS e BE também apresentaram mudanças à lei que os partidos estão a tentar concluir antes das férias de Verão e do último plenário agendado para 19 de julho.
Não sendo votada até essa data, o diploma caduca e teria de ser reapresentado na próxima legislatura.
A proposta de lei faz uma compilação de todos os direitos de que podem usufruir os antigos combatentes, da guerra colonial e os que estiveram em Forças Nacionais Destacadas, mas não confere novos benefícios.
O diploma cria o cartão do antigo combatente "que se constitui como elemento facilitador" e de "simplificação do acesso aos direitos sociais e económicos consagrados na legislação", segundo a exposição de motivos da proposta.
É também criada uma unidade técnica para os antigos combatentes com a missão de aplicar a lei, na dependência do ministro da Defesa, e outras medidas organizacionais que visam assegurar a ligação entre ministérios e serviços.
Fica consagrado na lei o Plano de Ação para Apoio aos Deficientes Militares criado em 2015 e o plano de apoio aos antigos combatentes em situação de sem abrigo que "permitirá sinalizar as situações existentes" e promover a "possibilidade de uma habitação digna para todos".
Em 07 de junho, a proposta de lei para consagrar o estatuto do antigo combatente baixou sem votação na generalidade à comissão, depois do debate na generalidade.
Na apresentação do diploma, o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, defendeu que o diploma "não tem apenas um caráter simbólico" e manifestou expetativa numa "votação ampla" visando o "reconhecimento formal" que é devido aos antigos combatentes.
Nesse debate, pelo CDS-PP, João Rebelo afirmou que o documento "é positivo" mas representa "muito poucochinho" já que "não cria novos direitos", e adiantou que no âmbito do grupo de trabalho apresentará propostas para "melhorar a lei".
Para o PSD, disse o deputado Luís Pedro Pimentel, o reconhecimento do estatuto do antigo combatente "é um dever" mas, advertiu, "caso não venha a ser melhorada em sede de especialidade, [o diploma] corre o risco de nada acrescentar ao que já existe".
O deputado comunista Jorge Machado defendeu que "importa ir mais longe" porque "espremido, espremido", o diploma não trouxe nada de novo que "signifique um acrescento às condições de visa e socioeconómicas dos antigos combatentes".
Uma vez na especialidade, disse, deve ser revista a lei que regula o suplemento de pensão, considerando que "é uma justa reivindicação dos combatentes".
Pelo BE, o deputado João Vasconcelos defendeu que as propostas "são muito limitadas e acabam por merecer a reprovação de diversas associações de ex-militares", não agradando "nem a gregos nem a troianos".

domingo, 30 de junho de 2019

MVL - ao Domingo

O MVL e a guerra

A guerra nunca tem  Sábados, feriados ou Domingos de descanso.
Ao Domingo, passava por Zau Évua o MVL e com ele vinham mantimentos, materiais e equipamentos, pois era por esta forma que as unidades militares e os civis eram abastecidos, com excepção de alguns fornecimentos e correio que chegavam por avião.
Era uma pequena festa, ver a entrada de algumas camionetas no aquartelamento carregadas de grades de cerveja e de outras bebidas e viveres.
Para alem disso, sempre se procurava se  algum conhecido ou amigo ia de viagem mais para o norte, Quiende e São Salvador.
As escoltas eram feitas pelo pessoal do batalhão, mas de outras companhias que faziam a entrega do MVL no aquartelamento seguinte de que depois voltavam para trás, para o seu e também se aproveitavam estes momentos para a confraternização com os elementos da escolta, pois só nestas alturas se podiam encontrar.
A escolta e o MVL tinha a sua "guerra" própria, com a sua passagem em dias da semana sempre iguais e sempre de igual modo.
A guerra propriamente sendo também igual, tinha a variante ser sempre diferente em cada dia da semana, não importante se era ou não Domingo ou feriado.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

João Oliveira - acidente

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Actualizado em 02/06/2019 - 14:40 horas



Uma das visitas ao João Oliveira, esta, momentos antes de regressar a sua casa para acabar o restabelecimento dos traumas resultantes do acidente que sofre.
~Combinamos o alm oço deste ano para o mês de Setembro

Sabemos que João Oliveira continua a recuperar da situação em que o seu acidente o deixou

Assim, tendo em vista, os diversos pedidos de informação sobre o seu estado de saúde que nos tem chegado, e após contacto pessoal com a esposa, vamos, através de email, informar o numero de telemóvel da esposa - Dina - para que possam para que em cada momento  saber do estado de saude do nosso ex-camarada







Confraternização de 2017

Aquele que foi o grande percursor dos almoços de confraternização anuais do BCAC 2877,  e que com enorme esforço conseguiu por em marcha e dar continuidade ao que ainda hoje continua, para a alegria e felicidade de quem participou e continua, ano após ano a neles participar, teve um acidente, um grave acidente que o levou à cama do Hospital de S. José, ao Hospital de Vila Franca de Xira e, presentemente a estar em convalescença em Oeiras no Hospital da Misericórdia de Oeiras.

Temo-lo visitado e havido melhoras no seu estado de saúde

Para ele, e para a sua família, que o tem visitado assiduamente, em nome de todos, os nossos votos de uma rápida recuperação, para que possa voltar aos nossos almoços rapidamente.

Um abraço

terça-feira, 25 de junho de 2019

CCAC2543 - ex em almoço


 Uns telefonemas e resultou o avivar das velhas amizades produzidas em tempos de guerra no Zau Évua e no Quiende
Almoço de "capado" uma sugestão  do Mário em Amiais de Baixo no Amiense - Retido do Capado que resultou em grande.
Pela amostra abaixo, Costa, Mário, Guerreiro e César da CCAC2543, pode conclui-se como decorreu o repasto.
Estiveram presentes igualmente o Carriço, também ex-combatente e amigo do Costa e do Guerreiro e um outro amigo do Mário e residente em Amiais de Baixo.
No final, uma visita ao nascente do Rio Viela, que recomenda uma visita

Fotos do Francisco Guerreiro e do Braz Gonçalves












































Cartas da Guerra - filme


Abaixo um excerto duma entrevista do realizador do filme

"Ele explica, em entrevista à Renascença. Incomodava-o saber que a guerra tinha sido "atirada para o mesmo canto do fascismo". Nem os ex-combatentes, que agora fazem excursões para ver "Cartas da Guerra", falavam dela. "Sinto que este filme tem funcionado para fazer um desfolhar da cebola.""

In ( Radio Renascença) em 01 de Setembro de 2016

A leitura dos comentários é de interesse

domingo, 23 de junho de 2019

Do Porto Brandão à mata dos Medos na Fonte da Telha

A noite de 23 de Junho, Véspera de São João é a celebração que ocorre antes do dia de Nascimento de João Batista. O Evangelho de Lucas (Lucas 1:36, 56-57) afirma que João nasceu cerca de seis meses antes de Jesus; portanto, a festa de São João Batista foi fixada em 24 de junho, seis meses antes da Véspera de Natal. Este dia de festa é um dos poucos dias dedicados a santos que celebra o nascimento do homenageado, ao invés de sua morte.[1]

A Festa de São João coincide estreitamente com a comemoração do solstício de verão, referido como midsummer no hemisfério norte. Apesar do dia santo cristão ter sido fixado em 24 de Junho, na maioria dos países as festividades são realizadas na noite anterior. In "Wikipédia"

Foi nesta noite, em 1969 que parte do BCAC 2877 se deslocou pela noite, em marcha, até à Fonte da Telha  onde ficou, para fazer a tal IAO Instrução de Adaptação Operacional.
  Ali foram dadas no quartel da antiga Guarda Fiscal as habituais vacinas e a alimentação era confeccionada na antiga bateria de Artilharia ali existente

domingo, 16 de junho de 2019

Hoje é Domingo



Hoje é Domingo...
Por ser Domingo, no Lufico, Tomboco, Quiximba, Zau Évua e Quiende,  a localização das unidades do BCAC2877, não  deixavam de fazer a Guerra.
A guerra não tinha descanso aos Domingos, dias santos ou feriados.

A LOGÍSTICA DE PORTUGAL NA GUERRA SUBVERSIVA DE ÁFRICA (1961 A 1974) IIIIII



Figura 6: Percentagem de tropas de Serviços nos três TO

 Os princípios gerais estabelecidos no apoio logístico em Angola, passaram a ser: a obtenção dos recursos em condições económicas; fomento do desenvolvimento regional; e o apoio por área o mais “à frente” possível[188]. Neste sentido, a criação de depósitos avançados no interior de Angola permitiu um reabastecimento mais rápido, e assim reduzir a quantidade de material a transportar, aumentando em simultâneo a mobilidade e o poder de fogo. A grande distância que separava as unidades, e a enorme extensão das áreas de apoio, levou a que os pelotões de manutenção fossem reforçados com pessoal técnico e dotações orgânicas, destinados a fazer face a situações de emergência localmente criadas, dispondo de autonomia administrativa, para a exploração dos recursos locais[189]. Apesar de não ter sido possível aplicar sempre o apoio logístico com oportunidade, eficiência e economia até 1969[190], as lacunas foram sendo corrigidas e, “na generalidade, não há combatentes, nos três TO que não sejam unânimes em reconhecer que o apoio logístico funcionou com flexibilidade e rigor”[191].
Na Guiné, o sistema de apoio logístico adotado, baseou-se na experiência de Angola, condicionado pela especificidade do território. O apoio logístico deste TO dependia quase exclusivamente da Metrópole, com Bissau como única “porta de entrada” dos abastecimentos. A “inexistência de povoações que aliviassem Bissau” da função de base logística, levou à centralização dos órgãos logísticos em Bissau, de onde se aplicava o apoio de área, sem depósitos avançados. O reabastecimento da Guiné era mais escasso do que para os outros TO, o que gerou a necessidade de se criarem elevados níveis de abastecimentos. Devido à grande quantidade de minas, e ao “terrorismo ativo em quase todo o território”, os reabastecimentos para o interior do TO eram feitos por via aérea, marítima e fluvial[192]. As condições atmosféricas adversas, tanto para a saúde, conservação dos géneros e manutenção dos materiais, levou a algumas adaptações, como a criação de uma rede de frescos, através da distribuição de meios de frio às unidades, passando o reabastecimento de frescos a ser feito por via aérea[193].
Em Moçambique, a atividade logística desempenhou um papel de relevo, acompanhando as fases de planeamento e respondendo com oportunidade e eficiência às solicitações de ordem operacional[194]. A doutrina adotada foi a seguida em Angola, embora a maior distância da frente à retaguarda tivesse obrigado a alguns ajustamentos. A configuração geográfica, com grande desenvolvimento em latitude, com extensas vias de comunicação terrestres de difícil transitabilidade e descontínuas[195], e com os rios a constituir sérios obstáculos aos movimentos sul-norte, tornava as vias férreas e aérea realmente importantes.
Em 1964, as unidades de apoio existentes eram semelhantes às de Angola, com os Depósitos-Base localizados em Lourenço Marques, onde era desembarcado todo o material. Contudo, a falta de infraestruturas civis nos locais de maior atividade militar, e a excentricidade das fontes de obtenção dos recursos em relação às áreas de esforço militar, constituiu um sério problema. Assim, o material passou a ser também desembarcado na Beira, Nacala e Porto Amélia, onde se estabeleceram novos Depósitos-Base e foram criadas quatro áreas logísticas, diretamente relacionadas com as origens geográficas dos abastecimentos e com as possibilidades de irradiação dos sistemas de transporte, embora subordinadas ao dispositivo operacional[196].
A concentração da guerrilha a norte do TO levou a que, em 1970, todos os órgãos de direção logística e, progressivamente, as infraestruturas militares de apoio de base se deslocassem de Lourenço Marques para Nampula[197]. A execução descentralizada do apoio logístico e as suas características de apoio de área, impuseram uma notável sobrecarga nos sistemas de transportes, pelo que passaram a estruturar-se em: sistema primário, baseado em meios de transporte pesado, como navios e aviões, responsável pela ligação entre os centros logísticas; sistema secundário, baseado na rede ferroviária do centro e do norte do TO, em aviões de transporte médio da FAP e fretados[198] e em meios rodoviários com grande capacidade de carga[199], responsável pela ligação dos centros logísticos com os pontos de destino intermédio[200]; e sistema terciário, baseado em lanchas de desembarque, aviões ligeiros, civis fretados ou da FAP (DO-27 ou helicópteros) e meios rodoviários, que ligam os pontos de destino intermédio às unidades dispersas. Até ao 25 de Abril de 1974, os reabastecimentos decorreram com normalidade, sem faltar nada às unidades que atuavam nos TO, sendo que os efetivos da Marinha e da FAP também se socorriam do apoio do EP quando necessário[201].

5. Conclusões

A manobra logística de Portugal, entre 1949 e 1974, teve como objetivo principal reunir condições para apoiar o aparelho militar de Portugal.
A forma como Portugal saiu da Segunda Guerra Mundial, reforçado política e economicamente, com avultadas quantias em reservas de ouro e em divisas acumuladas, juntamente com o apoio económico-financeiro dos EUA, até meados da década de 1950, decorrente do Plano Marshall, foram essenciais para a criação da indústria de defesa que iria contribuir para a capacidade de sustentação portuguesa na guerra subversiva em África. Com a integração de Portugal na aliança OTAN, a estrutura militar portuguesa foi amplamente influenciada. As FA portuguesas foram modernizadas dentro dos limites dos recursos nacionais e passou a existir um quadro de pessoal instruído ao nível logístico, segundo a doutrina dos EUA. Estas reorganizações constituíram a “base para a futura expansão” e sustentação, necessária para conduzir as operações militares em África, de 1961 a 1974.
O crescente isolamento internacional de que Portugal era alvo e o afastamento político dos EUA, iniciado na crise do canal do Suez em 1956, levou a uma reorientação do esforço do governo português para a defesa do império, em detrimento da participação na OTAN. Prevendo a possibilidade iminente de uma guerra subversiva em África, Portugal intensificou o seu esforço no sentido de recolher conhecimentos sobre a nova tipologia de operações, e foi a consciência de que “a luta seria prolongada”, que orientou as operações de contrainsurreição para a manutenção do “conflito a uma escala reduzida, lento e com poucas despesas”, de modo a permitir a sustentação da guerra por um longo período, e ganhar a confiança da população.
Na realidade, apesar de, em 15 de março de 1961, a estrutura logística do EP dispor já de entidades de direção e órgãos de execução em pleno funcionamento, que permitiram reagir à situação de emergência que surgiu em Angola, a doutrina e princípios orientadores da ação da logística tiveram que ser reformulados e adaptados pelas FA para ações de contrassubversão. A insuficiência em recursos naturais, demográficos e financeiros, a natureza subversiva da guerra, a enorme distância dos três TO da Metrópole, a manutenção de uma média anual acima de 100.000 homens em armas e a longa duração do conflito, tornaram a permanência de Portugal em África numa missão extremamente ambiciosa. Perante a urgente necessidade de material adequado às exigências operacionais, recorreu-se à improvisação, através do fretamento de meios de transporte, aproveitamento do armamento disponível e aquisição de diverso material de guerra, visando sempre reduzir a dependência do estrangeiro.
Contudo, foi a expansão das indústrias militares para África que permitiu “acionar uma rede de órgãos avançados adaptada ao dispositivo tático”, que passou a fornecer com regularidade os abastecimentos necessários às tropas. O apoio logístico implementado passou a seguir os seguintes princípios gerais: a obtenção dos recursos em condições económicas; fomento do desenvolvimento regional; e o apoio por área o mais “à frente” possível. Neste sentido, a criação de bases e áreas logísticas nos TO e a descentralização das estruturas de apoio, foram o resultado da adaptação do sistema logístico às características dos territórios, visando responder às necessidades operacionais. Embora a descentralização do apoio logístico e o apoio de área tenham sobrecarregado os sistemas de transportes, estes adaptaram-se e estruturaram-se em três sistemas, dependendo dos locais de destino e cargas a transportar.
A enorme extensão e má qualidade das vias de comunicação, e a quase ausência de infraestruturas nos TO, levaram a um investimento na rede estradal, que, além de ter tido especial importância na luta contra a subversão, contribuiu também para o desenvolvimento económico e melhoria das populações dos territórios ultramarinos. O aproveitamento dos recursos humanos e naturais ultramarinos contribuiu também para o desenvolvimento económico e social dos territórios, o que aumentou a capacidade de arcarem com uma parte substancial da defesa e dos custos da guerra. Para racionalizar as despesas, após 1966, procedeu-se à normalização dos equipamentos, que permitiu reduzir a diversidade dos sobressalentes e, a partir de 1971, o transporte de pessoal da Metrópole para os TO passou a ser feito via FAP, mais cómodo, rápido e económico do que o transporte por via marítima.
Apesar destes esforços, o governo português não dispunha dos “meios políticos, económicos e militares para conduzir a sua política isoladamente”, nem conseguiria promover o desenvolvimento económico do país sem o “indispensável apoio externo”. Neste campo, a cooperação com a França e a RFA assumiram funções de destaque nos apoios financeiros e militares que Portugal necessitava para os conflitos em Angola, Guiné e Moçambique. O governo português estabeleceu ainda acordos militares de assistência mútua e económicos com alguns países da África Austral, principalmente com a antiga Rodésia e com a RAS, que permitiram assegurar a ligação terrestre pacífica entre Angola e Moçambique, a autorização de passagem pelos seus territórios para transportar abastecimentos de Lourenço Marques para o Norte do território, e obter da RAS, a partir de 1966, o apoio tecnológico e material que lhe começava a faltar da França e da RFA. Com um embargo limitado, foi-se conseguindo um equilíbrio favorável entre as capacidades que se conseguiam desenvolver e o material que se tinha que importar.
Apesar de todas as insuficiências e dificuldades, Portugal conseguiu garantir as condições essenciais à sua permanência em África e à concretização de um desenvolvimento evidente nas províncias ultramarinas durante os catorze anos de conflito armado e a manobra logística foi essencial para a realização deste objetivo.



sábado, 15 de junho de 2019

A LOGÍSTICA DE PORTUGAL NA GUERRA SUBVERSIVA DE ÁFRICA (1961 A 1974) IIIII


4. Adaptação da logística aos teatros de operações

A guerra levou a que as Forças Armadas realizassem uma reconversão e adaptação da guerra convencional para a guerra subversiva. Neste contexto, houve necessidade de aligeirar o equipamento e o armamento, o que levou à adaptação dos uniformes, reformulou-se o sistema logístico e de intendência, e melhorou-se a capacidade da indústria nacional no apoio às necessidades de defesa e a indústria de defesa na sua capacidade de produção[172]. Até 1962, procedeu-se ao aproveitamento do material existente nos depósitos, reconstituindo-os sempre que necessário, enquanto se procedia à aquisição e fabrico de novos equipamentos.
Ao nível das vias de comunicação[173], estas tiveram especial importância na luta contra a subversão, quer na mobilidade proporcionada aos movimentos táticos e logísticos, quer no desenvolvimento económico dos territórios e na aproximação às populações. Em África “a subversão começava onde acabava a via de comunicação”[174]. Neste contexto, houve um investimento na rede estradal, ao ponto de se construir anualmente 1.000 quilómetros de estradas asfaltadas, só em Angola. O grande esforço da engenharia militar na abertura de picadas táticas e construção de estradas[175], em zonas de subversão ativa, contribuiu também para o desenvolvimento económico e melhoria das populações dos territórios ultramarinos.
A normalização dos equipamentos foi a solução adotada, após 1966, para evitar o “colapso no sistema de transportes”[176]. A prioridade dada à redução do número de marcas e modelos das viaturas militares, permitiu reduzir a diversidade dos sobressalentes e racionalizar as despesas[177]. Esta redução de viaturas acentuou o processo de “canibalização” para atenuar a falta de sobressalentes, em virtude das enormes distâncias dos pelotões de manutenção entre si e dos depósitos[178]. Ao nível dos transportes, em 1971, iniciou-se o transporte de pessoal da Metrópole para os TO nos aviões da FAP[179], designadamente nos recém-adquiridos Boeing 707[180], mas também nos DC6[181]. Este procedimento teve várias vantagens: proporcionou maior comodidade, que contribuiu para reduzir a deterioração das cargas; reduziu o elevado tempo das viagens marítimas; proporcionou a rendição progressiva, por subunidades, com a consequente redução dos pontos fracos no dispositivo, resultantes da rendição de batalhões completos; e permitiu uma poupança de 3.554 homens/ano na ida e volta, equivalente a três batalhões de caçadores em efetivos de combate[182]. Os meios aéreos, mais rápidos e menos dispendiosos, melhoraram a capacidade de sustentação das operações militares e, ao substituírem os grandes navios que chegavam com fanfarras e escoltas[183], reforçaram a natureza discreta das operações logísticas. Apesar das dificuldades sentidas, a capacidade de resposta e de previsão da Metrópole “foi notável”, e muito se deveu à importância que foi dada à logística[184]. Na realidade, a percentagem dos efetivos em tropas de combate, apoio de combate e de serviços, refletem as necessidades sentidas pelas FA durante a guerra, onde se verifica a maior importância da logística em Moçambique, com a percentagem mais elevada de tropas de serviços, contrariamente ao TO da Guiné, com a percentagem mais elevada de tropas de combate. Nas Figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6, é possível visualizar a percentagem de efetivos das tropas de combate, apoio de combate e de serviços portuguesas nos três teatros de operações[185].


sexta-feira, 14 de junho de 2019

Saudades e angustias das partidas

A saudade existe, não porque estamos longe, mas porque já estivemos perto


A saudade que é uma palavra e um sentimento tipo dos portugueses, e transformando esse estado afectivo num drama que surge e se apodera-se dos nossos espíritos tolhendo-nosas mentes muitas vezes e tornando-nos inconscientes.
Um frase dos portugueses que diz- quem passa por elas é que sabe.
Sabias palavras, pois a experiência traduz em verdade tudo o que sabiam que existia, mas ainda não tínhamos sentido o seu sabor.
Isto a propósito do estado de espírito com que ficavam os familiares dos militares que partiam para a Guerra de África.
Era a amargura de os ter longe em local desconhecido, era o medo da própria guerra que se traduz em morte, acidentes e doenças.
Era o medo da falta de protecção que não podiam dar aos seus entes queridos.
Era afinal o deixar de estar ou ter  por perto os seus filhos, netos, irmãos ou outros familiares.
Hoje sentimos, embora de modo diferente, mas com sentimento semelhante com a partida de familiares ou amigos, para o estrangeiro.
A emigração assim obriga a muitos milhares de portugueses.
Desta vez calhou-nos à porta.
Podemos de  algum modo comparar aquilo que muitas centenas de milhares sentiram com a partida dos seus familiares.