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sábado, 21 de julho de 2018

21 de Julho de 1969 a chegada a Luanda

21 de Julho de 1969 a chegada a Luanda - foi o que escrevemos em 2013

Na senda das recordações e, acima de tudo, com a esperança que possamos deixar para o futuro, alguns dados da nossa vivência como militares e combatentes na Guerra de Áfria, vamos , com a nossa modèstia, deixando alguns relatos, opiniões e fotos dessa triste passagem de 2 anos por Angola.
Com Luanda à vista, depois de uma noite em que pelos rádios se ia ouvindo o relato da chegada do primeiro homem ao satélite da nossa Terra, o Vera Cruz, ansiava pelo descanso de uns dias, enquanto não regressava, pelo caminho das mesmas ondas para o Puto. Para lá levava, milhares de militares que iriam cumprir uma parte da sua obrigação de escrever umas tristes páginas da História de Portugal, para cá, o regresso não era tão penoso - uma parte dessas páginas já estava escrita por esses militares que esperavam com ansiedade esses momentos de embarque para casa.
Lentamente o Vera Cruz, como que cansado da longa viagem, foi-se aproximando do cais do Porto de Luanda. A enorme e lindissima baia, aí esta, tambem ela na expectativa de que, muitos dos agora forasteiros a iriam desfrutar em passeios descontraidos à beira mar, lavando o espírito das poeiras das picadas, das emboscadas, das doenças e da infinita tristeza gerada pela distância de familiares e amigos.
Luanda esperou-nos, com aquele calor tropical que desconhecíamos.
Esperou-nos e não foi nada hospitaleira.
Um enorme comboio, velho, mal tratado e nauseabundo, acolheu os militares, um pouco melhor que gado destinado ao matadouro, para nos levar, para o maior aquartelamento de Angola.
Á saída de Luanda, o Grafanil, era assim como uma placa giratória que albergava todos, os que chegavam e os que partiam.
Luanda era uma cidade enorme, com um movimento desusado de militares e civis. Muito civis eram militares,
Em Luanda, não havia guerra, mas havia o seu cheiro por todo o lado.
Circulava-se sem problema, a pé ou de transportes. Na cidade não havia guerra. Cafés , bares, restaurantes e cinemas funcionavam. 
Haviam locais específicos para a troca de Escudos por Angolares.
Havia os bairros e casas do ricos. Havia as casas dos pobres e os bairros, os muceques, com a sua vida e a sua própria filosofia de vida.
Havia uma enorme rede de cafés, bares restaurantes e locais nocturnos. Estes, frequentados na sua maioria por militares que aí, matavam a sede da bebida e da "carne branca" a troco de muitos e muitos angolares.
Luanda, tinha uma população que acarinhava os militares. Pudera. Havia bastas razões para o fazer.
Quem pode fazer uma viagem, durante a noite, pela marginal e pela ilha, tive o previligérios de desfrutar um ambiente fantástico de cor, que muitas fotos atestaram
Por aí, ficamos, 2 ou 3 dias, antes que a guia de marcha no fizesse obrigar a ser carregados em camiões civis, com enormes taipais, onde fomos misturados com a parca bagagem que nos acompanhava.
A partir do momento em que foi pisado o solo angolano, não creio que tivesse sido lembrado que nesse mesmo dia, nesses momentos, o homem andava lá pela Lua. Com um pouco de sorte, algum dos 3 astronautas até no poderia ter fotografado (?).
Não mais foram lembrados. A preocupação de quem chegou era única - saber qual seria o poiso, que foi guardado, bem guardado em segredo.
Sabíamos que iríamos para o Norte, mas era tão grande esse Norte de Angola que a dúvida ficou sempre até ao final da viagem.
Ambrizete, foi a primeira paragem, não ficamos por aí, era bom demais para uns maçaricos como nós.
Até ao Ambrizete, ainda apanhamos uma picada asfaltada, embora com valas e enormes buracos por todo o caminho.
A partir do Ambrizete, foi só, pó e picada, pó e picada.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Guerra Colonial - Portugal



Após a II Guerra Mundial todos os países europeus com excepção de Portugal foram concedendo a independência aos seus territórios na Ásia e em África, recorrendo por vezes ao uso da força (por exemplo no caso da Argélia). Assim, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, o chamado "Estado da Índia" (constituído por Goa, Damão e Diu), Macau e Timor eram ainda pertença portuguesa.

Em 1955, com a entrada de Portugal na ONU, foi recomendado ao governo tornar as suas colónias independentes, algo que não foi aceite. Para tentar contornar a situação o regime declarou as colónias como "províncias ultramarinas" e concedeu a cidadania aos seus habitantes. Tal medida foi reprovada internacionalmente pela Assembleia-Geral das Nações Unidas.

Goa, Damão e Diu seriam os primeiros territórios que Portugal perderia, após uma guerra de pequena duração com as forças indianas.

Em 1961, um rol de acontecimentos marcam uma viragem no destino das colónias portuguesas. É o caso da rebelião iniciada pelos militantes do MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola) em Luanda, a 4 de Fevereiro e, a 15 de Março, a UPA (União das Populações de Angola), posteriormente denominada FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), inicia um conjunto de violentos ataques no norte da colónia. Anos mais tarde, já com a presença da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), começa uma luta de guerrilha.

O conflito na Guiné-Bissau irá iniciar-se em 1963, com apenas uma organização política: o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde), ao passo que a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) irá conduzir Moçambique à guerra no ano de 1964.

No continente africano apenas Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe ficaram imunes à guerra; na Ásia o território macaense sofreu alguns momentos de instabilidade, não tendo no entanto chegado a haver conflito armado; em Timor os movimentos independentistas só surgiram após o 25 de Abril de 1974.

No ano de 1961 Salazar irá proferir a máxima legitimadora da sua posição relativamente às rebeliões que se desencadeavam nas possessões portuguesas: "Para Angola, imediatamente e em força".

As três frentes de guerra provocaram fortes abalos nas finanças do Estado, desgastando simultaneamente as forças armadas, ao mesmo tempo que colocava Portugal cada vez mais isolado no panorama político mundial. A nível humano, as consequências foram trágicas: um milhão e quatrocentos mil homens mobilizados, nove mil mortos e cerca de trinta mil feridos, além de cento e quarenta mil ex-combatentes sofrendo distúrbios pós-guerra. A acrescentar a estes números há ainda que mencionar as não contabilizadas vítimas civis de ambas as partes.

O conflito não terá solução através de meios pacíficos ou militares, mas apenas por meios políticos e diplomáticos empreendidos após 1974.

quinta-feira, 12 de julho de 2018

12 de Julho de 1969


No Vera Cruz aí íamos nós a caminho da Guerra do Ultramar.
Destino Angola, com passagem pela Ilha da Madeira para embarcar mais uma Companhia Operacional.
Angola era o destino.
Os locais no Norte, só mais tarde viemos a ter conhecimento.
Uns voltaram, outros não.

terça-feira, 10 de julho de 2018

Ex-combatentes no Ultramar recebem medalhas - Caldas da Raínha

Ex-combatentes no Ultramar recebem medalhas

Teve lugar na Escola de Sargentos do Exército (ESE), nas Caldas da Rainha, no dia 28 de junho, uma cerimónia de imposição de medalhas comemorativas das campanhas a 16 ex-combatentes no Ultramar entre 1961/1974, residentes na região.

Cerimónia na Escola de Sargentos do Exército 
Após o acolhimento dos ex-combatentes e convidados foi realizada uma visita às instalações, seguida de uma missa de homenagem a todos os militares e civis que morreram na guerra de África entre 1961 e 1974. 
No auditório 2.º Sargento José Paulo dos Santos foi realizada a cerimónia de imposição de condecorações, tendo sido presidida pelo comandante da ESE, coronel Gonçalo Azevedo, que aproveitou a ocasião para salientar o simbolismo do ato realizado e a sua importância para a formação dos alunos.
Terminada a sessão seguiu-se um almoço, no qual os ex-combatentes e respetivos acompanhantes participaram.
Foram condecorados os seguintes ex-combatentes: Ex-tenente Joaquim Sanches (Angola 1967-70), ex-furriel José Morim (Angola 1968-71), ex-furriel Carlos Cordeiro (Angola 1967-69), ex-1º cabo Armando Alves, a título póstumo (Angola 1961-63), ex-1º cabo António Pereira da Silva (Angola 1962-63), ex-1º cabo José Sousa (Moçambique 1963-65), ex-1º cabo Américo Sousa (Angola 1965-67), ex-1º cabo Arcolino (Guiné 1973-74), ex-1º cabo Carlos Martins (Moçambique 1971-73), ex-2º cabo António Oliveira (Angola 1961-63), ex-soldado Guilherme Oliveira (Angola 1966-69), ex-soldado Carlos Machado (Angola 1968-70), ex-soldado Henrique Pedro (Moçambique 1970-72), ex-soldado Guilhermino Fortes (Guiné 1971-72), ex-soldado Adriano Mendes (Moçambique 1971-73) e ex-soldado Mário Abrantes (Moçambique 1972-74).


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sexta-feira, 6 de julho de 2018

2019 - I - 50 anos


Aguardamos o contacto com os camaradas que organizam o almoço da CCAC2542 para a hipótese de fazermos a confraternização em conjunto

quinta-feira, 5 de julho de 2018

2018 - Confraternização anual III - Ementa


Estamos a escolher a ementa para o almoço de confraternização.

Os pratos a apresentar e tudo o resto, desde as entradas, as sobremesas, as bebidas, o bolo de aniversário, etc,  estão em linha de conta com o preço.

Logo que tenhamos novidades, daremos conhecimento

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Histórias de tatuagens do ultramar contadas em livro


Quem não se recorda do Américo (já falecido) e que nós visitamos, com o Adelino Martins e  o Aires no Carregal do Sal,  aqui estava com a a sua tatuagem.
Foto tirada no lar onde se encontrava

Diana Gomes é body piercer e recentemente também começou a fazer tatuagens. Rui Caria é repórter de imagem e fotógrafo. Juntos vão lançar uma obra de textos e fotografias onde contam as histórias de "gente que um dia foi à guerra e ficou tatuada por dentro". 

Diana Gomes é body piercer há 18 anos. A vida uniu-a ao marido, José Carlos, tatuador há 21. Juntos, têm o "Poison tatoo" na Praia da Vitória, há 14 anos. As tatuagens são, no fundo, indissociáveis da vida pessoal e profissional do casal e, como tal, o olhar clínico sobre as tatuagens muitas vezes incompreendidas dos ex combatentes do ultramar permitiu ao casal começar a reunir histórias.

Diana é, também, mulher de palavras e começou a escrever alguns textos sobre os "Amor de Mãe", tatuados nos braços destes homens. Para a recente tatuadora este registo é urgente de forma a preservar parte da nossa história: "surge na urgência de as poder “salvar”. Sempre que via uma tatuagem antiga conseguia decifrar se era do ultramar ou não, achava-as lindas e autênticas e muito específicas de uma época. Estas tatuagens fazem parte da nossa história, com características muito próprias e despertavam-me curiosidade em querer saber mais sobre elas.

Esta ideia já a tinha tido há muitos anos mas na realidade nunca a tinha contado (a não ser ao José Carlos, o meu marido). 

A urgência também dá-se ao tempo que ainda nos resta, que na verdade já não é muito…. Os homens que as têm são senhores na casa dos sessenta e alguns anos. Cada vez são mais raras e difíceis de as encontrar. Quero preservá-las para o todo sempre.", disse Diana ao Açoriano Oriental.

O processo de pesquisa e abordagem já dura há 3 anos. O trabalho está, agora no seu terminus: "A história de cada um deles vai ser contada, as fotografias vão ser vistas e as tatuagens que fizeram vão permanecer enquanto houver corpo. O livro que queremos mostrar é de gente que um dia foi à guerra e ficou tatuada, por dentro", adiantou a body piercer. 

O momento de decisão foi quando Rui Teixeira foi ao estúdio pedir que lhe tapassem as várias tatuagens que fez no ultramar. Diana achou-as tão perfeitas e identitárias que pediu para que Rui lhe contasse a história daqueles registos no corpo. O ex combatente acedeu à proposta e Diana precisava agora de um fotógrafo que soubesse contar as histórias através de imagens. Rui Caria, a viver há largos anos na Praia da Vitória aceitou o desafio. Diana "Sabia que mesmo que os meus textos não fossem os mais bem escritos ( porque não tenho qualquer formação na área, apenas um gosto desde da minha adolescência de escrever e recitar os meus poemas) as tatuagens do ultramar estariam salvas através do seu talentoso trabalho fotográfico".

"Comecei a procurar senhores que tinham ido ao ultramar, fui à junta de freguesia da Vila das Lajes para ver se conseguia nomes, depois fui falando com pessoas conhecidas e amigas que se iam lembrando de familiares que as tinham. Também fui a um encontro de homenagem aos ex-combatentes e tive a oportunidade de conhecer alguns deles. Visitei o Museu Militar dos Açores, no forte de São Brás na cidade de Ponta Delgada que tem uma sala dedicada ao Ultramar, fui ver onde ficava o Quartel dos Arrifes e também fui ao local onde se situou a Bateria também em Ponta Delgada." 

Para a tatuadora terceirense não há histórias mais ou menos importantes: "Na verdade são todas urgentes de registar, porque cada uma possui histórias incríveis, relatos únicos. Não foi muito fácil encontrá-los. Abordei o assunto com delicadeza e com algum cuidado, porque sabia que iria levá-los a memórias intensas e na maioria dos casos menos boas. Pude ouvir histórias de verdadeiros heróis, aprendi imenso com as nossas conversas fiquei deslumbrada com a forma como eles se lembravam como se tivesse sido ontem dos números, dos nomes, das datas e de coisas que se passaram há mais de quarenta anos." 

A jovem considera que este livro poderá também ser importante para a comunidade de tatuadores: "acho preciso documentá-las para podermos ver a sua evolução a nível estético e técnico." 

As fotografias de Rui Caria acompanhadas pelos textos de Diana Gomes resultarão numa obra que os autores pretendem lançada até ao final do ano.

domingo, 1 de julho de 2018